Sobre a pesquisa: número de indecisos, impacto de denúncias e a boa análise de Ricardo Wanderley

14/10/2022 13:40 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Como sempre tenho dito quando comento pesquisas eleitorais aqui neste blog, reitero: não brigo com os números que são apresentados, mas apenas traço comentários analíticos a partir deles, levando em consideração duas coisas: 1) os dados são recortes de um momento da campanha que, evidentemente, pode sofrer alterações e 2) o que este “momento de campanha” pode revelar.

 

Dito isso, eis que mais uma pesquisa foi divulgada pelo Portal CadaMinuto, nesta sexta-feira, dia 14. Desta vez, o levantamento foi realizado pela Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes). 

 

Os números trazidos pela Fundepes são factíveis, sobretudo diante do quadro relevado no primeiro turno em que o governador-tampão afastado Paulo Dantas (MDB) saiu vitorioso e com uma ampla vantagem sobre o senador Rodrigo Cunha (União Brasil). Do lado do emedebista, pouco mais de 46% dos votos. Do lado do senador do União Brasil, pouco mais de 26%. 

 

Diante disso, não é de se espantar que, na pesquisa estimulada, Paulo Dantas tenha – agora no segundo turno – 46,74% das intenções de votos. O emedebista larga, nessa segunda fase do processo eleitoral, tendo consolidado o seu eleitorado. Algo perfeitamente normal para quem tem a máquina pública ao seu lado, o maior número de prefeitos, alianças políticas e o apoio direto de presidenciável que tem a sua capilaridade eleitoral considerável em Alagoas: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT).

 

Só um “desastre” na campanha de Dantas, logo após o primeiro turno, justificaria algo diferente. Tal “desastre”, naquele momento, não houve.

 

Já Rodrigo Cunha fica com 30,73% das intenções de votos. O percentual de Cunha mostra que ele conseguiu avançar – ainda que menos que o desejado por sua campanha – junto aos votos dos rivais derrotados no primeiro turno. Natural. Agora, os eleitores derrotados avaliam quem é o “menos ruim” e se dividem. Todavia, a campanha de Cunha tem um imenso desafio: conseguir meios de ir além sem perder o que consolidou. 

 

A tarefa de Rodrigo Cunha é buscar o eleitor indeciso (ou aqueles que não quiseram responder a pesquisa). Esse percentual é relativamente alto: 13,63%. Além disso, se mostrar uma opção viável para os que pensam em votar nulo ou branco (8,94%). Todavia, diante da impossibilidade de conversão total desses públicos, ainda é necessário “roubar” votos de Paulo Dantas.

 

Essa é a razão pela qual a campanha de Dantas – mesmo diante da vantagem – não pode se sentir confortável, pois o pleito virou cenário de guerra, ainda mais diante dos mais recentes fatos que atingiram em cheio o governador-tampão afastado. 

 

Quanto mais tempo afastado do cargo, mais Dantas precisa de uma “narrativa” que explique sua situação, pois o emedebista é acusado de chefiar uma organização que supostamente teria praticado “rachadinhas” por meio de funcionários fantasmas e que resultaram na compra de imóveis de luxo para ele e para a esposa, a prefeita de Batalha, Marina Dantas (MDB).

 

A narrativa escolhida por Paulo Dantas é de que tem sido “perseguido” pela Polícia Federal, que – por sua vez – sofre a influência do deputado federal Arthur Lira (Progressistas), por esse ser o presidente da Câmara dos Deputados e principal apoiador de Rodrigo Cunha. Os aliados de Dantas até “pintaram” a ministra Laurita Vaz como “bolsonarista”, atribuindo os contornos da suposta perseguição ao fato de Dantas ser apoiador de Lula.

