Um dos pontos fortes da campanha do governador-tampão e candidato à reeleição Paulo Dantas (MDB) são os feitos da gestão de seu antecessor, o ex-governador Renan Filho (MDB), na área da Saúde em Alagoas, como a construção dos hospitais, por exemplo. No mais, nessa campanha, todo o futuro de Dantas depende do passado alheio. Foi assim que ele foi sendo fabricado. 

Desconstruir esse ponto do marketing político de Dantas, que foca em feitos da antiga gestão emedebista, tem sido um dos objetivos – ao que tudo indica – do grupo político adversário, que é encabeçado pelo senador e candidato ao governo, Rodrigo Cunha (União Brasil). Natural que assim seja. É do jogo.

Não por acaso, em relação à situação do Hospital Geral do Estado, Cunha e Dantas já trocaram farpas acusando um ao outro de cometerem “fake news”.  De um lado, Rodrigo Cunha disse que Dantas não tem falado a verdade sobre a Saúde de Alagoas. Do outro, o governador emedebista afirma que o senador utilizou de imagens antigas do Hospital Geral do Estado para criar uma falsa sensação de caos na Saúde.

Podemos estar em uma briga onde os dois possuem razão...

Em um novo capítulo dessa estratégia do grupo político do senador Rodrigo Cunha, eis que o escalado é o ex-deputado estadual Joãozinho Pereira, o atual superintendente da Codevasf e irmão da vice de Cunha: a deputada estadual Jó Pereira (PSDB). 

Joãozinho Pereira divulgou um vídeo em suas redes sociais em que acusa o governo do Estado de um débito de 10 meses nos repasses do consórcio da Saúde (Conisul). De acordo com ele, mais de R$ 15 milhões pelo governo estadual. “Contra fatos, não há argumentos. Quer resolver “Tampão”? É só pagar aos municípios. O governador tampão Paulo Dantas foi prefeito, como eu também já fui, ele sabe do que estou falando. Com Saúde não se brinca, o povo quer uma resposta”, provoca Joãozinho Pereira. 

Ele segue: “triste a situação que se encontram os serviços de saúde do nosso Estado. A saúde pede socorro! Em especial os municípios que fazem parte do CONISUL, já são 10 meses de atraso, nos repasses do consórcio de saúde. Nossa população não merece passar por tudo isso”. Joãozinho Pereira diz ainda que o consórcio pode fechar devido ao atraso dos repasses.

É relevante o que Joãozinho Pereira fala? Evidente que sim. Merece atenção do Ministério Público Estadual, inclusive. Para além da motivação da denúncia, há que se encarar o mérito do que é dito. Afinal, é recurso público que deixa de chegar na ponta. A população que acaba pagando caro por isso.

Todavia, é impressionante a demora para a revolta de Joãozinho Pereira. Afinal, 10 meses não são 10 dias. Não é interessante que somente agora o discurso de um grupo político que já esteve entre os palacianos emedebistas se torne mais flamejante, digamos assim?

Dos Pereiras críticos ao governo emedebista, só consigo mesmo lembrar de um: Jó Pereira, aquela mesma deputada que chegou a afirmar – quando o irmão Fernando Pereira virou secretário de Renan Filho – que ela “não estava no pacote”.

Mas, em tempos de eleição, até a prefeita Pauline Pereira se tornou mais afoita na crítica à gestão emedebista (papel antes que somente Jó Pereira exercia): “A saúde está um caos! Tem estrutura, mas não tem atendimentos! Ainda tem coragem de falar que é fake news, será que todos nós não convivemos com alguém que está passando ou passou por um corredor do HGE? Cirurgias cardíacas todas acumuladas! E vi o Senador Renan Calheiros em evento inaugurando um hospital do Coração na semana anterior. Como mostra o vídeo de ontem a fila de cateterismos segue no fluxo do coração sem sentimentos”.

Óbvio que há sentido na revolta dos Pereiras, pois muito do que eles dizem merece ser apurado, inclusive pelo Ministério Público Estadual, repito. Porém, determinadas questões que incomodam os Pereira hoje já foram pautas solitárias de uma única Pereira lá atrás... Vai ver que é porque tudo tem seu tempo, e o tempo de alguns tem a ver com eleição...