Não há “desespero” na reforma de JHC. Há estratégia e contradições…

27/04/2023 14:07 - Blog do Vilar
Por redação
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O blog do jornalista Voney Malta traz uma declaração do deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT) em que o parlamentar avalia as alianças políticas que estão sendo costuradas pelo prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), com a reforma administrativa que foi feita pelo próprio chefe do Executivo municipal da capital alagoana.

Medeiros busca fazer um “ataque” a JHC e a seus aliados, o que é natural, já que é o petista um dos fiéis amigos do governador Paulo Dantas (MDB), um dos rivais do prefeito de Maceió. Todavia, erra na análise ao afirmar que JHC firma uma “aliança do desespero, com medo para não ficar isolado”.

A posição de JHC, conforme as pesquisas de intenção de votos, está longe de ser desesperadora. O prefeito de Maceió se encontra bem avaliado e é o líder das pesquisas, tendo como segundo colocado, caso as eleições fossem agora, o deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil) e o terceiro posicionado, o deputado federal Fábio Costa (Progressista). O MDB – que é do grupo de Ronaldo Medeiros – aparece lá atrás, com o nome do parlamentar federal Rafael Brito (MDB).

Portanto, o que JHC busca é a consolidação de um cenário, firmando um grupo que ainda lhe dê mais vantagens, uma vez que as alianças políticas trarão para dentro da “tropa de choque” do Executivo municipal nomes a serem indicados por Gaspar de Mendonça; Fábio Costa; o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressista), dentre outros. JHC retira potenciais rivais do cenário e usa da máquina para pavimentar sua reeleição, tendo ainda o lugar de “vice” na chapa para negociar futuramente.

É da política! Ronaldo Medeiros é experiente o suficiente para saber disso. Afinal, foi assim que o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB) costurou – passo a passo – a candidatura de Paulo Dantas (MDB) ao governo do Estado de Alagoas, iniciado ali com os acordos políticos que o levaram ao cargo de “governador-tampão”. 

A brecha que permitiu a “fabricação” de Dantas foi justamente o fato do ex-governador Renan Filho (MDB) ter tido uma gestão governamental bem avaliada, dele mesmo – o próprio Renan Filho – ter saído como favorito para disputar o Senado Federal, mas ter cometido o erro de não construir um sucessor. Então, Renan Filho dependeu das alianças para não deixar que a oposição tomasse o Palácio República dos Palmares. Na lógica de Medeiros foi também um “desespero” do MDB, sem quadro competitivo, a buscar uma solução que aglutinasse forças em torno de Dantas e permitisse que Marcelo Victor construísse a bancada que construiu dentro da Casa de Tavares Bastos?

Não, não é desespero. É o fato de que toda eleição tem suas circunstâncias e sua história. Aqueles que melhor enxergam o xadrez, melhor constroem os espaços em que reduzem os riscos e fortalecem as vantagens que possuem para a disputa. 

Marcelo Victor, foi esperto o suficiente, para logo depois de ter levado uma rasteira de Arthur Lira – no caso envolvendo o União Brasil – encontrar no MDB o espaço que favorecia a ele mesmo e a Renan Filho, ao senador Renan Calheiros e aos deputados emedebistas, no clássico fisiologismo que impera na política alagoana. 

Agora, JHC diante do cenário que se avizinha sabe que ninguém – absolutamente ninguém! – é candidato de si mesmo. Por isso, tenta consolidar um cenário ao seu favor utilizando-se da estrutura da máquina pública que tem em mãos, como fez Paulo Dantas no “repartir do Estado” para manter a ampla base que o acompanhou. 

Evidentemente que em todo casamento de “jacaré com cobra d’água” há contradições, saltos duplos camaleônicos que são visíveis aos olhos dos meros mortais. A reforma administrativa de JHC, nesse sentido, é também uma Arca de Noé a unir uma diversa fauna da política alagoana que, se concretizando, traz casos interessantes. 

Um deles é a presença de indicações por parte de Alfredo Gaspar de Mendonça no grupo. Gaspar de Mendonça tem um passado no MDB, enfrentou JHC nas eleições municipais passadas, com duras trocas de farpas entre ambos, enfim… algo muito recente. Em que pese ambos terem apoiado o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), na disputa pelo governo do Estado, ali não eram aliados diretos. Agora podem se tornar. É sim algo aparentemente contraditório.

A “aliança” com JHC ainda coloca Rodrigo Cunha e Arthur Lira no mesmo bloco, quando Cunha teve uma derrota com digitais de Lira: o senador do União Brasil não tem qualquer ascendência ou poder de decisão no partido no qual se encontra, pois o “dono” da legenda é Arthur Lira. Evidente que isso deve incomodar o senador. 

Mas determinadas contradições são superadas pelo pragmatismo e Ronaldo Medeiros sabe disso. Foi assim no MDB, é assim com JHC, é assim na política, pois – nessa luta de poder – poucos são os ricamente apaixonados por suas convicções. 

Não é desespero de JHC tentar limpar o cenário da disputa ao seu favor, eliminando adversários no tapetão por meio de alianças, e ainda tentando fortalecer as vantagens que previamente possui. 

Por sinal, se há um professor nesse jogo em Alagoas é o senador Renan Calheiros que, nas disputas pelo Senado Federal, sempre foi um exímio enxadrista na arte de tirar do xadrez as peças que poderiam ameaçá-lo eleitoralmente. Só para recordar: quando o ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna era do PT e tinha densidade eleitoral para disputar o Senado, Renan Calheiros conseguiu convencer petitas a lhe negarem a legenda e Luna acabou disputando uma vaga na Câmara dos Deputados. Com o canto da sereia, Renan Calheiros conseguiu colocar o atual vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) para disputar o Executivo estadual, tirando de cena um adversário forte, caso insistisse no Senado. 

Foi, inclusive, esse mesmo fisiologismo que fez o MDB ir até a Prefeitura de Maceió, no campo rival, para buscar Ronaldo Lessa – que era vice-prefeito – e colocá-lo como vice-governador de Dantas. Foi esse mesmo fisiologismo que fez o MDB tentar impedir que a ex-deputada estadual Jó Pereira (PSDB) fosse a vice de Rodrigo Cunha, dentro dos bastidores políticos. 

É o jogo, com suas espertezas de lado a lado. Nesse fisiologismo, caro Ronaldo Medeiros, a sensação é uma já descrita pelo escritor George Orwell em A Revolução dos Bichos: todos os animais são iguais, mas uns mais iguais que os outros. JHC constrói sua estratégia ao sabor das contradições que se dissolvem no tempo para quem tem pouca memória. Afinal, estratégias semelhantes também já fizeram muitos esquecerem que Paulo Dantas foi forjado no baixo-clero do nosso Legislativo…

Não digo com isso que a reforma de JHC é boa ou má, para mim traz igual componente fisiológico, como já dito, disfarçado cinicamente de critérios técnicos. Mas quem nunca entre os caciques alagoanos…

Para Ronaldo Medeiros, eles descobriram, contra tudo que defendiam, ''que tem que fazer grupo e tem que ser na política''. 

Vários órgãos do município vão ser distribuídos - e ocupados - por indicados de Arthur Lira, Rodrigo Cunha, Jó Pereira, Galba Neto, Davi Davino, Cabo Bebeto, Pedro Vilela, entre outros.

 

 

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