João Rocha relembra momentos de terror com correria, medo e muitos feridos 

Corria a década de 1960 e a cidade de Arapiraca continuava vivenciando um clima de tensão, medo e expectativa em razão do domínio pela homogenia política da cidade mais importante do interior do Estado. As famílias Pereira Lima liderada pelo então deputado Claudenor Lima com o apoio do então governador Muniz Falcão e a família Lúcio se destacavam politicamente no cenário conturbado da política arapiraquense. 

O jornalista João Rocha conta com detalhes os episódios de terrorismo, medo e muitas pessoas inocentes feridas naquela noite de setembro de 1965. Na época o ex-governador de Alagoas, Sebastião Marinho Muniz Falcão, advogado e jornalista, era a grande atração do comício em Arapiraca.  

 

A explosão de uma bomba de grande teor explosivo não estava previsto em nenhuma página da história do município e da região. Detalha o jornalista João Rocha que saiu de casa às 19 h na Rua Boa Vista (centro) em direção à Praça Manuel André, o comércio, local da concentração. O percurso era de 10 minutos, no máximo. 

 

O jornalista conta que algo que chamou sua atenção. O palanque armado defronte ao extinto Hotel Lopes bem mostrava que ali haveria algo estranho, apesar das inúmeras bandeiras e ornamentos instalados. O silêncio, com aspecto de terror, me impulsionou a sair. Conta que nesse momento, saiu em direção à Praça Marques, onde encontrou alguns amigos, para um bom bate papo. 

 

Minutos depois se ouviu um estrondo, uma explosão aterradora. O que temia aconteceu: pessoas desesperadas correndo sem direção, feridas, sangrando, fugiam, pedindo socorro. Ao sair em direção, de volta ao comércio, pela Praça Bom Conselho, na antiga Matriz, me deparo com uma cena que jamais me saiu da cabeça: uma multidão, horrorizada, em total desespero, aos gritos, gemendo e horando desesperadas. 

 

Uma mulher, com sutiã e blusão rasgados, vítima de sangue escorrendo devido a um ferimento na cabeça, causado por um artefato de madeira que se desprendeu do palanque, lhe causou o ferimento. O sangue corria aos borbotões pelo rosto dela. A coitada gemia e chorava contou o jornalista. 

 

Outras vítimas, com roupas resgadas, desesperadas, perderam os calçados e eram tomadas pelo pânico, com escoriações pelo corpo e xingavam os autores do atentado. Um jovem de 16 anos, com o corpo ensanguentado, segurava com o braço esquerdo o direito, com uma fratura exposta. 

 

Percebi que o jovem sofria muitas dores, como falava e contou que as pessoas passavam por cima dele quando estava caído no chão. O terno do governador Muniz Falcão foi rasgado e seus assessores passaram momentos de pânico e muita tensão. 

 

Calcula-se que à época mais de trinta pessoas foram atingidas na explosão e não tiveram atendimento porque o Hospital Regional na época, estava fechado à noite e não havia profissionais na cidade, pois o único médico que atendia o povo humilde, José Marques da Silva, foi assassinado anos antes. 

 

Ninguém foi preso, não houve inquérito para apurar os culpados pelo ato de terrorismo. Não consta o registro de morte. O delegado da época, coronel PM Monteiro, não prendeu ninguém. Apenas no dia seguinte ao episódio, ele ouviu algumas pessoas na Delegacia de Polícia que ficava localizada por trás do comércio. Ninguém que foi indiciado como responsável pelo crime. Os correligionários do governador acusaram sem provas, pessoas da família Lúcio como supostos responsáveis, mas oficialmente nada foi comprovado

A versão  do jornalista Nilo Sérgio Belo Pinheiro sobre o episódio 

Esse episódio é muito triste na história de Alagoas. Os jornais, controlados pela oligarquia, pouco noticiaram, talvez esperando a morte do governador Muniz Falcão. Acredito que esse terrível atentado não tenha partido de grupos políticos de Arapiraca, pois a maneira como foi feito, era serviço de profissionais acostumados a atentados dessa natureza, despachos da capital. Espero que nunca mais aconteça em Alagoas, coisas dessa natureza, especialmente objetivando acabar com uma criatura que só pensava no bem para toda a sociedade alagoana.