Um dos principais aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), o senador Renan Calheiros (MDB), tem se posicionado como um ferrenho crítico da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Estouro, que permitira a Lula furar o teto de gastos para assegurar o pagamento dos R$ 600 do Auxílio Brasil no próximo ano.

Calheiros tem dito, nas entrevistas, que ao apresentar e insistir na PEC do Estouro, a equipe de transição oculta o fato deste não ser o único caminho. Nos bastidores, a informação é de que Renan Calheiros teme que a aproximação entre Lula e o chamado “Centrão” fortaleça o seu principal rival político em Alagoas: o presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Arthur Lira (Progressistas). 

O senador alagoano tem trabalhado para afastar Lula do Centrão e, ao mesmo tempo, encontrar outra solução que não seja a PEC do Estouro. Em recente entrevista a Globo News, Renan Calheiros voltou a criticar a “principal solução” da equipe de transição da qual faz parte: “Eu acho que nós tivemos equívocos. O que se recomenda como encaminhamento para um governo que se elegeu numa eleição tóxica, cheia de ensinamentos, é que se construa em primeiro lugar uma maioria congressual, com ela se eleja os presidentes das duas Casas, e depois surpreenda, com os partidos aliados a partir dos compromissos da campanha eleitoral, uma pauta que pode ser priorizada. Nós tivemos uma inversão dessa ordem”, colocou Calheiros.

Renan Calheiros segue: “O novo governo tentou começar pela discussão da PEC e ocultou o fato de que a PEC, repito, não é caminho único”.

De acordo com Calheiros, o fato de Lula ter recorrido ao Centrão, antes mesmo de tomar posse, foi igualmente um erro. “Isso é muito ruim, manter essas estruturas ilegais, inconstitucionais de poder. Eu, toda vez que falo disso, eu lembro de um ditado que é muito usado na Espanha: ‘cria corvos e eles comerão seus olhos’. Nós estamos diante dessa realidade. O Centrão sempre faz a mesma coisa. Fez no final do governo da presidente Dilma, fez no governo do Michel [Temer], a partir do momento em que chegaram os pedidos de impeachment, e fez no governo do Jair Bolsonaro. Primeiro ele [o Centrão] elege os presidentes das Casas, depois ele começa a receber os pedidos de impeachment e tomam os governos. Não dá pra criar uma serpente no nosso quintal”, pontuou Calheiros.