Dantas tem um desafio político: aglutinar “forças políticas” no Executivo

14/11/2022 12:20 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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O governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), tem um imenso desafio pela frente ao montar a sua futura gestão do Executivo estadual, pelo que se observa nos textos que saem na imprensa e já retratam o possível “inchaço” da máquina pública para aglutinar todas as forças políticas que deram sustentação ao chefe do Executivo não apenas no pleito eleitoral, mas durante todo o processo de fabricação de sua candidatura desde que fizeram dele o “tampão” de Alagoas.

 

Nessa fauna diversa, cabe todo tipo de animal político: dos vitoriosos aos derrotados.

 

O primeiro mandato de Dantas não teve identidade própria, até porque o governador-tampão sequer teve tempo para isso. Dantas foi a “coroa necessária” de um amálgama que envolveu o acordo político entre o MDB dos Calheiros (o ex-governador eleito Renan Filho e o senador Renan Calheiros) e parte da Assembleia Legislativa, que é liderada pelo fisiológico deputado estadual e presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB).

 

Não por acaso, todas as indicações de secretariado – nessa primeira gestão – passaram por várias mãos, mantendo, além dos componentes políticos, os nomes que deram sustentação e credibilidade as ações do governo de Renan Filho.  Entre esses, o competentíssimo secretário da Fazenda, George Santoro. 

 

Dantas só precisou incorporar as lições de marketing-político e de comunicação o mesmo tempo em que foi a pessoa certa, na hora certa e no local certo. Ou seja: não ser o poste que se rebela e acaba indo para o meio da pista causar algum acidente. Nisso, o governador Paulo Dantas foi competente e contou com a ajuda de uma oposição “xoxa, capenga, manca, raquítica, frágil e inconsistente”. 

 

Então, há sim uma competência de Paulo Dantas em compreender as circunstâncias e se sustentar com o que deu certo. Nesse contexto, isso é inegável. Ele soube ser o tampão. Não é culpa dele se os demais candidatos do pleito não souberam ser seus adversários.

 

Reeleito, Dantas se estrutura para uma etapa diferente. É natural que agora ele seja cobrado por sua marca. A gestão precisa ser o Executivo de Paulo Dantas, ainda que – o que é naturalíssimo da política – componha com aliados políticos, entregando a esses “nacos” do poder, construindo a governabilidade e operacionalizando planos de ação que possuem, evidentemente, critérios técnicos, mas também políticos. 

 

Ou seja: o problema não é agregar com os campos políticos que lhe deram apoio. Não! Agregar é até um passo correto da política. A questão é que dimensão isso terá diante de um governador que ainda não provou ter autonomia. 

 

Antes, Dantas era o aliado do grupo político que queria o governo e necessitava de sua candidatura. Agora, ele é o governador que possui nesse grupo políticos aliados que devem dar sustentação e norte a um projeto cuja assinatura principal, a identidade visível, é de Dantas. Há uma diferença grande. É esperado que o governador entenda tal diferença. 

 

Afinal, a depender da forma como Paulo Dantas escolha inchar a máquina pública para compor seus quadros pode ele mesmo vir a se tornar um refém de uma regra básica da política: não se nomeia aquele que não pode ser exonerado.

 

Pelo que li na imprensa, Dantas já prometeu criar mais duas secretarias. Agora, já é falado em quatro novas pastas. O diálogo do governador eleito com a Assembleia Legislativa, com os aliados, impondo limites às ambições alheias que enxergam no próprio Dantas um devedor, vai impactar e muito na autonomia necessária a um governador que prometeu a seus eleitores um caminho: “daqui para melhor”. 

 

A reforma administrativa prometida por Paulo Dantas não pode se resumir a um segundo amálgama para um governo sem unidade, mas feito de retalhos políticos para atenderem as razões pelas quais tivemos um governo-tampão. 

 

Inclusive, bons quadros técnicos herdados é algo que Paulo Dantas possui para fazer uma boa gestão. Aliados que podem indicar nomes competentes é algo também possível. Equacionar interesses políticos e técnicos; equilibrar a balança para entender a harmonia e a independência dos poderes; saber que uma reforma administrativa precisa ter limites; que o Estado precisa pensar o seu tamanho conforme as necessidades e seu próprio orçamento, para não haver desperdício de recursos com atividades-meio prejudicando as atividades-fim; manter programas sociais exitosos e poder criar o que lhe dê sua própria identidade como gestor são desafios para o futuro governador. 

 

Essa lição inclusive foi dada – na história – pelo próprio “mentor” de Dantas: o ex-governador Renan Filho, quando construiu sua trajetória com marca própria, não sendo apenas o rebento do “tentaculoso” Renan Calheiros. Isto trouxe ao governo de Renan Filho méritos, cabendo aí a gestão fiscal do atual governo que merece elogios, bem como os números alcançados pela segurança pública. 

 

Em resumo: o segundo governo de Dantas não pode ter cordão umbilical.

 

Critiquei Dantas várias vezes aqui nesse espaço, assim como critiquei a insipidez e a inodoridade do senador Rodrigo Cunha (União Brasil): o apaixonado por um muro político que é incapaz de convencer alguém de que possui alguma convicação firme sobre seja lá o que for. Todavia, independente de críticas, torço para que a gestão de Paulo Dantas dê certo. Afinal, é o futuro de Alagoas que se encontra em jogo. 

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