Renan Calheiros: o senhor do tapetão tem os últimos dias para entrar em ação...

27/07/2022 17:26 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Desde que se licenciou de seu mandato de senador da República, deixando em seu lugar o empresário Rafael Tenório, o enxadrista-mor de Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB), tem trabalhado arduamente como comandante de um processo de desmonte de grupos políticos adversários. 

 

É novidade? Não!

 

Desde as eleições nas quais disputou a cadeira de senador, Renan Calheiros se tornou um exímio articulador do “xadrez político”, no sentido de fazer a “limpeza do terreno” ainda no tapetão. Desta forma, limita as escolhas do eleitor sabendo dos seus próprios limites (teto de votos), retira potenciais adversários de cena e configura a eleição ao seu modo.

 

Foi desta forma que, com forte influência no PT local, Renan Calheiros retirou – em um passado não tão distante – o ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna, da disputa pelo Senado Federal, quando Luna ainda tinha capital político forte. 

 

O petista teve que se contentar em disputar uma das cadeiras de deputado federal e até chegou a assumir como suplente. 

 

Da mesma forma, com a mesma lógica, Renan Calheiros – em um pleito eleitoral – convenceu o atual vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT) de disputar o governo do Estado contra o ex-governador Teotônio Vilela Filho (PSDB). Assim, tirou Lessa da disputa do Senado Federal. 

 

Na última eleição estadual, Renan Calheiros foi para a reeleição após um trabalho de articulação de bastidores que retirou o deputado federal Marx Beltrão (Progressistas) da disputa do Senado Federal, mesmo tendo garantido a Beltrão que ele teria espaço no MDB para ser candidato ao Senado na chapa calheirista. 

 

Beltrão teve que se contentar em se reeleger deputado federal. Neste mesmo pleito, Calheiros puxou o ex-deputado federal Maurício Quintella do grupo adversário, na época liderado por Rui Palmeira e Arthur Lira, e o colocou em sua chapa como candidato ao Senado. 

 

Abandonado pelo caminho, já que Renan Calheiros estava muito preocupado consigo mesmo, Quintella perdeu a eleição, mas virou secretário estadual de Infraestrutura na gestão do ex-governador Renan Filho (MDB). 

 

Ou seja: Calheiros sempre foi hábil em mover peças! Se depois as peças se perdem pelo caminho e não conseguem mais ter a mesma capilaridade eleitoral que tinham quando caíram no “canto da sereia”, aí é outra história...

 

Agora, o MDB tirou o PDT do bloco político comandado pelo deputado federal Arthur Lira (Progressistas), que tem como candidato ao governo o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), trazendo o vice-prefeito Ronaldo Lessa para ser vice do governador-tampão Paulo Dantas (MDB). Um golpe de mestre, sem dúvidas.

 

Mas, o apetite de Calheiros não vai parar por aí. Até o dia 5 de agosto, o calheirismo corre solto pelos bastidores. A investida agora é no ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD), na busca por oferecer o que for preciso para que ele desista de ser candidato ao governo e passe a apoiar o governador-tampão Paulo Dantas, o pupilo dos Calheiros. E não se engane quem acha que Renan Calheiros desistiu do PSDB. 

 

Afinal, Rodrigo Cunha pode ter dado – ainda que sem querer – algo que Renan Calheiros pode usar: o derretimento nas pesquisas de intenção de votos que, queiram ou não, serve de argumento para tentar fazer o outro acreditar que uma escolha pode ser uma barca furada. 

 

O que Dantas precisa fazer nesse xadrez político? Ser o governador burocrático dentro de um marketing político já traçado que cole nele os feitos do governo ao ponto do eleitor esquecer quem ele era na Assembleia Legislativa: um dos mais discretos entre os 27, mas que foi alçado ao Olimpo por vontade do presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB). 

 

Calheiros quer polarizar a eleição por acreditar que é o caminho mais fácil para o governador-tampão Paulo Dantas (MDB). Porém, Calheiros esquece que é preciso também combinar com o povo... E em uma eleição, os favoritos, mesmo após a limpeza do terreno, podem ser surpreendidos.

 

Ora, o atual prefeito da Barra de São Miguel, Benedito de Lira (Progressistas), se tornou o senador mais votado em uma eleição disputada contra Renan Calheiros quando ninguém apostava em Lira. Mas como Renan Calheiros tudo aprende e nada esquece, essa lição ele também tomou como animal político. Logo, o senador-enxadrista do MDB nunca trata apenas da eleição de agora...

 

É possível concordar ou discordar dos métodos de Renan Calheiros, mas jamais subestimar sua inteligência política. 

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