Pane em aplicativos evidenciou exaustação emocional e estresse digital, alerta psicóloga

17/10/2021 08:00 - Especiais
Por Vanessa Alencar e Gabriela Flores
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Angústia, alívio, paz e até felicidade. Essas foram algumas das sensações descritas por internautas ao se referirem à pane nos aplicativos WhatsApp, Instagram e Facebook, que deixou milhares de pessoas em todo o mundo menos conectadas por várias horas, no dia 4 deste mês. Entre os que comemoraram e os que sofreram com a desconexão, uma coisa ficou ainda mais clara: as consequências de uma dependência cada vez maior do mundo online.

Em entrevista ao CadaMinuto, a psicóloga Daniela Monteiro pontuou que, enquanto para alguns foram horas de angústia mediante ao grau de vicio, ou prejuízos para quem depende das redes sociais para trabalhar, para outros a pane foi motivo de alivio e até comemoração.  Segundo ela, o contraste de reações deixou evidente “ou se tornou consciente para alguns o quanto a internet tem causado exaustão emocional ou estresse digital”.

“Este fato se dá pela ausência da habilidade para lidar com as pressões do cotidiano virtual. As pessoas se sentem obrigadas a estarem sempre conectadas, com acesso às notícias do mundo em tempo real. Desta forma acabam bombardeadas por notícias e pressões para usar a internet e manter ativas as conexões. Dentre as alternativas do que fazer quanto à exaustão causada pelo excesso, vale ressaltar que uma vez que se instale um problema ou doença relacionada ao uso da internet é necessário buscar interversões profissionais para avaliar e identificar as causas, bem como planejar a melhor intervenção para o tratamento mais adequado”, orientou Daniela.

Para a psicóloga, a busca pelo ideal também tem levado as pessoas a trocarem as relações reais pelas virtuais, “a fantasiar e criar personagens, o contato imediato com pessoas virtuais e entretenimento que muda constantemente, o que não é tão fácil na vida real. Especialmente para quem apresenta limitações no contato social”.

“Logo, o relacionamento virtual possui fragilidades do ponto de vista da vida e do sentido das relações humanas. Ponderando que essas pessoas podem construir personalidades e identidades que nem sempre são harmônicas com a realidade, as relações intercedidas pela internet podem ser uma ilusão, o que sugere que as proximidades virtuais não são eficazes como as reais”, argumentou.

Legião de viciados

Daniela Monteiro pontuou que o uso exagerado da internet foi facilitado por meio do celular, onde uma significativa porcentagem de pessoas chega a dormir com o aparelho do lado da cama, e no decorrer do dia checa várias vezes seus aplicativos prediletos ou “faz do celular uma extensão do seu corpo, sem se dar conta do quanto essas práticas vêm sendo prejudiciais a sua vida”.

A profissional conta que a estimativa é de que hoje, em todo o mundo, há 280 milhões de pessoas viciadas em celular, consequentemente na internet, e alerta para alguns dos principais hábitos avaliados como determinantes para uma pessoa se reconhecer viciado na vida online ou no aparelho celular.

São eles: verificar categoricamente o celular, aplicativos e mensagens antes de dormir e ao acordar (antes mesmo da rotina de higiene matinal); deixar de fazer ou atrasar as tarefas obrigatórias da vida cotidiana (higiene pessoal, atividades domésticas, trabalho, estudos e relacionamentos); ignorar ou trocar pessoas, atividades e reuniões em grupo familiar ou social; Fazer as refeições utilizando ao mesmo tempo o celular; dividir a atenção com outros eletrônicos para não excluir o uso; perder a noção do tempo enquanto acessa a internet; conferir lugares ou evitar programas que não ofereça acesso à internet; andar e/ou dirigir digitando no celular ou nas redes sociais; Alterar o humor na ausência de rede e acesso a internet, bem como e não recebe as interações almejadas nas publicações; e preferir amizades virtuais.

Vulnerabilidade

Questionada sobre os prejuízos do vício, principalmente para crianças e adolescentes, a profissional explica que as redes sociais são projetadas para atingir a vulnerabilidade e contagiam os seus usuários por elas (redes) atenderem a necessidade básica do senso de pertencimento humano.

“Há prevalência de problemas de saúde mental que atinge especialmente os adolescentes com dependência tecnológica. É o público com maior risco ao vicio pela necessidade e busca da novidade e de se sentirem reconhecidos e parte de grupos. Viciam-se pela recompensa imediata, ao estímulo positivo e reforço urgente. São perfis que têm vulnerabilidade psicológica a busca de emoções fortes, a impulsividade, a intolerância à frustração ou quem já apresentam problema de baixa autoestima, rejeição à sua própria pessoa, timidez excessiva, necessidade de aprovação”, destacou a psicóloga.

Daniela lembra, por fim, que isto não significa que são comportamentos encontrados somente nos mais jovens: “Em adultos também provoca afastamento da vida real, ansiedade, conflitos de existência, baixa da autoestima e perda do autocontrole”.

Dia libertador

“Foi um dia libertador em minha vida”, disse uma servidora pública, de 42 anos, que preferiu não ser identificada, sobre a tarde do dia 4 de outubro. Ela comentou ainda que durante todo o tempo que as redes sociais ficaram “fora do ar” se sentiu uma pessoa leve e conseguiu fazer todas as atividades sem estar preocupada com alguma possível demanda urgente que pudesse estar no celular.

Após essas horas de “libertação”, a servidora pública se mostrou preocupada e avaliou que o problema é quando percebemos que nossa mente está conectada com a demanda de 24 horas que existe em nosso telefone.

Dependência tecnológica

Por outro lado, o técnico de informática André Silva, 28 anos, comentou que durante “a pane” ficou extremamente angustiado, pois sabia que existia uma demanda que estava reprimida, já que, segundo ele, quase 100% de suas atividades profissionais são agendadas pelo WhatsApp.

André comentou que chegou a sentir até problemas físicos, como sudorese e dor de cabeça ao perceber que não podia interagir com as pessoas pelas redes sociais. “Nunca ficamos tanto tempo sem conexão e, depois do ocorrido observei que sou uma pessoa dependente das redes sociais”, comentou, acrescentando que pensa em procurar ajuda profissional para diminuir a “dependência” do mundo virtual.

Nervosismo

A estudante universitária Gabriela Borba, 20 anos, lembrou que assim que chegou ao seu estágio na tarde do dia 4 percebeu que não havia conexão pelo WhatsApp e se preocupou sobre como avisaria a mãe que havia chegado, coisa que faz todos os dias.  

“Fiquei tão nervosa com o fato de não poder me comunicar, que esqueci que poderia falar com ela usando o telefone para fazer uma ligação. Foi a minha chefe que me lembrou que eu poderia entrar em contato com minha mãe simplesmente ligando para ela”, brincou Gabriela.

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