A deputada estadual Jó Pereira (MDB) usou da tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, na manhã de hoje, para se posicionar como voto favorável ao Plano de Cargos e Carreiras e Salários (PCCs) dos profissionais da Educação.

No entanto, em meio ao discurso, Pereira utilizou de seu tempo para negar as conjunturas de bastidores que a colocam ou como possível candidata ao governo de Alagoas ou como vice em algumas das chapas que estão sendo construídas.

Há, nos bastidores, a discussão da possibilidade de Jó Pereira ser vice de uma candidatura encabeçada pelo senador Rodrigo Cunha (PSDB) na disputa pelo Executivo estadual, e, mais recentemente, ela também foi citada como vice de uma possível candidatura do deputado estadual Paulo Dantas ao governo.

Pereira nega os bastidores.

Ela afirma que nunca conversou direta ou indiretamente com qualquer um dos grupos citados, seja o que é liderado por Cunha ou aquele grupo que tenta “fabricar” a candidatura de Paulo Dantas (leia-se: os deputados estaduais mais próximos e liderados pelo presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (Solidariedade)).

Os bastidores podem ser reais ou não! Todavia, negá-los faz parte da estratégia política de quem tem cautela e sabe que a hora de virar alvo não é agora. Por outro lado, é função sim da imprensa e de analistas publicar o que os “alvos” não gostariam que fossem publicados. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que seja publicado. O resto é publicidade”, já diria George Orwell.

E aí, caros leitores e leitoras, queira Jó Pereira ou não, ela é uma peça nesse tabuleiro de xadrez que é levada em consideração pelos grupos postos, sendo sim citada como uma possibilidade que pode se concretizar, seja na disputa pelo Executivo ou como vice em alguma chapa. Logo, a deputada estadual do MDB sabe muito bem dos fundamentos existentes nas especulações de bastidores.

Tanto sabe que reconhece que a presença de seu nome nesses bastidores se faz porque tem razão de ser: se apoia no fato dela ser uma liderança viável por possuir características como, a independência que a faz transitar em grupos diferentes, portanto ser um ponto de intersecção política; tem uma imagem mais amena do que a dos políticos dos quais é aliada, como a do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas); tem bandeiras no parlamento estadual que podem ser exploradas do ponto de vista do marketing por terem substância, serem reais e preocupações legítimas de seu mandato.

Além disso, qualquer analista político sabe que esses pontos citados – além de outros – respondem a uma pesquisa qualitativa que pode fazer com que Jó Pereira avance nesse cenário. Dessa forma, não é por acaso que Jó Pereira, ao negar que é candidata “nesse momento” (e ela frisa o nesse momento, caros leitores e leitoras! Isso é importante), usa do próprio discurso para reforçar os pontos de seu currículo político que a credenciam em outro momento. É que analistas políticos são uns lobos, rapaz…

Traduzindo, de forma politicamente inteligente, o que Jó Pereira diz pode ser compreendido da seguinte forma: “Eu não sou candidata NESSE MOMENTO, mas prestem bem atenção porque eu tenho currículo para sê-lo” (as aspas são fictícias ou tradução livre desse blogueiro ousado).

Dessa forma, fala dos impactos de seus projetos de lei, da sua atuação, da característica de sua independência e de outros pontos da sua atividade parlamentar.

Todavia, como dizem os vendedores de produtos em programas vespertinos da TV: “Mas não é só isso”.

Claro que não!

O discurso de Jó Pereira ainda fez referências elogiosas aos três segmentos presentes na Assembleia Legislativa, que possuem espaços para atuação: os opositores, como Cabo Bebeto (PTC), os governistas como Sílvio Camelo (PV) e os independentes, como Antônio Albuquerque (PTB). Os nomes desses deputados foram citados por ela.

Pereira tem uma marca própria e um grupo que pode transitar em cenários. Coincidências do discurso? Pode ser. Eu é que tenho esse vício de não acreditar em coincidências...

Jó Pereira cita essas posturas dentro de um contexto de um parlamento liderado por Marcelo Victor (Solidariedade), fazendo questão de elogiar o presidente. Ela, inclusive, lembrou do apoio que Marcelo Victor tem dos pares e da derrota que o governo de Renan Filho (MDB) sofreu quando o presidente da Assembleia Legislativa ascendeu a esse cargo, derrotando o tio do chefe do Executivo estadual, o deputado Olavo Calheiros (MDB).

Ou seja: Jó Pereira encheu a bola do principal articulador do parlamento estadual no tabuleiro do xadrez político de 2022 ao mesmo tempo que se posicionou na independência e se distanciou do governo de Renan Filho. O discurso de Jó Pereira foi estratégico e político.

Ela nega que tenha tido as conversas que os bastidores apontam e diz que é citada pela sua atuação parlamentar. Em resumo: tudo aquilo que uma liderança natural sonha em ter para ser posta em uma disputa majoritária: a representatividade conquistada que a leva à condição de uma pré-candidatura não porque queira, mas sim porque a oportunidade, as circunstâncias e o momento empurram para isso, uma vez que ninguém é candidato de si mesmo.

É por isso que repito o que já afirmei nesse texto: o discurso de Jó Pereira foi para negar que seja candidata ao governo ou a vice, mas também foi para frisar que isso se faz nesse momento, pois ela tem as características para, em outro momento, entrar na disputa. Quando é esse outro momento? Sei lá. Pode ser o fim da sessão… quem sabe… Enfim, tem tempo. E aí, como diz o cantor Flávio José em A Natureza das Coisas: “tudo pode acontecer, inclusive nada”.

PS: eu acredito em Jó Pereira quanto a ela não ter tido as conversas que os bastidores citam. Ela fala a verdade. Porém, é citada nos bastidores do mesmo jeito em função de tudo aquilo que ela falou de si mesmo em seu discurso.