 

A narrativa teria até mais sustentação caso a decisão de Laurita Vaz tivesse sido revertida pelo STJ. Porém, a maioria dos demais ministros não só mantiveram o afastamento, como falaram da robustez das evidências das acusações contra Dantas e ainda ressaltaram a honradez da ministra. Até os que votaram contra a decisão de Laurita Vaz saíram em defesa dela. Fica difícil para Dantas sustentar uma narrativa de um complô que envolveria a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Superior Tribunal de Justiça e até uma confissão feita por um dos investigados antes mesmo de Dantas ser candidato.

 

É claro que nada disso significa que Dantas seja culpado. Afinal, como qualquer cidadão, ele deve ter garantido o amplo direito de defesa. Agora, Dantas tem a opção de se defender dos detalhes das denúncias que começam a surgir e são preocupantes ou seguir se firmando como “vítima de um complô”. O marketing político de Dantas haverá de definir qual acha o melhor caminho. Afinal, uma narrativa também move paixões. Agora, a escolha pela narrativa é se omitir diante de algo que é fato: a denúncia é robusta em seus indícios. 

 

Rodrigo Cunha, por sua vez, vai explorar tais fatos a exaustão. Afinal, caiu em seu colo uma “bala de prata” em uma eleição que se encontrava “morna”. O inquérito contra Dantas reabilita Cunha nesse ringue, mas não sabemos se o suficiente para mudar o retrato de momento trazido pela Fundepes nesta sexta-feira, dia 14.

 

E é aí que entra a boa observação do diretor da Fundepes, Ricardo Wanderley. Em suas poucas declarações, ele observa os números com bastante honestidade intelectual, inclusive – conforme matéria divulgada pelo CadaMinuto – deixando claro para o leitor que os números apresentados são anteriores a um fato que pode ter impacto significativo no rumo da campanha pela forma como será abordado por Dantas e Cunha, já que nenhum dos dois poderá fugir dessa discussão. 

Ele mostra que o conforto de Paulo Dantas, nas intenções de votos, se deu por consolidar o eleitorado que teve no primeiro turno e por – na migração dos votos dos derrotados – Cunha não ter conseguido fazer uma captação massiva de outros eleitores. 

 

Do eleitorado de Fernando Collor de Mello (PTB), o senador Rodrigo Cunha obteve cerca da metade. Porém, o eleitorado de Rui Palmeira foi mais dividido de forma a não projetar Cunha no sentido de diminuir a diferença para o concorrente. 

 

Há explicações para isso? Sim! 

 

A campanha de Rodrigo Cunha cometeu erros de estratégias de marketing, inclusive demorando a tomar posições, assumir posturas e – em alguns momentos – até trazendo para si os rótulos que foram colocados por adversários políticos. 

 

Rodrigo Cunha parece esquecer da tarefa de empolgar o eleitor, pois campanha também envolve paixão. Tais lições ele poderia tomar com sua vice – a deputada estadual Jó Pereira (PSDB) – que é muito mais incisiva em seus discursos ao ponto de se concordar ou discordar dela. 

 

Mas, como ressalta Ricardo Wanderley, de forma corretíssima, a meu ver, os números para os quais olhamos foram colhidos antes das ações da Polícia Federal e, por isso, não foi possível captar qual o impacto que tais fatos geram em uma campanha, nem mesmo saber se vão impactar. 

 

Por que é importante essa colocação? Ora, há aliados de Dantas – em especial, alguns políticos experientes que sabem muito bem que estão cometendo uma desonestidade intelectual – que estão associando os números da Fundepes a um dito popular de que o candidato do MDB seria “igual a massa com fermento, quanto mais bate, mais cresce”. Ora, tais números são frutos de um momento em que Dantas não enfrentava denúncias nem sequer o afastamento. 

 

É preciso aguardar!

 

Agora, uma pergunta: as denúncias, em que pesem serem escabrosas, podem não influenciar em nada, mantendo Dantas líder? Sim! Só os futuros “retratos de momento” dirão isso. 

 

Sobre a pesquisa

 

Os dados foram coletados entre os dias 5 e 8 de outubro, entrevistando 1.311 alagoanos. A pesquisa está registrada sob o número AL-03044/2022. A margem de erro é estimada é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 97,0%. 

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