Operação Edema:  o lema dos apoiadores de Dantas de que “a verdade venceu” despreza o que precisa ser explicado

27/10/2022 13:30 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
Image

Se o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB) é culpado ou não das acusações que lhe são feitas, por meio de um inquérito da Polícia Federal, é algo que só a Justiça poderá afirmar no decorrer do processo. 

 

Se a Operação Edema foi deflagrada por influência política, eis algo também que Dantas tem todo o direito de argumentar em sua defesa e, caso prove, pesará a seu favor... Porém, são desdobramentos que ficarão para depois da eleição.

 

Agora, o lema utilizado pelos diversos apoiadores de Dantas, de que “a verdade venceu”, pelo fato dele ter sido reconduzido ao cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) é uma bobagem. 

 

Eis aí algo que não se sustenta e não passa de mera narrativa política, que visa diminuir os possíveis danos político-eleitorais que ter sido afastado possa ter lhe rendido nesse processo eleitoral. Afinal, se há algo ainda distante é a verdade plena diante de tantas informações manipuladas tanto pelo grupo político de Paulo Dantas (MDB) quanto do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), neste segundo turno em que eles se confrontam.

 

Cunha viu na operação federal a chance de reabilitação na busca por convertimento de votos. É fato que a ação da Polícia Federal deu novo ânimo à campanha do senador do União Brasil. Neste momento, Paulo Dantas foi ao corner pela primeira vez e ficou na posição de defesa, pois até então estava no jogo eleitoral de forma bastante confortável e apoiando seu governo-tampão nos feitos do passado. 

 

Com “meias-verdades”, Dantas também tinha conseguido colocar Cunha em uma posição desconfortável diante da suspensão das cestas básicas, ainda que – na realidade – estas tenham sido suspensas porque o próprio Executivo de Dantas não conseguiu demonstrar a regularidade do programa Pacto Contra a Fome, como mostra a decisão judicial.

 

Num embate político, infelizmente, o que há de mais comum são as “meias-verdades” e as “mentiras completas”...

 

É por essa razão que não foi a “verdade que venceu” diante da recondução de Paulo Dantas ao cargo de governador. Em que pese a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ter sim uma lógica, gostem ou não, pois o afastamento era uma medida que cabia a discussão jurídica, a recondução de Dantas ao posto de chefe do Executivo não afirma que ele é inocente das acusações que recaem sobre ele. 

 

Os indícios do esquema de corrupção envolvendo funcionários fantasmas e a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas seguem no inquérito. E é válido ressaltar: ainda que a Operação Edema tenha sido precipitada ou tenha tido conotação política, é necessário separar as coisas, pois a investigação não nasceu nela, mas teve a Edema como desdobramentos. Não é possível – por mais que Paulo Dantas queira – ignorar imagens, relatórios, delação e até vídeos, que mostram até dinheiro caindo no chão.

 

Não se pode ignorar os cartões de débito nas mãos de assessores, muito menos os saques de dinheiro acompanhados nas agências da Caixa Econômica Federal (CEF), dentre outras questões que transformaram essa campanha numa verdadeira baixaria. A investigação da Polícia Federal não é uma farsa, pois ela mesma se substancia em indícios. Evidentemente, indícios são elementos que servem para montar uma história que nem sempre pode ser a real. Daí, o governador Paulo Dantas ter sido o direito total à ampla defesa. 

 

Todavia, como homem público, precisa também dar – feito “a mulher de César” – satisfações à sociedade. Até aqui, Dantas tenta preencher lacunas dessa história com explicações sobre as compras dos imóveis e sua posição no setor produtivo privado alagoano. Mas quem ordenava os saques? Os assessores quem eram? Qual a ligação de Dantas com os demais envolvidos e citados? Nomes apareceram e Dantas ignora esses nomes em que pese a proximidade histórica com eles.

 

Não digo isso por conta de uma eleição. Claro que não! 

 

Afinal, como demonstram as pesquisas de intenção de votos, o governador tem grandes chances de ser reeleito. Porém, o próximo dia 30 de outubro, ainda que traga uma vitória de Paulo Dantas, não pode ser uma borracha a apagar tais acontecimentos. É que esses não foram escritos com lápis, mas sim com fartos registros fotográficos que montam uma trama.

 

Dantas voltou a chefiar o Executivo, mas diferente do que dizem os “dantistas”, não foi a verdade que venceu, mas sim um argumento jurídico que é até plausível, já que estamos longe ainda de apreciar o julgamento do mérito das acusações contra o governador. A verdade se encontra no mérito e, até o presente momento, este não foi enfrentado pelo governador do MDB, nem por seus aliados que encabeçaram a narrativa palaciana. 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..