Disputa pelo Senado: o favorito versus o quixotesco solitário e o candidato dos candidatos

08/09/2022 12:28 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Por mais que as recentes pesquisas de intenções de votos sejam divergentes em seus números, como temos visto ao confrontar os resultados apontados pelos institutos, há um fato inegável nessas eleições: o ex-governador Renan Filho (MDB) conseguiu construir um favoritismo na disputa pelo Senado Federal; gostem alguns ou não disto, não se pode brigar com a realidade. 

 

Montado nesse favoritismo, Renan Filho soube – ao menos até aqui – não cometer um erro primário já cometido no passado: acomodar-se com os números que lhe são favoráveis. Esta acomodação, por exemplo, rendeu uma derrota amarga ao vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), quando enfrentou o senador Fernando Collor de Mello (PTB) na disputa por essa cadeira em um passado não tão distante. 

 

Não bastasse isso, a oposição não soube definir estratégias para disputar o Senado Federal. O principal rival de Renan Filho – em termos de capilaridade eleitoral – era o senador Fernando Collor de Mello, que mudou de rumo e disputa o governo estadual com grandes chances de ser um dos nomes no segundo turno. Claro: muito provavelmente, esse é um dos fatores que influenciaram Collor

 

Sem Collor na disputa, a oposição – ou as oposições – precisava (precisavam) construir um candidato do “zero”, semelhante ao que os emedebistas Marcelo Victor e Renan Filho fizeram com o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), transformando-o – com êxito político e muito marketing – em um candidato competitivo ao governo estadual. Com dificuldades de achar nomes para o desafio, a oposição – ainda que sem querer – soube ajudar a Renan Filho. 

 

O deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) surgiu na trilha do “recall” em função de sua campanha bem-feita quando disputou a Prefeitura de Maceió. Por mais que ele, ali, tenha sido derrotado, em 2020, ainda no primeiro turno, Davi Davino Filho saiu daquela disputa bem maior do que quando entrou. Todavia, esqueceu que esse recall precisava ser alimentando enquanto deputado estadual. 

 

O parlamentar estadual se encontra longe de ser um dos protagonistas da Assembleia Legislativa. Se tivesse sido, com participação mais ativa, com discursos e posições que o consolidasse, não dependeria hoje apenas de uma estratégia de marketing que tenta focar no anti-calheirismo. É fato que há o sentimento do anti-calheirismo em parcela da sociedade, mas ele não é o suficiente diante do que o governador Renan Filho consegue mostrar. 

 

Numa eleição sem nomes, Davi Davino ainda foi abraçado por dois candidatos ao governo por mais que ambos sejam rivais na disputa pelo Executivo: o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) e o senador Fernando Collor de Mello (PTB). Entretanto, as pesquisas mostram – por mais divergências que existam entre os institutos – que o impacto disso para Davi Davino Filho foi muito pouco. 

 

Do Valle

 

Do outro lado, o PROS lançou um candidato ao Senado Federal em um projeto solitário. Coronel Do Valle assume um discurso de direita, com apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). É um nome que tem alguma capilaridade nesse público, mas ainda longe de atingir uma transferência de votos que garantam a ele pelo menos dois dígitos nas pesquisas. 

 

Do Valle virou um quixotesco entre campanhas gigantes, mas sem um palanque sólido que o impulsione, já que o PROS não tem um candidato ao governo que o impulsione. Faria diferença se tivesse? Era uma tentativa.

 

Sem um governador ao seu lado, Do Valle votará nulo, como já afirmou em uma entrevista ao Canhão Podcast. No dia de ontem, presente nas manifestações pró-Bolsonaro, fez um discurso quixotesco, colocando-se como um desbravador do “bolsonarismo” em Alagoas e, sem citar nomes, chegou a classificar alguns direitistas como oportunistas. 

 

Além de Davi Davino e Do Valle, os outros candidatos ao Senado vivem na casa dos 1% das intenções de votos. 

 

Desta forma, Renan Filho segue seu caminho – sem cometer erros que já foram caros a políticos do passado, em uma eleição que é um “tiro curto” – como sempre quis, diante de uma oposição dispersa que sequer soube atacar os pontos fracos do ex-governador e escândalos reais que envolveram o seu governo, como o uso indevido do Fecoep, o envolvimento com o Consórcio Nordeste, os casos envolvendo os funcionários da Saúde, os fantasmas da vice-governadoria e por aí vai...

 

Oposições

 

Renan Filho acabou sendo um czar sem oposição sólida. 

 

Até o erro, causado por sua liderança “solitária e encastelada”, de não ter sucessor, foi resolvido sem maiores problemas pelos aliados do parlamento estadual que, como mágicos, tiraram Paulo Dantas da cartola e o fabricaram. 

Afinal, durante todos os esses anos, a oposição aos Calheiros se resumiu a ações individualizadas, que tocavam em temas importantes, mas pouco foram ouvidos pela dificuldade de reverberação.

 

Foram esses oposicionistas os deputados estaduais Cabo Bebeto (PL), Davi Maia (União Brasil), Jó Pereira (PSDB) e Bruno Toledo (MDB). 

 

Destes, Bruno Toledo ainda se rendeu aos cantos das sereias palacianas e se tornou um “neo-situacionista”, defendendo Paulo Dantas e Renan Filho.

 

 Jó Pereira emprestou seu protagonismo à ausência de posturas do senador Rodrigo Cunha. Não fosse o fato de Cunha ter uma capilaridade eleitoral maior em função da posição de senador, era possível afirmar que é uma “chapa invertida”.

 

Cabo Bebeto e Davi Maia buscam a reeleição apoiados no protagonismo que de fato tiveram. Estão corretíssimos em ir atrás deste reconhecimento por parte do eleitor. 

 

Percebam que Davi Davino Filho não se encontra entre esses nomes do parlamento. E não se encontra por escolha própria, uma vez que ele é o detentor do próprio mandato. 

 

Já Do Valle, que de fato tem um discurso alinhado à direita, não teve os mesmos holofotes durante o período que antecede pré-campanha e campanha, o que torna a luta mais difícil, quixotesca e inglória. Para completar, se encontra em um partido que pouco possui expressividade no atual contexto. 

 

Renan Filho, portanto, não conta apenas com seus acertos, mas também com os erros de uma oposição dividida. Há uma lema antigo que diz: separar para conquistar!

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