O primeiro debate: muita espuma, pouco conteúdo!

31/08/2022 13:13 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Em primeiro lugar, é importante ressaltar e elogiar a ação do Portal 7 Segundos ao promover o primeiro debate entre os candidatos ao governo do Estado de Alagoas, no dia de ontem, em Arapiraca. 

 

O Portal teve coragem para experimentar fórmulas no debate e buscar gerar conteúdo a partir de uma maior interação com internautas e segmentos da sociedade. Em minha visão, algo louvável. 

 

Todavia, o protagonismo, em um debate entre postulantes ao cargo de chefe do Executivo estadual, pertence aos candidatos. E aí, nesse ponto, o que vimos foi “muita espuma e pouco conteúdo”. Explico: é fácil traçar um diagnóstico dos problemas de Alagoas. Não por acaso, a cada sucessiva disputa pelo governo estadual retornam ao palco os índices negativos e os problemas crônicos do Estado. 

 

Logo, qualquer um dos candidatos que se mostre aptos a discutirem o diagnóstico não fazem mais do que sua obrigação e, desta forma, chovem no molhado. O problema é que os índices negativos e os problemas crônicos não podem ser apenas instrumentos de críticas, mas sim, dados expostos em meio a propostas concretas. Nesse sentido, os candidatos deram um “show” de generalismos, clichês e slogans.

 

Inclusive, muitos deles, pagando pedágios para os temas da moda.

 

Não fosse o “arranca-rabo” entre senador Fernando Collor de Mello (PTB) e o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) nada haveria a extrair de significativo da fala dos candidatos. 

 

O governador-tampão Paulo Dantas (MDB) se mostrou como um “produto ensaiado”, sem sair do tom, com uma cadência de fala digna de um programa de guia eleitoral, o emedebista se apoiou na fórmula mágica de transformar o governo de Renan Filho (MDB) em o “nosso governo”, como se a história política sempre lhe tivesse reservado, profeticamente, o lugar que ocupou por meio de um acordo que é fruto do fato dos Calheiros não terem um sucessor. 

 

Afinal, foi desta forma que Dantas – numa parceria entre o grupo de deputados estaduais liderados pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB), e o governador Renan Filho (MDB) – chegou ao poder, contando ainda com as circunstâncias que deixou Alagoas sem um vice-governador na gestão emedebista passada. Tudo que Dantas apresentou não é um governo do pronome “nós” no qual ele se encontra incluso. O governador atual parece ter dificuldades de falar de si mesmo. 

O ponto positivo de Dantas, entretanto, foi prometer a continuidade do que já se encontra concretizado, como o programa Vida Nova nas Grotas. Dantas soube aproveitar bem para incluir pontos assim em seus espaços de fala e o fez sem ser muito incomodado pelos adversários. Pode ter lucrado com isso...

 

Rui Palmeira (PSD) se apresentou por meio de seu trabalho na frente da Prefeitura de Maceió, que tem pontos positivos e negativos, mas diante do resumo do que fez também faltou a perspectiva do que fará, pois são realidades distintas. A única proposta realmente consistente de Palmeira foi apontar soluções para o fortalecimento da agricultura familiar, retomando pequenas ações como na questão da distribuição de sementes. 

 

Além disso, versou sobre os problemas do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), que – no período Renan Filho – virou um “cofre mágico” para diversas ações ainda que essas não estejam diretamente ligadas ao que é a finalidade do Fecoep. Rui Palmeira se apropriou muito bem da pauta, mas isso terá pouco impacto junto ao eleitor. 

 

Rodrigo Cunha (União Brasil) e Fernando Collor (PTB) também seguiram tônicas semelhantes de falar do passado e apontar para o futuro por meio de generalizações, com Collor relembrando fatos de sua longa carreira política e Cunha tentando emplacar ações do mandato de senador ou se apoiando em ampliações de programas da gestão do seu maior cabo eleitoral: o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), como ao falar da CNH Social, por exemplo.

 

Fora isso, o que “animou” o debate foi a briga entre Collor e Cunha, com acusações, destemperos e trocas de farpas que caberá ao eleitor julgar. Collor insistiu demais nesta tecla em todos os confrontos diretos com Rodrigo Cunha. Isto prendeu ambos em um “loop” que parecia infinito por meio de questões já expostas. Evidentemente que o embate anima torcidas, mas pouco diz ao eleitor de uma forma geral. 

 

Ao ter que dar explicações, Cunha se perdeu em alguns momentos, pois foram expostas aparentes contradições de seu discurso de “nova política”, quando tem um grupo amplo com a presença de políticos fisiológicos, como é o caso do deputado federal Arthur Lira (Progressistas).

 

Collor trouxe uma proposta concreta viável: a isenção do IPVA de motocicletas e automóveis utilizados por mototaxistas, motoristas de aplicativos, taxistas, vans de transporte público, enfim... Falou também sobre ensino profissionalizante, mas sem conseguir fechar o raciocínio. Todavia, como insistiu na disputa com Rodrigo Cunha, o próprio Collor tirou o holofote de suas próprias propostas feitas. Um erro! Há uma linha tênue entre a crítica, a alfinetada e o embate repetitivo, cansativo, improdutivo etc... 

 

Que nos próximos debates o futuro de Alagoas seja levado em conta por todos os candidatos, pois o debate de ontem foi uma longa ponte entre o diagnóstico da Alagoas atual (cada candidato fez o seu) e uma soma de clichês sobre o que precisa ser mudado (o que todos nós sabemos) sem que se tivesse, de forma mais concreta, quais são realmente os caminhos da mudança. 

 

Houve surpresas? Sim. O eleitor foi apresentado aos que menos aparecem nas coberturas midiáticas. Luciano Almeida (PRTB) mostrou ter boa oratória, mas igualmente preso a todos os generalismos. Porém, soube se portar bem entre os tidos como “grandes”. Desconfio, entretanto, que dificilmente traduzirá isso em algo que impacte nas pesquisas. 

 

Já Cícero Albuquerque (PSOL) conseguiu fugir das posturas folclóricas das candidaturas socialistas, demonstrando falas coerentes, lógicas, ainda que presas – o que é natural – às suas convicções ideológicas. Por sinal, veio de Albuquerque a melhor crítica a este fado crônico dos debates eleitorais em Alagoas. Em outras palavras, ele foi o único a lembrar que, a cada eleição, temos o mesmo diagnóstico sendo debatido, mas com pouca coisa concreta a se oferecer para resolver o problema. Claro, o discurso de Albuquerque também acabou por não trazer nada de novo também. É o que se espera do PSOL, apenas com uma melhor roupagem. 

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