Conseguir mudar as regras da eleição indireta na Justiça é aposta na “traição política”

27/04/2022 14:50 - Blog do Vilar
Por redação
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Traição! Para este vocábulo tão conhecido e comum à História da humanidade, os dicionários trazem algumas definições como “quebra da fidelidade prometida e empenhada por meio de ato pérfido; aleivosia, deslealdade, perfídia”, “à falsa fé”, “agir traiçoeiramente” e por aí vai. 

 

Na política, tal ato é sempre levado em conta e até estimulado pelas circunstâncias a depender dos contextos de disputas pelo poder.

 

Com base nisso, é possível afirmar que, diante das regras definidas pela própria Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas para a eleição indireta de governador-tampão, a traição é a única forma da oposição conseguir frustrar o plano do MDB do senador Renan Calheiros e do ex-governador Renan Filho, que é do eleger indiretamente aquele que já se comporta como governador eleito de Alagoas: o deputado estadual Paulo Dantas (MDB).

 

Dantas é o candidato “fabricado” pelo parlamento estadual desde sempre. Quando era o enxadrista-mor do processo eleitoral vindouro, o presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB), “ungiu” Paulo Dantas, que arrebatou todo o bloco da maioria do parlamento estadual, já nascendo previamente eleito. Sabedor de tais circunstâncias, Dantas virou presença nos atos governamentais, quando Renan Filho ainda se sentava na principal cadeira do Palácio República dos Palmares. Assim, participou (e ainda participa) de eventos com o discurso de quem já tem a vitória nas mãos.

 

O próprio governo do interino de Klever Loureiro é tratado como uma “fase de transição” entre Renan Filho e Paulo Dantas, haja vista alguns dos nomes dos secretariados, formando uma mescla do ontem e do amanhã que se combinam ao sabor das vontades do MDB. 

 

E as regras da eleição indireta, na Assembleia Legislativa, foram postas para isso mesmo: voto aberto e eleição de vice em separado. A primeira regra facilita a pressão sobre os deputados estaduais que terão que expor seus votos com o peso de suas futuras candidaturas à reeleição em jogo. Quem tiver a coragem de trair, assumirá o ônus de sua coragem. A segunda regra facilita os acordos, já que o vice vem depois, sem precisar construir chapa. Dantas ainda tem o tempo ao seu favor: como é curto, as demais candidaturas não possuem prazo para serem influentes.

 

O projeto de lei quando votado pela Casa, fixando as regras do processo de escolha indireta, cujos eleitores são apenas os deputados, tudo isso já estava em jogo, como muito bem saiba Marcelo Victor ao costurar as emendas a uma matéria que, inicialmente, era de autoria da deputada estadual Jó Pereira (PSDB). 

 

A oposição acorda agora para os fatos de uma eleição de cartas marcadas já planejada desde o ano passado. Com isso, ingressa – de forma legítima – na Justiça para questionar o voto aberto, o prazo, e a escolha em separado, como fez o PSB do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC.

 

Conseguirá algo com isso ou não? Difícil fazer qualquer previsão. É esperar se a Justiça concederá ou não liminar nesse sentido, como foi pedido, antes de se analisar o mérito.

 

O que a oposição conquistará caso tenha êxito? 

 

Vai conceder aos parlamentares estaduais algo comum no léxico político alagoano: o direito à traição. Uma reversão do quadro posto diminuirá, em tese, a pressão sobre os eleitores ilustres, que podem se sentir mais corajosos sem precisar encarar o ônus de mudar de posição. Afinal, por mais caciques que alguns deputados sejam, viram índios perto de caciques maiores com os quais acordos foram feitos. É a lei da selva, é a cadeia alimentar do fisiologismo.

 

Nessa discussão, o que menos interessa é o Direito em si, mas sim os argumentos necessários para atrapalhar os situacionistas que apoiam a candidatura tampão de Paulo Dantas. 

 

Porém, o tempo é curto e mesmo que se tenha vitória na Justiça, com a derrubada do voto aberto e outras regras, é muito difícil que todo o trabalho já feito nos “nove círculos” dos bastidores da política alagoana seja afetado de forma a transformar o Olimpo no qual o candidato do MDB já se encontra em um “Inferno de Dantas”, abrindo portas para a oposição ter vez nessa travessia até o Palácio República dos Palmares via parlamento. 

 

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