Em O pecado original da República, o historiador e pensador brasileiro José Murilo de Carvalho aponta o que ele considera “os pecados capitais” do Brasil, que nos impedem de avançar socialmente e mantêm a desigualdade escandalosa que nos caracteriza como nação.
Está lá:
“O quarto pecado é o patrimonialismo, isto é, a relação entre a sociedade e o Estado, em que o bem público é apropriado privadamente”.
Sendo mais objetivo: a mistura entre o público e o privado em benefício de algumas famílias brasileiras.
Outros autores, não menos importantes, chamam o patrimonialismo de “câncer” nacional, numa definição dura, porém realista.
Foi o que assistimos, aqui em Alagoas, no final do ano passado, com a ascensão da ex-primeira-dama Renata Calheiros ao cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas.
Um deboche com o povo pobre, com a população mais faminta do país: a de Alagoas, com 36,7% dos habitantes sofrendo desse mal que nos parece insanável.
Fiquei muito decepcionado ao saber que o ex-governador do Piauí, agora ministro de Lula, Welington Dias, seguiu o mesmo caminho – fez da esposa conselheira do TC do seu estado. O que vai sendo replicado pelo ex-governador da Bahia, agora também ministro, Rui Costa, que vai emplacar sua esposa como conselheira “de faz de conta” baiano.
Uma tristeza, nanismo moral e político.
É uma pena que alguns dos melhores quadros da política nacional, como os citados agora, não consigam resistir a uma sinecura.
Cá para nós, essa é também uma questão de caráter.