Um “embate” entre o deputado estadual Inácio Loiola (MDB) e a parlamentar Jó Pereira (PSDB), em uma sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, mostrou bem o tom da disputa de “argumentos” (aspas gigantescas) entre os grupos políticos do govenador-tampão Paulo Dantas (MDB) e o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), ambos postulantes ao Executivo estadual nas eleições deste ano.

Inácio Loiola – em um discurso, no uso da tribuna, que foi de analogias ao poeta Gregório de Matos Guerra até comparações com cantora Elis Regina – citou, ainda que indiretamente, o senador Rodrigo Cunha, classificando-o como um candidato que se encastela, que não tem poder de articulação e possui dificuldades de trânsito político. 

Para Loiola, isso faria de Cunha um “solado” que não saberia virar “tenente”. 

Ou seja: na avaliação de Loiola, se Rodrigo Cunha deixar o Senado Federal e passar a ser governador, não seriacapaz de ouvir os seus aliados e comandados, encastelando-se no Palácio República dos Palmares. 

A ironia é que essa é uma crítica que opositores sempre fizeram a um rival político do senador do União Brasil no atual contexto: o ex-governador Renan Filho (MDB). 

A própria Jó Pereira, por exemplo, já classificou Renan Filho como “um líder solitário” em razão do ex-chefe do Executivo ter uma posição de “sabe tudo”, sendo incapaz de articular – em conjunto com um bloco político – a escolha de um candidato a sucedê-lo. 

A crítica de Jó Pereira ao ex-governador e hoje candidato ao Senado Federal tem sua lógica. Afinal, a escolha de Paulo Dantas para ser o candidato ao governo se deu por meio de um acordo político em que a Assembleia Legislativa teve mais peso do que Renan Filho. Basta o leitor pesquisar a recente história política de Alagoas para confirmar...

Todavia, ao afirmar que Rodrigo Cunha seria um “soldado” que não se daria bem na posição de “tenente”, Inácio Loiola levou uma invertida que fez referência a própria analogia criada por ele. 

Jó Pereira rebateu de forma enfática ao colocar que pior que um solado que não sabe virar tenente, é um soldado que é alçado ao posto de tenente, mas continua soldado. Pereira não citou o governador-tampão Paulo Dantas, mas é óbvio que falava do emedebista. 

Traduzindo as palavras da deputada estadual, o que ela pontua é o seguinte: Paulo Dantas chegou ao posto de governador-tampão pelo acordo político envolvendo os emedebistas, tendo uma candidatura “fabricada” sob a liderança do presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB). Porém, no comando do Executivo não teria – na visão de Pereira - a independência necessária ao cargo, dividindo a gestão em uma espécie de triunvirato, onde os reais tenentes são Marcelo Victor e Renan Filho. 

É o que Jó Pereira disse, ainda que não citasse nomes, pois a ironia serve justamente para que sejam lidas as entrelinhas e não as linhas. E aí, caros (as) leitores (as), desafio Jó Pereira a dizer que o sentido real de sua fala não é aquele que aqui descrevo. 

Em todo caso, esse é o teor dos “argumentos” das campanhas de Cunha e Paulo Dantas – por meio de seus aliados – ao trocarem farpas. De um lado, os rodriguistas acusam Paulo Dantas de ser um candidato fabricado cujos passos são determinados pelos emedebistas do parlamento, por Renan Filho e Renan Calheiros. Do outro, os renan-marcelo-dantistas, acusam Cunha de não ter postura definida, posição definida e de ser uma peça de marketing vazio, por ser uma suposta terceira via equidistante de todas as mazelas políticas crônicas de Alagoas, como quem quer ser um celibatário irresistível a confrontar o Moulin Rouge. 

É válido lembrar ao leitor (a) que há embates entre opostos nos quais é possível que, ao mesmo tempo, os dois lados tenham razão sobre o que falam. Bem, não sei se esse é o caso... Mas, fica a reflexão...