Ibrape/CadaMinuto: 97% dos alagoanos acreditam que existe racismo no país, mostra pesquisa

08/08/2022 11:54 - Maceió
Por Rebecca Moura*
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O Instituto Ibrape, em parceria com o CadaMinuto, saiu às ruas entre os dias 13 e 16 de julho de 2022 e entrevistou pessoas de 16 anos ou mais, perguntando se elas acham que existe racismo no Brasil. A pesquisa revela que 97% dos entrevistados acreditam que existe racismo no país. 

Foram entrevistadas 2.000 pessoas em todas as regiões de Alagoas, o intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima é de 3,0 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Segundo a pesquisa, 2% dos alagoanos acreditam que não existe racismo e 1% não soube responder ou não opinou.

Ao Cada Minuto, a vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Alagoas, Synthya Maia, avalia que Alagoas é um estado racista. Para ela, poucos alagoanos assumem a discriminação racial ou negam a gravidade do problema.

“Creio que tão importante quanto reconhecer que existe o racismo no Brasil é se autoanalisar e perceber se você, enquanto indivíduo, já produziu algum ato racista”, avalia Synthya.

Dados invisibilizados

De acordo com a advogada, o crime de racismo acontece com mais frequência do que o judiciário toma conhecimento. Os dados do Tribunal de Justiça (TJ) de Alagoas apontam que apenas uma pessoa foi julgada por esse tipo de crime e foi condenada em 2021. Entre 2019, 2020 e 2021, este foi o único caso com desfecho.

“Sabemos que os números são diários e expressivos, mas existem muitos casos de subnotificação e a insegurança no próprio judiciário faz com que esses dados se tornem invisibilizados”, denuncia.

Ela alerta que o racismo está tão estruturado na sociedade que as vítimas, além de não se sentirem à vontade para denunciar, acabam naturalizando esse tipo de conduta.

“Precisamos pensar na publicização desses casos e na correta punição como uma forma de incentivar as denúncias e promover uma sensação de segurança, de que, de fato, a lei está sendo cumprida. Além disso, precisamos que a população conte com espaços especializados de denúncia para que se sintam encorajadas e acolhidas”, diz.

Ainda conforme a advogada, denunciar os casos de racismo significa mostrar que não há espaço na nossa sociedade para discriminações raciais. “Não podemos aceitar que diariamente corpos pretos sejam hostilizados numa crença falsa de que existe uma hierarquia entre as raças”, alerta.

Como denunciar casos de racismo e de injúria racial

A vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial explica que caso o crime esteja acontecendo naquele momento, a vítima pode chamar a Polícia Militar (PM) através do número 190.  “É muito importante que a vítima tente gravar as ofensas, seja por meio de vídeo ou de uma simples gravação de voz”, orienta.

Ela explica ainda que se o crime já ocorreu, é necessário procurar a autoridade policial para registrar a ocorrência, fazendo a narração dos fatos e indicando testemunhas que presenciaram os fatos.

A advogada recomenda ainda que a importância que a vítima procure orientação jurídica para que o agressor seja processado, para manter a persecução penal e até indicar o cabimento de indenização por danos morais.

País até hoje pratica o crime

Já o professor de sociologia, Deividy Carlos, explica que diferente de outros países, o Brasil não teve uma instituição racista, mas até hoje pratica o crime. "Nós absorvemos na nossa linguagem alguns comentários racistas, sobre o cabelo, mas não existe classificação biológica, que aponta que o cabelo seja ruim ou bom”, analisa.

O professor relata uma situação, em sala de aula, onde um material de Inglês apresentava para o público infantil pessoas brancas, de cabelo claro e olhos azuis como bonitas e de boa aparência. Já as negras, com cabelos crespos, foram classificadas como feias.

Professor Deividy Carlos/ Foto: Cortesia

“Foi introduzido nas relações sociais e na cultura brasileira, o discurso de separar o que é bom e o que é ruim pela cor da pele, origem e processo”, explica o professor.

Ele destaca que a população negra chegou ao Brasil para servir de mão de obra escrava, por isso o país registra o racismo neutralizado.

“Em Alagoas, o estado tem uma relação bem particular com a população preta que veio servir por quase quatrocentos anos. A mão de obra escrava foi o que fez com que o Brasil explodisse economicamente,  no entanto, o país foi o último império a abolir a escravidão”, conta.

*Estagiária sob a supervisão da editoria 

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