Sem conseguir abrir vantagem no 1º turno, Cunha direciona discurso mirando no 2º turno

20/09/2022 12:20 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Inicialmente, repito o que já disse aqui sobre as mais recentes pesquisas eleitorais de levantamento de intenções de votos sobre a disputa pelo governo do Estado de Alagoas: é impressionante as divergências entre os institutos. O que se retira dessa reflexão? O cenário é de acirramento e não seria espanto se muitos desses levantamentos fossem contrariados pela realidade das urnas, no próximo dia 2 de outubro. 

 

É esperar para ver. 

 

Porém, como não brigo com os números, mas tento analisar o que eles mostram, eis que o segundo levantamento do IPEC mostra um cenário embolado. É fato, e é perceptível nas ruas, que o govenador-tampão Paulo Dantas (MDB) foi “fabricado” dentro de uma estratégia acertada envolvendo os caciques da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas (em especial, o deputado estadual Marcelo Victor (MDB)) e os enxadristas do ninho emedebista: o senador Renan Calheiros e o ex-governador Renan Filho (MDB), que é candidato ao Senado.

 

Com duas “máquinas públicas” tendo trabalhado ao seu favor e o marketing que o mostrou como a continuidade de uma gestão que teve seus resultados, Dantas alcançou a liderança em todas as pesquisas e se distanciou (em alguns levantamentos um pouco mais, em outros, um pouco menos) dos demais candidatos. 

 

Portanto, o governador-tampão é sim o favorito para chegar ao segundo turno, gostem ou não seus adversários. Abaixo dele, tudo é embolado, disputado e acirrado, com uma tendência de a disputa ficar entre os senadores Fernando Collor de Mello (PTB) e Rodrigo Cunha (União Brasil). Agora, Rui Palmeira (PSD) não é carta fora do baralho. Estamos em uma eleição de detalhes e os debates futuros podem servir para isso.

 

Cunha e seus marqueteiros leram bem os números do IPEC. Pelas recentes peças publicitárias do senador do União Brasil, o que se percebe – nas entrelinhas – é que a compreensão de Rodrigo Cunha é que o tempo é curto demais para se descolar totalmente de Collor e do quarto colocado: o ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira. Sendo assim, o senador do União Brasil passa a apostar em um discurso do “anticalheirismo” e tenta se vender já com foco no segundo turno: o único que seria capaz de derrotar Paulo Dantas.

 

O desafio de Cunha é o óbvio: só quem tem chances de ganhar o segundo turno é quem no segundo turno estiver.

 

Porém, por meio de sua assessoria, Cunha, em manchete gritante de release, não foca o nome de Dantas, mas sim o “projeto de poder dos Calheiros”. Porém, Rodrigo Cunha não detalha qual seria esse projeto de poder de Renan Calheiros, Renan Filho e Paulo Dantas. Seria a ampliação dos tentáculos de uma única família de posse do poder político em Alagoas?

 

Se a resposta a essa pergunta for “sim”, faz sentido: afinal, se os resultados das eleições forem totalmente favoráveis aos Calheiros, temos um aliado de Renan Pai e Renan Filho no governo, com ambos os Renans no Senado Federal. Além disso, como Dantas já é candidato à reeleição, temos a abertura – em futuro próximo – para o retorno de um Calheiros ao Executivo estadual.

 

Todavia, há um aliado de Cunha – o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB) – que tem lógica semelhante de ampliação de tentáculos familiares em uma eleição, com mãe podendo chegar ao Senado, irmão indo à Câmara dos Deputados etc. Por qual razão não seria também um projeto de poder que conta com a ajuda do senador da “nova política”? 

 

Perguntar não ofende...

 

Que o IPEC coloca Rodrigo Cunha – atualmente – como o mais próximo dos percentuais alcançados por Dantas em um segundo turno, é um fato. Mas, a própria assessoria de Cunha lembra que o segundo turno é outra eleição, diante do confronto direto, com ideias, propostas e biografias. Contra Cunha, há também o fato dele já ter sido líder de pesquisas no primeiro turno e hoje se encontrar em um cenário “embolado”. 

 

Isso por si só mostra que os números de agora não são dígitos consolidados, mas que se alteram a depender do que venha a acontecer na reta final... 

 

Mas é só Cunha que tem desafios? Claro que não! O senador Fernando Collor também enfrenta um imenso rochedo, sobretudo diante da possibilidade de ir ao segundo turno: a rejeição. Nada é insuperável em política, porém requer estratégias. Collor sabe desse desafio. Afinal, em um processo eleitoral com número de indecisos considerável, é natural que boa parte migre para o que melhor conseguir não ser rejeitado. 

 

Já Rui Palmeira tem uma capilaridade eleitoral em Maceió e na Grande Maceió. Navegaria bem em uma região metropolitana, mas teria o imenso desafio – em segundo turno – de enfrentar uma máquina pública que se enraizaria no interior do Estado, como tem feito...

 

Porém, há algo que agora serve a Cunha, a Collor, a Rui Palmeiras e, quiçá, ao próprio Dantas: para ganhar de alguém no segundo turno é preciso estar no segundo turno. É o óbvio. Como Rodrigo Cunha sentiu a pesquisa do IPEC como um sinal de ameaça, gritou de lá: “ei, me coloquem no segundo turno. É pelo bem do anticalheirismo”. Porém, se o anticalheirismo fosse suficiente em Alagoas, a fabricação de Paulo Dantas nem teria existido, mas ela existiu... E se fez, inclusive, com a benevolência de um atual aliado de Rodrigo Cunha: o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), que lá atrás – antes de Cunha existir como candidato do União Brasil – não descartava aliança com Paulo Dantas, que agora é só Paulo...sabe-se lá por qual razão...

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