Em Alagoas, durante os meses de inverno, aumenta o número de ocorrências com caravelas marinhas, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL). Os militares fazem um alerta sobre o perigo causado pelo contato com os animais e explicam as melhores medidas para evitar ou adotar durante um possível acidente.

Ao Cadaminuto, o subcomandante do Grupamento de Salvamento Aquático, Major Alexandre Barbosa, explica que todas as praias salvaguardadas pelos Guarda-vidas, neste período de inverno, têm um grande número de ocorrências.

O militar diz para os banhistas que a melhor forma de evitar o contato com esses animais é “perguntar a pessoas que conheçam a praia, quais as características e riscos que cada local oferece, ou caso tenha um posto de Guarda-Vidas, pedir informações nos postos”. Ele reforça que não é aconselhável se aproximar ou tocar nas Cnidários. Segundo ele, os banhistas não devem tocar no animal nem quando este estiver morto, para evitar ferimentos.

 

O que são as Caravelas Marinhas e por que ficam nos litorais?

 

De acordo com o biólogo e professor dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) de Penedo, Cláudio Sampaio, as Caravelas Marinhas são animais que flutuam, utilizando o vento como principal meio de transporte, fazendo uma clara referência às históricas embarcações portuguesas da época do descobrimento. Os nomes populares destes animais podem mudar ao longo do extenso litoral brasileiro, mas, em geral, eles são conhecidos como Caravelas.

Biólogo e professor Cláudio Sampaio. Foto: Cortesia/ Cláudio Sampaio

O biólogo chama atenção para a constante confusão que se estabelece entre o que seriam as Águas-vivas e as Caravelas Marinhas. Ele explica que as águas-vivas, também chamadas de medusas, são animais que vivem submersos, mais difíceis de serem observados pelos banhistas. No entanto, esses dois animais são conhecidos por causarem ferimentos semelhantes a uma queimadura quando em contato com a pele humana.

O professor Sampaio esclarece que a chegada das caravelas no litoral está relacionada aos ventos do quadrante sul e leste, que arrastam esses animais que estão flutuando longe no meio do oceano para perto das praias. “Como os ventos cobrem vastas áreas oceânicas, o número de caravelas encalhadas nas praias pode impressionar”, diz o biólogo.

 

Como são causados os ferimentos?

 

Conforme explicado pelo professor Sampaio, as Caravelas não atacam. Os ferimentos, na verdade, são causados por células únicas no mundo animal, chamadas de "Cnidócitos". “Essas células especializadas, quando acionadas pelo toque, disparam dardos com toxina que causam ferimentos e dores semelhantes a queimaduras”, pontua.

Em relação a ferimentos causados por animais já mortos ou encalhados na praia, o professor explica que isso acontece porque boa parte dos cnidócitos já foram disparados quando o animal teve contato com a areia. Por isso, não é recomendável manusear ou pisar em caravelas na praia.

Em entrevista ao Cada Minuto, o ex-atleta de natação e funcionário Público Municipal, Jailton Hortencio, de 43 anos, relata o momento no qual sofreu um acidente com uma caravela marinha durante um treino de natação na Praia da Pajuçara, em Maceió.

Jailton Hortencio. Foto: Cortesia

“Nos anos 90, eu era atleta de natação e nós alunos treinávamos na praia de Pajuçara. Foi ali que tive o primeiro contato com a caravela”, conta o ex-atleta.

Segundo Jailton, ele estava na praia, junto com sua equipe de natação, prontos para começar o treino no mar quando ele tocou na caravela durante o mergulho.

“Não sabíamos que a maré daquele dia era propícia ao aparecimento dessas caravelas. Assim que a cauda dela fez contato com meu corpo, os tentáculos ficaram grudados e neste dia não teve treino”, relembra Hortencio.

Os ferimentos de Jailton foram na perna. Ele contou que recebeu socorro do próprio professor de natação. Segundo o funcionário público, não foi necessária uma intervenção médica.

O ex-atleta de natação revela que não conhecia o risco do contato com este animal, mas que, hoje em dia, ele avisa aos outros banhistas que estes moluscos chamados de cavarelas podem liberar uma substância tóxica, gerando calafrios, febre e vômito.

 

O que fazer em caso de acidentes?

 

O CBMAL explicou como proceder após ser atingido pelos tentáculos:

-Saia da água imediatamente;

-Lave o ferimento, sem esfregar, com água salgada;

-Remova, com cuidado, os tentáculos que podem ter aderido à pele;

-Faça compressas de vinagre por cerca de 30 segundos para aliviar a dor causada pelas toxinas;

-Não se esqueça de aplicar filtro solar na área, pois ela estará mais sensível.

 

Atenção: Nunca passe água doce, xixi, sabonete ou álcool na área afetada, pois essas substâncias, em vez de conter, vão estimular a liberação do veneno que possa ainda estar retido nas células dos tentáculos.

O biólogo Cláudio Sampaio reforça que, em caso de acidente com crianças, idosos e alérgicos, deve haver atenção redobrada e recomenda-se limpar bem o ferimento, além de encaminhar a vítima a um posto de saúde mais próximo.

Fora isso, Cláudio ainda salienta que os banhistas devem prestar atenção durante o banho de mar, especialmente em dias com fortes ventos.

“Os animais podem ser pequenos, discretos e difíceis de observar, então todo cuidado é pouco e sempre que possível busque orientação com guardas-vidas, onde é mais seguro o banho de mar”, finaliza o especialista.

O CBMAL, nas praias em que possui instalações, recebe as pessoas atingidas por caravelas ou águas-viva, faz uma anamnese rápida acerca da situação e presta os primeiros socorros, que consiste inicialmente em orientar e colocar vinagre no local da queimadura.

Caso não tenha guarda-vidas próximo, o número para acionamento do CBMAL é o 193.

*Estagiária sob supervisão da editoria