As ausências de alguns nomes na pesquisa do Instituto Falpe trazem reflexões

24/02/2022 12:11 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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No início dessa semana, o Instituto Falpe divulgou a segunda pesquisa registrada com cenário estimulado da disputa pelo governo do Estado de Alagoas. A primeira registrada foi feita pelo DataSensus. Em relação aos números do DataSensus há uma pequena análise já publicada por esse blog. Agora, debruço-me sobre os números da pesquisa mais recente e em relação ao cenário escolhido pelo Instituto.

Primeiro ponto: é válido frisar que o Instituto, ao montar um cenário de pesquisa estimulada, se baseia nas informações que correm pelos bastidores políticos, levando em conta os pré-candidatos já assumidos e aqueles possíveis. O Falpe aposta – portanto – que a disputa será entre o ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSD), o senador Rodrigo Cunha (PSDB), o deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB), o prefeito do Pilar, Renato Filho (MDB) e o deputado estadual Paulo Dantas (MDB). É legítima a leitura feita pelo Falpe. 

Não “brigo” com os números do Instituto que trazem – como bem registrou a jornalista Vanessa Alencar – duas surpresas em relação ao levantamento do DataSensus: 1) Rui Palmeira aparece na liderança com 25% e 2) o deputado estadual Antônio Albuquerque é o terceiro colocado com 14%. Rodrigo Cunha, que liderava a pesquisa anterior, surge como o segundo colocado com 20%. Renato Filho tem 7,25%. Paulo Dantas, assim como no DataSensus, também não decola, mesmo tendo o apoio de grande parte da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Ele ficou com 5,75%. 

Agora, os números do Falpe apontam um cenário semelhante ao já registrado pela pesquisa anterior: o grande número de eleitores que olham para os nomes apontados e respondem que não votam em nenhum deles. Esse índice tem apontado para uma eleição aberta, já que há a tendência da maioria escolher um candidato, ainda que seja aquele avaliado como o “menos ruim”. No caso do Falpe, os que não opinaram somam 11,75%. O índice é altíssimo. Imagine se somado aos que não votam em nenhum dos apresentados: 16,25%. Somados os dois índices, são 28%. O número de eleitores nessa fatia é maior do que o percentual alcançado pelo primeiro colocado.

JHC

Dito isso, é válido ressaltar que há outros nomes – que podem “bagunçar o coreto” – mas que não aparecem na pesquisa do Falpe. Por mais remota que seja a possibilidade das candidaturas se confirmarem, são nomes no xadrez político. O primeiro deles é o do prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB). Em períodos de pesquisas não-registradas, JHC aparecia como líder absoluto dos levantamentos. 

Em tempos de federação, em que PSB e PT discutem a possibilidade de terem o maior número de palanques possíveis pelo Brasil, será que JHC realmente fica no Executivo? Eu creio que sim. Porém, é válido lembrar que João Henrique Caldas nunca fez questão de hipotecar seu apoio a um pré-candidato já declarado e que faz parte de seu grupo político: o senador Rodrigo Cunha. Só quando, e se, JHC fizer esse apoio de forma explícita é de que fato ele será carta fora do baralho nas eleições de 2022, estando presente apenas de forma indireta. 

Jó Pereira

O outro nome que não aparece no cenário é o da deputada estadual Jó Pereira (MDB). Por um lado, entendo sua ausência em função de dois motivos: 1) o silêncio estratégico, ainda que ensurdecedor, da parlamentar em relação às negociações políticas em andamento. O silêncio de Jó Pereira reforça as informações de bastidores de que, em vez de encabeçar uma chapa, ela surgiria como vice; 2) a deputada estadual perdeu relevância nos bastidores depois que muitos analistas a colocaram como a “vice” a ser indicada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), seja na chapa de Rodrigo Cunha ou de Rui Palmeira. Isso afeta a percepção de cenário e leva aos analistas de instituto a já retirarem seu nome das medições.

Porém, Jó Pereira tem identidade própria no parlamento estadual e construiu sua trajetória com bandeiras que, gostem ou não delas, possuem ressonância em determinados segmentos e fazem com que ela seja uma opção na disputa pelo governo. Tanto que o DataSensus incluiu Jó Pereira no cenário estimulado. A presença de JHC e de Jó Pereira no cenário embolam os números. No caso de Pereira, ela nunca apareceu na liderança, mas com percentual de votos suficientes para embolar a disputa pela vaga no segundo turno. 

No DataSensus, em um dos cenários, por exemplo, ela fica na briga por uma terceira posição, empatando – inclusive – com Paulo Dantas. Agora, repito: a saída do nome de Jó Pereira do cenário tem muito de responsabilidade dela também, que optou por “mergulhar” enquanto adversários buscam os holofotes. É natural, portanto, que a expectativa em torno de uma candidatura majoritária da parlamentar venha diminuindo.

Na atual circunstância, por exemplo, eu acredito que a candidatura de Pereira se torna uma possibilidade remota, pois há o silêncio escolhido por ela mesma e as informações que circulam sobre sua “vice-candidatura”. Quem não se posiciona, cala, quem cala...consente. Seria o caso do dito popular estar correto? Em todo caso, como é um nome expressivo desde o início, seria interessante saber que fatia do eleitorado JHC e Jó Pereira mantêm nesse momento.

A certeza de candidatura, evidentemente, ninguém tem. Afinal, até mesmo a possibilidade de federação entre MDB, PSDB e União Brasil podem atrapalhar – e muito! – a candidatura de Rodrigo Cunha. 

Isso não quer dizer que os números do Falpe estão errados. Não! Isso quer dizer que o cenário – que é uma fotografia de momento – pode não se encontrar bem montado, seja por excesso ou por ausência de candidatos. Mas, isso é natural – como já explicado – uma vez que cada instituto monta o cenário com base na análise que faz da realidade naquele momento. Não há bola de cristal.

E aí, caro leitor, quando o cenário se concretizar, quando as pesquisas tratarem do que já está consolidado, eis que o número de indecisos migrará para alguém e fará toda a diferença.

No caso do cenário para a disputa do Senado, que mostra a ampla liderança do governador Renan Filho (MDB), com 40,5% e a segunda posição de Collor com 16%, é válido lembrar que o vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT) pode ser candidato. Ele ameaça mais a Collor ou a Renan Filho? Algo a se refletir. No mais, o vereador por Maceió, Fábio Costa (PSB), que tinha um bom desempenho nas pesquisas envolvendo apenas a capital alagoana, não conseguiu consolidar os números no interior do Estado, ao menos por enquanto, e fica com 7%. O deputado estadual Davi Davino (Progressistas) tem 5,75%. 

Os que não responderam ou não opinaram 13,25% e 17,5%., respectivamente. Ou seja: uma parcela que pode também “bagunçar o coreto”.

 

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