Eu aprendi, e felizmente há um bom tempo, que dentre as coisas importantes da vida, a política é aquela que você deve encarar com o exclusivo olhar da razão, não lhe dedicando nenhuma paixão. 

Esta, deixemos para coisas mais nobres – como a arte e a cultura, em todas as suas manifestações.

As minhas escolhas na seara da política, eu tento fazê-las sempre esquecendo antipatias ou simpatias pessoais, dispensando qualquer idolatria ou julgamento de superioridade moral. Talvez seja o mais próximo que consigo chegar do Homo sapiens sapiens idealizado.  

Mas quando me deparo com a posição de Heloísa Helena, na campanha eleitoral deste ano, busco a compreensão de que nem sempre é possível agir só com a razão, mesmo neste, repito, importante, diverso  e inevitável enredo do teatro dos homens.

Para a ampla maioria dos que vivem na e da política, filhos, irmãos, mãe, pai, mulher, marido, e principalmente amigos, não contam na hora de tomar uma decisão. Suas dores viram pó, celeremente, se o que está em jogo é o poder ou a iminência do poder.

HH sofreu muito, e como mulher, nos seus embates com os petistas e seus aliados do poder – não sei se o próprio Lula participou dos ataques a ela, que tiveram reflexos diretos e devastadores na sua família. Ela sabe o que passou e o que os seus tiveram de passar (há quem ache que política é assim mesmo - Heloísa, não).

Agora, com a Rede formando uma federação com o PSOL e na iminência do coletivo anunciar seu apoio ao ex-presidente Lula, a ex-senadora e ex-vereadora de Maceió, que é candidata a deputada federal no Rio de Janeiro, reafirma o seu objetivo de não votar no petista.

Para tanto, pretende invocar – internamente – a cláusula de divergência pública, para que não seja obrigada a acompanhar PSOL/Rede na campanha presidencial e, se Lula for eleito, não ter de apoiá-lo obrigatoriamente.

É difícil julgar a dor alheia, principalmente de quem tem tido um comportamento tão empático, transparente nas suas posições – questionáveis, até – e que sentiu o peso do braço dos que fazem discursos generosos em defesa das mulheres - o que vale apenas para as mulheres que não os atrapalhe nos seus projetos de vida e de poder. No mais, falar mal delas, denegri-las e humilhá-las, é um esporte praticado por muitos que se jactam das virtudes que vendem ao público.

Já a hipocrisia, lembremos, é uma dos mais bem distribuídos vícios humanos.