Após décadas de mineração na capital alagoana, mais de 14 mil imóveis foram condenados com o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió. Para resgatar a memória e histórias dos moradores dos bairros afetados, o artista visual Paulo Accioly, 29 anos, criou o projeto “A Gente Foi Feliz Aqui”.
Através de fotografias em tamanhos reais, o artista ilustra as narrativas e histórias dos moradores do Pinheiro, Bom Parto, Mutange, Bebedouro e Farol. O levantamento mais recente aponta que dos 14.402 imóveis com recomendação para desocupação, 13.871 já foram esvaziados.
Ao CadaMinuto, Accioly conta que morava no Pinheiro até ir para a França, onde estudava Arte e Imagem, quando o problema nos bairros foi revelado. Ele relata a aflição que passou por acompanhar o caso de longe e a busca por uma nova casa para a família.

“Em julho, perto de voltar, meus pais receberam o ultimato para deixar a casa que morávamos. De fora eu fiquei buscando uma nova casa pra eles irem, sem as informações sobre como as coisas realmente estavam”, diz.
O material escolhido para a técnica do trabalho foi o lambe-lambe nas cores preto e branco, estampados nas paredes e muros das casas, que é também uma das principais formas de expressão de Paulo como herança da formação na França.
O artista visual conta ainda que o objetivo do projeto é dar espaço para os moradores se expressarem através da arte e ouvir as pessoas que não tiveram a oportunidade de falar. “É uma homenagem às histórias vividas por tantos anos naquelas casas, ruas e bairros”, revela.

Paulo estava em Maceió quando aconteceu a abertura da cratera na rua de sua casa, no Pinheiro, e acompanhou de perto o bairro ir perdendo a vida aos poucos junto das pessoas que saíam.
“Eu fui morador por aproximadamente 5 anos, muito pouco comparado às pessoas que conheci por conta do projeto, mas suficiente pra entender o porquê de ser um bairro tão querido”.
A casa em que o artista morava só apresentou rachaduras depois da família ter se mudado. Ele cita que viveu uma época de muito medo, principalmente quando chovia. “Ao me mudar, sempre que algo acontecia eu ficava muito nervoso, receoso do que podia acontecer com meus pais aqui na casa”, afirma Paulo.

*estagiária sob supervisão da Editoria