Estamos cuidando das nossas aldeias?

17/01/2022 13:20 - Artigos
Por Desembargador Federal Elio Wanderley de Siqueira Filho

Um pequeno índio chamado Davi, de apenas oito anos, da etnia Xavante, conseguiu, em poucos segundos, concitar os adultos a grandes reflexões sobre o destino que lhe será legado. Impossível ignorar quatro singelas palavras, lançadas com sabedoria pela criança, frente à sedenta mídia brasileira.

 Falou na alegria que sentia em estar sendo vacinado. Indescritível a sensação de quem vislumbra uma luz no fim de um túnel escuro. Por outro lado, como já dizia Tom Jobim, a respeito da felicidade, é impossível ser feliz sozinho. Então, aquele simples ato de receber uma vacina, de igual modo, denotava um compromisso efetivo com o outro, motivo de regozijo, em igual medida. Também mencionou a emoção. Nunca é demais relembrar que, a despeito do isolamento e do avanço da cibernética, somos humanos, e não, frios autômatos, como na lição do célebre discurso de Charles Chaplin, na boca do barbeiro, ao se passar pelo ditador, clamando por um novo mundo. 

Manter-se sozinho é contra a natureza humana e a pluralidade dos sentidos de compartilhamento que nos habitam de modo inato. Depois, registrou que buscava a proteção, este gesto singular que, apesar de individual, é coletivamente conjugado. Não uma preocupação egoísta, mas um sentimento altruísta, de ir ao encontro do reencontro de almas, pressuposto basilar de uma sociedade que se diz civilizada. 

Concluiu, afirmando que o fazia pela sua aldeia. E aqui se impõe uma indagação: estamos cuidando das nossas aldeias? Segundo Fernando Pessoa, o rio mais bonito era o de sua aldeia, justamente por sê-lo. Estou preservando o rio de minha aldeia, seja o Capibaribe, o São Francisco ou o Amazonas? A nossa gente está sendo preservada? Todos os seres vivos de nossas aldeias? Nossa Mãe Terra? 

Bem simbólico se tratar de um curumim chamado Davi, que significa querido. Inevitável a alusão ao personagem histórico, de mesmo nome, que, de mero pastor, tornou-se rei e, pequenino, venceu o gigante, sendo reconhecido pela bravura e pelo senso de justiça que o caracterizavam. 

Davi, prometemos a você e a todas as crianças uma outra humanidade, onde a sua proteção seja plena, as emoções e alegrias possam aflorar livremente e todos possam sair de suas ocas para apreciar a nova aurora!

Desembargador Federal Elio Wanderley de Siqueira Filho

Corregedor do Tribunal Regional Federal da 5a região

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