Reflexões sobre a hegemonia do MDB em Alagoas

01/03/2023 14:17 - Blog do Vilar
Por redação
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Quem tem acompanhado os recentes noticiários em Alagoas, tem visto que o MDB, dentro do jogo legítimo que a democracia permite, segue conquistando prefeitos para o “ninho emedebista”. O jogo é óbvio: tendo sido o partido mais que vitorioso no processo eleitoral passado, o MDB traça o seu projeto para 2024 e 2026, elegendo primeiro o maior número de gestores municipais possível e, na sequência, preparando o colchão para prolongar a sua “Era” no Executivo estadual.

 

São vários os fatores que contribuíram para a hegemonia do MDB. De um lado, a competência – para o bem e para o mal – dos caciques ilustres do partido, incluindo aí o ex-governador, senador eleito e atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), e o senador e enxadrista-mor Renan Calheiros (MDB). Nesse xadrez, aliados ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, Marcelo Victor (MDB) – que tem como convicção única a permanência no poder e ampliação de seus domínios – os emedebistas souberam aproveitar o vácuo de lideranças em Alagoas, ao ponto de fazer um deputado estadual que pouco tinha relevância no parlamento em governador do Estado: Paulo Dantas (MDB). 

 

Tudo dentro do jogo eleitoral. Outro fator foi a oposição – ou as oposições – terem facilitado demasiadamente a vida dos caciques do MDB. Em uma disputa com o clima polarizado, o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) – que tentou ser governador – conseguia, em muitos momentos da campanha passada, ser um opositor a si mesmo, ficando em cima do muro, não conseguindo desconstruir o discurso da máquina pública que enfrentava, que tinha sim trabalho a mostrar em que pese os escândalos envolvendo Paulo Dantas. Aliás, foi o escândalo envolvendo Dantas que evitou uma “lapada” maior em Cunha.

 

O ex-prefeito Rui Palmeira (PSD), que também disputou o governo, mostrou em pouco tempo o quão opositor ao MDB era. Afinal, é o mesmo Palmeira que esteve unido com o MDB em uma disputa municipal em passado recente. O ex-senador Fernando Collor de Mello (PTB) até tentou buscar uma identidade. Mas, o camaleônico Collor sofria com a rejeição prévia, ainda que tenha crescido dentro de uma direita, mas sem grupo, sem estrutura, com parcos recursos. Os adversários eram frágeis, mas o MDB – em que pese ter tido um candidato frágil – tinha uma estrutura forte. 

 

Agora, o nome que se consolida como “cabeça” de uma oposição para disputas futuras é o prefeito de Maceió João Henrique Caldas, o JHC (PL). Todavia, o especialista em marketing e na divulgação de seus feitos é também um exímio agente da arte do “ciscar pra fora”. Exemplo: com a possibilidade de uma reforma administrativa nas mãos para atrair aliados políticos, JHC patina nesta seara. O prefeito de Maceió é um forte candidato à reeleição, mas – ainda que consiga se reeleger – para um futuro além disso, ninguém consegue ser candidato de si mesmo.

 

O MDB, que nada tem a ver com uma oposição perdida, faz o seu papel: construir a sua hegemonia com o máximo de prefeitos que puder. É do jogo, repito. E digo mais: o único problema, do jeito que a coisa vai, que o MDB pode vir a ter é a disputa interna dentro da própria legenda, já que o Boing calheirista vai tendo mais cacique para sentar na janela do que propriamente índios. Todavia, o MDB tem uma máquina pública na mão que é uma verdadeira sereia a cantar e encantar. Não por acaso, dentro da Casa de Tavares Bastos, um dos principais emedebistas já foi um dos grandes opositores a Renan Filho: o deputado estadual Bruno Toledo (MDB).

 

Nunca foi tão fácil, em Alagoas, construir uma hegemonia. Afinal, o maior cacique que se encontra no corner oposto – o deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas) – padece dos mesmos vícios fisiológicos calheiristas, mas sem a mesma habilidade política que tem na Câmara quando o assunto é o cenário local. É que nessa partida de peões, reis e rainhas, são todos iguais, mas como já diria George Orwell: uns são mais iguais que os outros. 

 

É válido ainda frisar que, nesse campo de disputas para a construção de uma hegemonia, o senador Renan Calheiros é mestre. Não há nada de ilegítimo nessas ações do MDB que tem atraído prefeitos e ciscado para dentro. Porém, é necessário dizer que, qualquer hegemonia – seja ela azul, vermelha, emedebista, lirista, marcelovitista, ou jhceista, nunca é boa para uma democracia. Afinal, democracia exige lados. 

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