Ronaldo Lessa: uma biografia entre idas e vindas no grupo dos Calheiros

21/07/2022 15:34 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Os bastidores dão conta de que o atual vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT) deve assumir a vaga de “vice” do governador-tampão Paulo Dantas (MDB) na disputa pelo Executivo estadual nas eleições vindouras. 

 

Com isso, Lessa poderá romper politicamente com o atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), já que o chefe do Executivo municipal hipoteca apoio a pré-candidatura ao governo do senador Rodrigo Cunha (União Brasil). Até quando esse rompimento? Na política, nunca se sabe. Ainda mais vindo por parte de Lessa, que já foi e já voltou de tantas e tantas alianças...

 

Se sair do atual bloco político e migrar para a aliança com o MDB dos Calheiros, Lessa o faz pela busca de espaço político maior para si e para o seu grupo pedetista, já que na chapa de Cunha não teria espaço, uma vez que a vaga de vice do senador do União Brasil é preenchida pela deputada estadual Jó Pereira (PSDB) e a de candidato ao Senado Federal será do deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas). 

 

Essa tem sido, nos últimos anos, a vida de Ronaldo Lessa: se orientar pelos ventos das oportunidades, pois mesmo diante do fato de ainda ter uma capilaridade eleitoral, Lessa tornou-se apenas a maior “estrela” do PDT. Com isso, foi perdendo o protagonismo que já teve na história política de Alagoas. Assim, seu rumo é a estrutura que o partido precisa para distribuir cargos e ocupar espaços. 

 

Tudo isso fez com que Ronaldo Lessa, aquele que já ocupou o Palácio República dos Palmares e foi o timoneiro da geração de uma série de lideranças durante seus governos, preenchesse sua biografia com uma série de contradições em função das alianças firmadas desde que deixou o Executivo estadual e disputou uma eleição para o Senado (em 2006), sendo ali derrotado pelo então senador Fernando Collor de Mello (PTB).

 

Em 2006, Lessa perdeu para Collor, mas também perdeu para si mesmo, ao se observar “invencível”. 

 

De lá pra cá, Lessa já foi aliado do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), quando este comandou o Executivo, mas rompeu com Vilela logo no início por conta de o tucano ter associado o pedetista a uma “herança maldita” no início de sua gestão. 

 

Na sequência, o pedetista se aliou ao senador Renan Calheiros (MDB) em uma disputa estadual na qual levou uma “rasteira” do emedebista. 

 

Lessa era um dos favoritos na disputa pelo Senado Federal no ano de 2010, mas foi convencido por Renan Calheiros – que era candidato ao Senado – a disputar o governo do Estado contra Vilela, que ia para a reeleição. Então, assim foi Ronaldo Lessa para ser derrotado pela segunda vez e ao mesmo tempo garantir a reeleição de Calheiros. A candidatura de Lessa ao governo tornou a vida de Renan mais fácil naquele momento. 

 

Mais adiante, tentou ser prefeito, com apoio calheirista, mas desta vez a Justiça Eleitoral que o golpeou.

 

Ronaldo Lessa voltou a ter mandato eletivo ao novamente abraçar os Calheiros, em 2014, quando Renan Filho (MDB) foi eleito governador do Estado pela primeira vez. Com novos holofotes, Ronaldo Lessa fechou até aliança com um antigo rival: o ex-prefeito Rui Palmeira (PSD), quando este comandou o município de Maceió e se distanciou do calheirismo.

 

No período da gestão Renan Filho, o PDT teve espaço no Executivo com a ARSAL, mas escândalos envolvendo o indicado por Lessa tornou insustentável a permanência do PDT por lá. Derrotado na reeleição de deputado federal, Lessa ocupou a Secretaria de Agricultura do Estado, mas deixou a pasta insatisfeito, alegando não ter espaço e condição de trabalho. Rompeu com os Calheiros novamente.

 

Na eleição municipal mais recente, se afastou de vez de emedebistas e assumiu a condição de vice do atual prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB). Agora, Lessa flerta com os emedebistas mais uma vez. Lessa sabe que assim como existem os arrimos de família, ele é arrimo de partido. 

 

Sem condições para viabilizar a sua própria candidatura ao Senado Federal e, diante de um contexto no qual o ex-governador Renan Filho surge como franco favorito, Lessa pode entregar a sua capilaridade eleitoral a Dantas, em um xadrez montado, mais uma vez, por Renan Calheiros e, desta forma, apostar em um futuro naco maior de poder para o PDT.

 

O caminho de Lessa, desde que saiu do Palácio República dos Palmares, soa – por si só – como algo decidido pelas circunstâncias e totalmente distante de um passado no qual Ronaldo Lessa era um líder. Hoje, ele é só uma grife com forte capilaridade eleitoral. 

 

Como essa grife tem peso, pode – evidentemente – trazer para Paulo Dantas o que o “tampão” não tem: uma específica parte do eleitorado de Maceió, como vimos na recente pesquisa divulgada (e registrada) pelo Instituto Falpe feita entre os eleitores da capital alagoana. Uma peça a mais na fabricação politicamente inteligente de um candidato gestado na Assembleia Legislativa, mas cujo parto se deu em acordos onde o calheirismo se tornou mãe, pai e preceptor. 

 

Paralelamente, o enxadrista Renan Calheiros usa a tática de minar os blocos políticos adversários e ciscar para dentro do seu próprio grupo. Não por acaso, Calheiros largou o mandato, sem largar a função de comentarista diário das ações do presidente Jair Bolsonaro (PL), para fazer o que mais lhe apetece: configurar o tabuleiro político antes das eleições; customizar a democracia a sua maneira para que as escolhas do povo sejam apenas entre as opções que o próprio Calheiros ache viável. 

 

Se no meio do caminho, os laços que Calheiros constrói, feitos ao sabor das promessas e ambições que preenchem egos alheios, servirão de corda a enforcar, com o passar do tempo, os próprios pescoços encantados com o calheirismo, aí é assunto para o futuro. 

 

Quem já ouviu Calipso oferecer imortalidade a Odisseu, nos cantos homéricos, que o diga, quem nunca ouviu que procure conversar com o atual prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa (MDB)...

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