Na fábula citada, Esopo conta que Prometeu entregou ao homem dois sacos: um com os defeitos alheios, que o homem se encarregou de colocar à sua frente; o outro com os próprios defeitos do mesmo homem, e este foi atirado, por sobre os ombros, às costas.
Por óbvio, bem sabemos qual é o visto com mais frequência por cada um de nós – e o que é ignorado quase sempre.
Troque-se o conteúdo dos dois sacos e veremos com o que Renan Filho se despede do Palácio, enxergando vivamente suas boas vitórias administrativas, mas quase que inteiramente cego aos seus fracassos políticos.
Ora direis: todos são assim.
É verdade, e até por isso, quando eles se dão conta das besteiras praticadas já é tarde. Às vezes, até muito tarde.
Creio que Renan Filho tem tudo para conseguir conquistar a segunda chance de acertar, superando adiante a visão política de menino mimado com que chegou ao Palácio República dos Palmares (e dela não se desfez).
Méritos ele tem, a começar pela escolha do seu secretário da Fazenda, George Santoro, que viabilizou o governo de quase oito anos, com dinheiro em caixa – que o próprio se encarregou de encher.
As ações na Saúde e na Segurança Pública, assim como as inações na Educação, na geração de empregos e nas áreas sociais são bastante visíveis. No resumo, tornando o governado um gestor claramente eficiente, ainda que sem grande sensibilidade social (os que vieram antes dele fizeram muito pior).
No campo da atividade política, no melhor sentido, o desastre só não foi maior graças à atuação do secretário do Gabinete Civil, o cordial Fábio Farias, que conseguiu por várias vezes juntar os cacos do que Renan Filho espalhou na sua pífia atuação na arte atrair (e não separar).
Na Comunicação, tão fundamental por esses tempos – e em quaisquer tempos –, Renan Filho apostou mais na destruição dos adversários, com uma rede informal e paralela que contrariou até mesmo o titular da pasta, Ênio Lins.
Jogo jogado, a Renan Filho resta apostar, ainda que na condição de refém do grupo que vai lhe suceder, governo seguirá com algum viés técnico, investindo na paz – e não na guerra mortal – e, quem sabe, ajudando-o na eleição ao Senado.
Nem mesmo o MDB é mais o que foi – um partido da família Calheiros. Hoje, o poder na legenda está dividido com o novo dono do Palácio República dos Palmares – já antes proprietário da Assembleia -, ainda que por alguns meses (o que Marcelo Victor/Paulo Dantas pretende estender por mais quatro longos anos).
Renan Filho mira 2026, ano que projetou para o seu retorno ao governo de Alagoas. Por ora, só dá pra ele.
Mas tudo depende de agora.