A clássica película o Advogado do Diabo mostra – dentre outras coisas – o quanto as tentações se intensificam quanto mais se vai ao topo. Por qual razão lembro disso? Bem, vamos ao desenrolar do texto...

Atualmente, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), se encontra em uma “crista” da onda política. Afinal, sua administração é bem avaliada, conforme as mais recentes pesquisas de opinião pública, e, para além disso, figura como primeiro colocado nas iguais pesquisas que medem a intenção de votos na disputa pelo Palácio República dos Palmares.

Ciente, como todos os políticos de plantão, da velha máxima do “cavalo que passa selado”, eis que o prefeito JHC deve conviver com a tentação de ser ou não candidato ao governo do Estado de Alagoas neste ano. Dar ouvidos a ela, sentir seu peso, ou simplesmente desconsiderar a possibilidade, aí é algo que eu não sei afirmar se o prefeito faz ou não. 

Todavia, talvez por essas circunstâncias postas, JHC ainda não tenha se posicionado de forma enfática sobre essa possibilidade de entrar na disputa majoritária, seja para confirmar ou para negar. 

No ano passado entrevistei o prefeito sobre o assunto. Ele desconversou e apenas frisou que seu principal compromisso é com a administração municipal. A resposta padrão de todo político diante dos holofotes da imprensa e que quer evitar especulações. Do ponto de vista estratégico, o prefeito age corretamente.

Naquela ocasião, JHC ainda disse que sua relação com o senador Rodrigo Cunha (PSDB) era de parceria e seguia “incólume”.  Mas não adiantou se o apoiaria ou não na disputa pelo Executivo estadual.

O senador Rodrigo Cunha, recentemente, deu uma entrevista ao Portal R7. 

Nela, o tucano assume a pretensão de ser candidato ao governo do Estado e já se posiciona nesse sentido. Ou seja: avançou uma casa no tabuleiro do xadrez político. No entanto, Cunha sabe que ninguém é candidato de si mesmo. Por essa razão, também fala da necessidade das condições que o viabilizem, ainda que em outras palavras, ainda que nas entrelinhas. 

Entre essas condições se encontra uma básica: ter ao lado um grupo político. Ora, nos últimos dois pleitos, o principal parceiro político de Rodrigo Cunha foi o prefeito JHC. Assim foi quando ambos se apoiaram mutuamente na disputa pelo Senado (no caso do tucano) e da renovação do mandato de deputado federal, no caso de JHC. Depois, na eleição seguinte, a parceria se repetiu com JHC tendo o apoio de Cunha na disputa pela Prefeitura de Maceió. 

Para quem acompanha o xadrez político ficou claro que ali, naquela união, havia uma promessa para o futuro: nas eleições estaduais de agora, Rodrigo Cunha teria o apoio de JHC de volta. 

É aí que entra em cena uma pergunta que faz todo o sentido. Diante de um cenário onde muitos, incluindo o tucano e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, já lançaram Rodrigo Cunha ao governo do Estado de Alagoas; diante de um cenário em que já se especulou até sobre o vice; e diante de um cenário em que o próprio Cunha afirma “sou candidato”, por qual razão ele (Rodrigo Cunha) ainda não teve o incentivo de seu principal parceiro político (JHC)?

Não sei se JHC, diante das pesquisas de intenções de voto e de opinião pública, alimenta ou não o sentimento natural dos que querem dar um passo adiante quando defronte ao que se insinua uma “janela de oportunidades”. 

Não posso afirmar se JHC se sente ou não tentado diante das circunstâncias que o colocam como favorito.  

Agora, o que é possível dizer é que, diante do passo dado por Rodrigo Cunha, ao afirmar tão claramente o seu desejo de ser candidato, é de se indagar quem do seu grupo político de agora o acompanhará. JHC já tem candidato ao governo do Estado? Responde aí, prefeito!