Há um fato inusitado nas discussões travadas nos bastidores políticos das eleições em Alagoas. Talvez pela primeira vez surge um nome que foi cotado à condição de vice em quase todas as possíveis chapas do atual cenário: trata-se da deputada estadual Jó Pereira (MDB). 

Evidentemente que o nome de Pereira surge nas composições por já ter sido colocado como possibilidade de liderar a candidatura ao governo do Estado de Alagoas. Porém, o grupo político do qual Jó Pereira faz parte tem amarras que impedem voos maiores da deputada estadual.

O grupo dos Pereira teve na atuação da deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas a vitrine que jamais pensou em ter. Forte politicamente, com presença em diversos municípios, com a chefia de Executivos municipais, o grupo dos Pereira sempre esteve atrelado aos caciques maiores, dentre eles os Renans (Calheiros e Filho/MDB) e o deputado federal Arthur Lira (Progressistas). 

O que Jó Pereira trouxe de diferente ao grupo? É uma emedebista que confronta o governador Renan Filho por diversas vezes na Assembleia Legislativa, que construiu uma marca em seu mandato com temas relevantes, cobranças necessárias, críticas oportunas e – claro – também teve os penduricalhos ideológicos de uma vermelhidão terrível. Em todo caso, Jó Pereira fez um mandado que a consolidou como uma liderança. Reconheço isso, mesmo tendo divergências enormes com os dois pés que ela mantém em uma esquerda politicamente correta e cheia de pedágios ideológicos. 

O fato é que o nome de Jó Pereira se fez presente no jogo. Todavia, aquela que poderia ter sido apresentada, pelo próprio grupo, como pré-candidata, encontrou barreiras internas: a ausência de um partido político que a colocasse no tabuleiro do xadrez como força independente nas negociações e os interesses fisiológicos de muitos de seus aliados. O que Jó Pereira se tornou a partir daí? A vice dos sonhos!

Por qual razão “vice dos sonhos”? Bem, se algum candidato – seja o senador Rodrigo Cunha (PSDB), o ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD), etc... – traz para si a aliança com o grupo dos Pereira, com o deputado federal Arthur Lira, mas com a imagem de uma pessoa que se afasta do fisiologismo dos caciques políticos de Alagoas. Nesse sentido, o próprio grupo político de Jó Pereira utilizaria da imagem conquistada por ela para condená-la a ficar na sombra do que ela poderia ter sido. 

Outro ponto do silêncio ensurdecedor de Jó Pereira é que a fez perder o bonde. No início, o silêncio atraia questionamentos, depois especulações, depois conjecturas, depois surgiram os que falam por ela, depois o ato de sacramentar o nome dela como de uma “boa vice”. Um rótulo que parece elogio, mas sepulta as potencialidades reveladas no mandato de deputada estadual.

É que não existe candidato a vice! Jó Pereira conhece de política o suficiente para saber disso. Logo, indago-me a razão de tanto silêncio da parlamentar justamente quando seu nome mais circula pelos bastidores. 

Se o nome de Jó Pereira passa realmente a ser tão cobiçado, provavelmente é por dois motivos: 1) menos um nome no jogo eleitoral conturbado e cheio de possíveis candidatos e 2) a aliança, caso saia e Jó Pereira se concretize como vice de alguém, só é possível com o aval de Arthur Lira e a vinda de um grupo que tem peso: os Pereira. 

Agora, já que perguntar não ofende, questiono como um grupo como os Pereira, que possuem comando de prefeituras, cadeira na Assembleia e suporte para a eleição de um federal (é uma das bases fortes de Arthur Lira), até esta data não tem um partido próprio para chamar de seu e se restringe a ser contemplados por alianças que rendem secretaria estadual e outros nacos do poder sem nunca cobiçar o que é natural na política quando se tem dimensão para isso: o protagonismo. 

Não se trata de análise de mérito do que pensam os Pereira ou Jó Pereira em particular, mas de um fato: é um grupo político que despontou, ocupou espaços, tem uma parlamentar com identidade própria, mas fica ao sabor de terceiros, parece não entrar no xadrez político para negociar com o capital que possui.

Quanto ao silêncio de Jó Pereira, caso seja estratégico, sou capaz de apostar que se faz por respeito ao seu grupo, para não trazer circunstâncias que poderiam atrapalhar negociações em andamento, etc., mas não porque sinta-se cômoda nas especulações de vice de A, B, C ou D. Todavia, quanto mais silencia, mas Jó Pereira vai se tornando vice mesmo. E quanto mais se torna vice, mais renuncia à atuação política que lhe cacifou a estar cotada para as majoritárias.

Afinal, até quem antes a enxergava como candidata, vai aprendendo a olhar para ela como a peça valiosa de Arthur Lira no xadrez. Quem diz que Jó Pereira é a vice dos sonhos leu bem as entrelinhas, mas não as entrelinhas dos sentimentos, falas e expectativas da deputada estadual, mas sim dos desejos de quem quer se aproveitar do protagonismo de Jó Pereira ainda que isso sacrifique justamente o protagonismo dela.