Confesso que fiquei estarrecido com a declaração do presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, no Tocantins, ontem (está no G1).
Falando da longa – durou 39 dias - operação policial em que foram contabilizados 18 mortos, Lira lacrou:
"O Brasil precisa ser pacificado. E como dizia o Fraga, o que aconteceu aqui não foi uma operação policial, foi limpeza urbana. Bandido quando não é na cadeia, é no lugar onde essa operação deixou".
Imagino que os mortos na Operação Canguçu, que mobilizou centenas de policiais – 300 - de vários estados, morreram em confronto com as forças de segurança que os caçaram durante mais de um mês. O grupo, sabidamente, era muito perigoso e havia conseguido fugas espetaculares.
Quero crer que foram ações de confronto, até porque a formação de policiais no Brasil tem melhorado muito e também porque há vários presos do bando.
Só que ao se referir à “limpeza urbana”, Arthur Lira defende um modo perigoso de agir – para o Estado e para a sociedade brasileira. Naturalizar a morte violenta não é o caminho civilizatório, ainda que seja inevitável - o que acredito que tenha acontecido.
Afinal, não temos pena de morte no Brasil, e o parlamentar tem por obrigação defender os princípios da Constituição, mais até do que o brasileiro e a brasileira comuns.
Com base nessas declarações de Lira, indago: ele defende o mesmo destino para os que roubam o dinheiro público, se alimentam de propina, enriquecem assaltando os cofres da nação (ainda que não sejam alcançados pelo braço da lei)?
Se acha, que apresente uma PEC sobre o tema no Congresso.
Afinal, os corruptos e ladrões do erário, vale ressaltar, são responsáveis diretos pela morte de milhões de crianças brasileiras, pela fome e pela falta de assistência, pelo sofrimento de mulheres, idosos e pobres de todas periferias de cidades brasileiras.
Entende-se quando homem e a mulher comuns, que se sentem inseguros em todo o país, fazem esse tipo de declaração, mas não uma liderança política nacional do porte de Lira. Mesmo que isso gere aplausos para ele.
O tal do “Estado Democrático de Direito” não prevê a justiça com as próprias mãos.
(Dá para imaginar Ulysses Guimarães, que foi presidente da Câmara Federal, fazendo essa afirmação?)