Eleição indireta na ALE: um jogo de cartas marcadas em que a oposição tentará marcar terreno

19/04/2022 11:00 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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A eleição indireta para governador-tampão e vice-tampão, na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, independente de se houver judicialização ou não, não passa de “um jogo de cartas marcadas” já definidas pelo presidente da Casa de Tavares Bastos, o deputado estadual Marcelo Victor (MDB). 

 

É assim desde que iniciou seu processo de “fabricação” da candidatura ao governo do também parlamentar Paulo Dantas (MDB).

 

A diferença é que, lá atrás, quando Marcelo Victor comandava o União Brasil, ele era o grande enxadrista político do processo que buscava aglutinar forças com o ex-governador e pré-candidato ao Senado Federal, Renan Filho (MDB). 

 

Nesse sentido, Marcelo Victor estabeleceu as regras do processo eleitoral indireto, no parlamento, com votação aberta não porque queria ser mais transparente, mas sim para evitar algo comum em votações secretas dentro de um legislativo: traições. Na votação aberta, há como cobrar compromissos e impor consequências. 

 

O mesmo raciocínio vale para as regras adotadas que separam a eleição do governador-tampão e vice-tampão: abrir espaços para composições fisiológicas e formações de grupos. A regra do voto aberto pode até agradar por se saber qual a posição de cada um dos membros do Legislativo quanto a matéria em pauta, mas não é isso que atraiu Marcelo Victor.

 

O voto aberto, portanto, sempre deve ser regra dentro de um parlamento. Porém, não se pode – em função disso – acreditar em duendes, fadas, Papai Noel ou nas intenções de maior transparência do Legislativo. Tudo isso é mitologia, ainda mais quando se conhece o passado do parlamento estadual. O que está em jogo é garantir, de todas as formas possíveis, que as cartas marcadas sigam marcadas!

 

Daquele contexto de antes para o de agora, a única coisa que muda é o seguinte: Marcelo Victor levou uma “rasteira” do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), e perdeu o União Brasil. Assim, ele (Marcelo Victor) se viu praticamente obrigado a ir para o MDB, para manter o bloco da maioria dos deputados unido. 

 

Outra consequência da “mudança de ventos” é que Lira, ao dar uma rasteira em Marcelo Victor, sem querer, alçou Renan Filho – que até então era um líder isolado e encastelado – à condição de maior avalista da candidatura de Dantas. 

 

O rompimento político entre Lira e Marcelo Victor acabou tendo consequências positivas para Paulo Dantas e para Renan Filho, já que antes até havia outras pretensões de majoritária dentro do próprio MDB. 

 

Agora, Paulo Dantas chega à eleição indireta não apenas como favorito, mas com uma vitória garantida que é reconhecida até mesmo pela oposição. Esta, representada nos deputados estaduais Davi Maia (União Brasil) e Cabo Bebeto (PL), sabe estar no jogo eleitoral desse momento para perder. Todavia, em um espaço que pode render vitórias futuras a depender de como se posicionem, pois Maia e Bebeto disputam eleições proporcionais esse ano.

 

O que Maia e Bebeto possuem a ganhar é o palanque para exporem suas oposições, causarem danos no grupo de situação, além de – por meio de discursos – mostrarem as falhas da gestão que Paulo Dantas terá obrigação de defender: o governo de Renan Filho. Caso saibam fazer isso, sairão no lucro, pois terão ao lado holofotes para suas vozes.

 

A possibilidade de a eleição ser judicializada é também uma ferramenta legítima da oposição na busca por desgastar a situação. O argumento jurídico existe. No mais, é do jogo. Não dá para enxergar maniqueísmos aí. 

 

Na manhã de hoje, o deputado estadual Davi Maia (União Brasil) soube aproveitar o espaço e realizou uma coletiva de imprensa. Ele expôs sua candidatura a governador-tampão ciente da derrota.

 

O que Maia busca é o contraponto ao que chamou de “continuidade de tudo que existe no governo do Estado”. 

 

“Temos posta a candidatura de um governo responsável pelo asfalto de farinha, por CISPS que não funcionam no sertão e hospitais muito bonitos por fora, mas que não funcionam por dentro”, frisou. É o discurso contra a “Era Calheiros”. Este será o tom da oposição liderada por Arthur Lira. 

 

Davi Maia ainda segue, conforme matéria da jornalista Vanessa Alencar: “O governo tampão não serve para apagar as luzes de um governo já acabado, mas para preparar para um novo governo, eleito pelo povo... Sei o quanto é legítima a candidatura do amigo Paulo Dantas, mas tenho que demonstrar que ela representa a continuidade desse governo e de todas as suas mazelas. Ninguém aguenta mais a Era Calheiros e a Assembleia vai ter que escolher entre a continuidade e a preparação para um novo governo”, pontuou.

 

Considerado um candidato independente, Cabo Bebeto foi o primeiro deputado a registrar sua candidatura e explicou que os parlamentares da Casa de Tavares Bastos conhecem sua postura e acrescentou que “muitos deputados estão insatisfeitos com o governo de Renan Filho”. 

 

Cabo Bebeto defende o enxugamento da máquina pública, a conclusão das obras públicas inacabadas, ações na área da educação, como o combate à evasão escolar, incremento da segurança pública e a promoção da valorização do servidor, pautas estas defendidas pelo parlamentar em plenário.

 

Maia e Bebeto enxergaram um vácuo que pode trazer resultados políticos. É o papel da oposição!

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