Em vídeo, Rodrigo Cunha critica eleição indireta na ALE e chama Paulo Dantas de “fantoche”

20/04/2022 12:42 - Blog do Vilar
Por redação
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O senador e pré-candidato ao governo do Estado de Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil), divulgou um vídeo, em suas redes sociais, em que faz duras críticas ao processo de eleição indireta da Assembleia Legislativa de Alagoas. Ele chama o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), pré-candidato ao governo com o apoio do ex-governador Renan Filho (MDB), de “fantoche”. 

 

Em geral, o início de uma pré-campanha, assim como o início de uma campanha, foca mais no próprio candidato falando de si mesmo. Os conflitos, “tretas”, e trocas de acusações são deixados – por estratégia – para um outro momento. Porém, pelo tom que Rodrigo Cunha impôs em seu vídeo, essa campanha deve ser mais acirrada que eleições passadas.

 

“Você sabia que Alagoas vai ter um novo governador nas próximas semanas e quem vai escolher o novo governador não é você?”, coloca Rodrigo Cunha. O senador faz referência à eleição indireta que ocorrerá no dia 2 de maio. 

 

Os eleitores do futuro governador-tampão serão os 27 deputados estaduais. O pleito tem quatro candidatos, mas é um jogo de cartas marcadas, já que se sabe – previamente – que Dantas tem a maioria dos votos dos colegas. Dantas será eleito o tampão e depois disputará a reeleição, por meio da eleição estadual direta. 

 

Ao falar do processo de escolha que se dará na Assembleia Legislativa, Rodrigo Cunha mostra uma imagem do momento em que Paulo Dantas registrou sua candidatura a governador-tampão. O deputado emedebista teve ao seu lado o senador Renan Calheiros (MDB), adversário político de Cunha. 

 

Rodrigo Cunha usou a imagem para classificar Paulo Dantas como um “fantoche” dos Calheiros. Ele diz que Dantas foi “escolhido” para esquentar a cadeira para o novo governador. “Tudo feito na surdina, de costas para a população em um jogo de cartas marcadas (...) A preocupação dessa gente toda é em garantir o poder”, diz ainda Cunha. 

 

Apesar de conter críticas válidas, a fala de Rodrigo Cunha traz contradições.

 

Que a eleição indireta, na Casa de Tavares Bastos, é um jogo de cartas marcadas é o óbvio. Mas, ao contrário do que Cunha diz esse jogo não se deu na surdina, mas em plena luz do dia, com todos os veículos de comunicação do Estado mostrando o passo a passo da fabricação ou construção da candidatura de Paulo Dantas, que primeiro se iniciou como um nome posto pelo presidente da Assembleia, Marcelo Victor – quando este comandava o União Brasil. 

 

Naquela época, havia até especulações de aliança entre Marcelo Victor (quando ele se achava um grande enxadrista e não saiba que seria reduzido a emedebista) e o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), que é hoje um dos aliados de Rodrigo Cunha.

 

Por conta de Marcelo Victor ter abraçado o ex-governador Renan Filho, o presidente da Assembleia Legislativa acabou levando uma rasteira de Lira, que lhe tomou o União Brasil, partido hoje no qual Rodrigo Cunha se encontra com o aval do próprio Arthur Lira. Só então, o MDB abraçou Paulo Dantas com todas as forças, já que o ex-governador Renan Filho foi incapaz de construir um sucessor para lhe dar suporte na campanha ao Senado Federal.

 

A candidatura de Dantas foi construída lentamente, com estratégia de marketing pensada dentro do parlamento estadual. Isso foi possível pelo vácuo de lideranças naturais que há em Alagoas. Paulo Dantas, inclusive, passou a ser presença constante nos eventos do governo de Renan Filho. Até as pedras sabiam que a eleição indireta era um jogo de cartas marcas, inclusive a própria oposição lançou candidaturas para marcar posição, como fizeram os deputados Davi Maia (União Brasil) e o Cabo Bebeto (PL). 

 

O jogo político se dá pela correlação de forças. E aí, é possível ter todas as críticas do mundo ao governo de Renan Filho (MDB) e a sua decisão de ser candidato ao Senado Federal, renunciando ao cargo. Porém, é direito legítimo dele. A legislação permite que alguém deixe o mandato e concorra a outro cargo.

 

Por exemplo: Rodrigo Cunha é pré-candidato ao governo do Estado de Alagoas. Caso seja eleito, ele teria abandonado o povo por deixar o Senado Federal para a suplente Eudócia Caldas, que também não foi testada pelas urnas, uma vez que ninguém vota no suplente? O que vale para Chico, vale para Francisco. 

 

Calhou apenas do ex-governador Renan Filho, por ser um líder encastelado, isolado, e professor de Deus, não ter sucessor e ainda ter conseguido se desentender com o ex-vice Luciano Barbosa de tal forma que ele (o ex-vice) viu que o melhor era ser prefeito de Arapiraca do que ficar na sombra calheirista.

 

Não tendo vice, a eleição indireta é uma previsão constitucional cuja regulação pode ser até judicializada, por conta do “voto aberto” ou das escolhas de governador-tampão e vice-tampão de forma separada. Se temos uma Assembleia Legislativa submissa, ainda que momentaneamente, ao calheirismo e ao marcelismo, aí sim: isso merece as críticas que expõe o fisiologismo histórico da política alagoana. Nisso, Cunha está certo.

 

Mas se do lado de Paulo Dantas há os caciques políticos que se perpetuam na disputa pelo poder, como é o caso do enxadrista-mor Renan Calheiros, é válido lembrar que o grupo político que dará sustentação a Rodrigo Cunha também não é um monastério. Uma simples pesquisa no Google pode comprovar biografias. Não há santos...

 

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