No final do ano passado, na disputa pelos espaços no governo Lula, o senador Renan Calheiros (MDB) e o deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressista) se confrontaram. 

Lira queria garantir a reeleição para presidente da Câmara; já Calheiros não queria que o principal rival político em solo alagoano ganhasse o destaque que estava ganhando em função da aproximação com o Partido dos Trabalhadores.

Mas, como não são convicções sólidas que movem tais raposas desta fauna política, eis que o senador eleito e ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), começa a acenar par um possível “entendimento” entre o grupo dos emedebistas e o deputado federal Arthur Lira. 

Com o discurso de deixar as diferenças de lado e “pensar mais em Alagoas” (ah, o discurso!), se tenta abrir espaço para uma aproximação depois de eleições estaduais tão acirradas e com acusações trocadas de lado a lado.

O que não faltam em Alagoas são figuras camaleônicas sempre prontas para deixar o passado de lado em razão de interesses maiores, o que não significa dizer que sejam necessariamente interesses virtuosos. 

Arthur Lira, por exemplo, que era um dos defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já foi para as redes sociais dar “salvas de caracteres” ao resgate da democracia, moldando o seu discurso ao gosto lulopetista. 

Nesse balaio de acontecimentos, Hamlet perceberia facilmente que não é só na Dinamarca em que o reino possui algo de questionável. Em Alagoas, por exemplo, entre o céu e a terra fisiológica pode haver mais acordos do que haverá de suspeitar nossa vã filosofia. 

Em jogo, nas conversas que os nossos bravos caciques terão daqui para frente, estarão as conjunturas vindouras, incluindo uma eleição municipal e uma estadual em que há interesses divergentes, mas em que as circunstâncias desenhadas no xadrez podem criar conversões. Afinal, o deputado federal Arthur Lira tem o desejo de alçar voos maiores em futuros próximos e mira no Senado Federal. O ano próximo – 2024 – é hora de construir bases e lideranças para isso. Ou seja: fazer prefeitos. 

Já os emedebistas, quase hegemônicos em Alagoas, também trabalham as suas perpetuações no poder. O governador Paulo Dantas (MDB) – que não pode mais disputar a reeleição – é só um Executivo de passagem. Obviamente, os Calheiros não cometerão o erro de não ter um nome da “cozinha” para a sucessão. 

Não havendo diferenças programáticas entre os fisiologismos da oposição e da situação, nem entre as práticas de “abocanhamento” de nacos de poder, é óbvio compreender que dois bicudos não se beijam, mas por que se espantar se, em nome de interesses maiores, os bicos forem postos um pouco de lado para que eles se abracem. 

E como para todo balão de ensaio há um primeiro passo em laboratório, eis a declaração do ministro Renan Filho, concedida ao jornalista Edivaldo Júnior (Gazetaweb), ao falar de Arthur Lira: “Conversei com o Arthur Lira e disse a ele que precisamos deixar de lado as diferenças, nesse momento que começa um novo governo, por Alagoas. Foi uma boa conversa. Ele demonstrou que também está disposto a trabalhar numa pauta comum dentro dos interesses do Estado”.

Quanta nobreza do nosso ministro. Não se enganem, minha gente, ele está sendo completamente altruísta e pensando apenas em nosso Estado ao colocar as diferenças de lado. Afinal, quem ousaria pensar o contrário…