Com a alta do dólar e da inflação, comprar um celular novo está cada vez mais caro e muitas pessoas estão optando pela alternativa de adquirir um aparelho usado. O mercado de aparelhos usados apresentou alta de 15%, segundo levantamento realizado pela consultoria Counterpoint Research. E a América Latina registrou quase o dobro da média mundial: 29%.
Para o professor Caio Ferrari, do Ibmec RJ, o aquecimento deste mercado aconteceu pela combinação de dois fatores principais: os preços mais elevados dos smartphones em um cenário de queda na renda das pessoas.
“Além da crise dos semicondutores e do aumento do preço do níquel pra baterias, por causa da guerra na Rússia, desde o começo da pandemia o preço de eletrônicos e celulares foi altamente impactado, e o cenário atual continua contribuindo para isso. Já do ponto de vista da queda da renda, tivemos aumento do desemprego e inflação generalizada de combustível e alimentação, principalmente, que reduziram muito o poder de compra das pessoas”, explica o professor, acrescentando que “na verdade, o celular usado é um substituto do celular novo. Se o preço dele se eleva, a gente tem uma mudança dos consumidores para a alternativa mais dentro do orçamento”.
Sem previsão de mudança no cenário econômico, a busca pelos usados não deve cair tão cedo. A startup Já Vendeu, que intermedeia a venda de itens usados pela internet, inclusive, viu crescer em 250% a venda de celulares no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Cuidados antes de comprar um usado
Sérgio Rocha Lima, docente da Estácio e engenheiro de Telecomunicações, orienta os interessados em comprar um celular usado, com algumas dicas. Veja abaixo:
- Para avaliar se vale a pena comprar um celular já usado, o usuário deve saber exatamente para que vai utilizar o aparelho. E com isso entender até quantos anos atrás um aparelho pode ter sido fabricado para o nível de tecnologia satisfazê-lo.
- Além das funcionalidades oferecidas, para escolher um modelo de celular, conheça a memória e velocidade de processamento que ele tem.
- É bom saber que a bateria de um celular pode não ser mais recarregada completamente com o passar do tempo. Faça um teste de carga antes, mas também verifique se a bateria do aparelho pretendido ainda é vendida, assim como outros componentes, ou se já saíram da linha de fabricação.
- Para saber se o preço do usado é justo, faça pesquisa de mercado. Negocie e cheque se está sendo oferecida garantia.
- Aconselha-se a comprar o celular, aliás, em uma loja especializada e não de uma pessoa física, uma vez que desconhecemos a origem do aparelho assim.
Consertos também aumentaram
A demanda por consertos de aparelhos celulares também cresceu na pandemia. Na rede de franquias Senhor Smart, por exemplo, o ano de 2020 registrou um aumento de 151% nos reparos em baterias. Este é o serviço mais pedido ainda nas unidades, e custa R$ 200 em média. O ranking de serviços é formado também por troca de tela (R$ 400), troca de conector (R$ 180), reparo de sistema (R$ 150) e desoxidação (R$ 180).
“Em home office as pessoas usaram ainda mais o celular, tiveram problemas com a bateria, quebraram a tela, e foram consertar. Era a solução mais rápida para ter o aparelho funcionando, sem precisar investir, já que os preços estavam muito altos”, avalia Gustavo Adami, de 45 anos, dono de uma franquia em Santa Catarina, na qual os serviços aumentaram 15% em 2020 e continuaram estáveis no ano seguinte.
Quando vale a pena ou não o conserto é uma avaliação que deve ser feita caso a caso. Docente da Estácio e engenheiro de Telecomunicações, Sérgio Rocha Lima orienta buscar essa análise em um estabelecimento bem avaliado por clientes em páginas da internet. “Levar em uma loja especializada e de confiança é o caminho. Existem defeitos eletrônicos que não são passíveis de conserto, aí recomenda-se o descarte, ou defeitos finitos em que tem prazo de validade, ou seja, conserta-se e com o uso o defeito volta”, avisa.