Bullying é mais praticado por homens do ensino privado em AL, diz pesquisa; escolas falam como combatem

26/09/2021 08:03 - Especiais
Por Maria Luiza e Rebecca Moura*
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Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que entre os estudantes alagoanos que se sentiram humilhados por provocações de colegas de escola, 13,8% citou a aparência do rosto como motivo ou causa da humilhação. Alagoas ocupa o 1º lugar entre todas as unidades da federação com queixas relacionadas à aparência. O Cada Minuto conversou com algumas instituições de ensino para saber como elas combatem o bullying.

A pesquisa mostrou que o bullying é mais praticado por homens e do ensino privado. Em Alagoas, 13,1% dos homens afirmaram que esculacharam, zombaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram algum colega de escola tanto que ele (a) ficou magoado (a), aborrecido (a), ofendido (a) ou humilhado (a). O percentual entre as mulheres foi de 10%. O ensino privado registrou taxa maior (14,2%) em relação às dependências públicas (11%). 

Ao Cada Minuto, a psicóloga Maria Eduarda disse que o padrão de beleza é algo que muda muito rápido e acaba sendo algo completamente inalcançável. 

“Com as redes sociais e a intensa exposição a elas, isso se torna algo supervalorizado.  Algo que foge disso acaba sendo, muitas vezes, rejeitado. A aparência é a primeira “apresentação”, é a forma como, principalmente na adolescência, nos apresentamos ao mundo”, disse.

A psicóloga acredita que, como a escola é o principal local onde ocorre o bullying, por ser o primeiro contato da criança com outras, os jovens que sofrem com isso podem apresentar um desinteresse ou desmotivação pelos estudos, gerando também um baixo rendimento. 

E quem sofre bullying pode ter várias consequências. Segundo a psicóloga, a escola ou o local onde o estudante se sente inseguro e violado, será um ambiente hostil em que essa criança/adolescente não sentirá mais vontade de estar. Outra consequência é a possível baixa na autoestima. “Aquele que sofre poderá se ver de forma distorcida, se baseando nas experiências hostis que está vivenciando”, destaca.

Segundo a especialista, a motivação para a prática está relacionada à história de vida e ao contexto no qual aquele que pratica o bullying está inserido. “Relações familiares, culturais, até mesmo vivências negativas na própria escola podem ser motivações para a prática. É um tema bastante complexo e cada história de vida possui sua singularidade, nos convidando a olharmos atentamente e com cuidado a essa criança/adolescente que pratica o bullying. É preciso ao mesmo tempo que firmeza, também diálogo e acolhimento”.

A psicóloga afirma que a presença de pais, educadores e outros adultos que englobam a relação família-escola, deve ir muito além de medidas punitivas. “É preciso se atentar, estar presente na vida escolar e mais ainda dialogar com essas crianças e adolescentes”.

“O acompanhamento psicoterapêutico também é uma via muito potente, tanto para aquele que sofre quanto para aquele que pratica bullying. Falar sobre o sofrimento e entendê-lo melhor é de suma importância. A infância e principalmente a adolescência são períodos de muitas mudanças, perdas e contingências que são vividas com muita intensidade por eles, e isso reflete diretamente nas relações dessas crianças e adolescentes”, comenta.

Como as escolas combatem o Bullying?

A vice-diretora Educacional do colégio Marista de Maceió, Elizabeth Cocentino, explica que a instituição já registrou relatos de estudantes e familiares sobre situações envolvendo algum tipo de conduta ou tratamento inadequado. 

Elizabeth Cocentino, Vice-diretora Educacional

Elizabeth diz que, de imediato, isso é tratado com as partes envolvidas, por meio do diálogo, inicialmente. Caso seja preciso outra intervenção, o colégio oferece o acompanhamento necessário. 

Cocentino pontua que o tema é trabalhado dentro das salas de aula, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, além de projetos enquanto unidade de rede que oferece direcionamentos específicos, caso surjam situações de bullying ou outros tipos de assédio. 

“Nossas Diretrizes Nacionais de Promoção e Proteção Integral dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Brasil Marista estabelece os princípios e diretrizes de proteção de todos que fazem parte de nossa Rede, sempre em consonância com as diretrizes do Instituto e em conformidade com a legislação brasileira e, ainda, tratados internacionais aos quais o Brasil é signatário. Essas diretrizes nacionais são bem definidas, e nos orientam na prevenção e nas ações no caso da necessidade de possíveis intervenções”, justificou.

A vice-diretora ainda disse que o colégio aplica políticas internas, dando suporte à criança ou adolescente, suas famílias e, caso necessário, a instituição busca ajuda e informa aos órgãos competentes. Caso a situação exija a busca desse auxílio, o colégio hesita em solicitar o suporte ou em repassar informações.

Ela também reforçou que o colégio Marista oferece cartilha especialmente sobre o tema para todos os estudantes e funcionários. Esse material é trabalhado com todas as faixas etárias, de acordo com a linguagem de cada segmento, e fala, entre outros temas, sobre o conceito de bullying, como prevenir e enfrentar e como identificá-lo em espaços pedagógicos. 

“Também temos projetos pontuais nos diferentes segmentos. Além disso, nossa equipe é muito próxima dos alunos, composta por profissionais habilitados e treinados para lidar com as mais variadas situações, sempre de forma acolhedora e solidária. Temos uma cartilha própria, ‘Sou Marista e respeito as diferenças – a identificação do bullying como forma de prevenir e enfrentar a prática nas unidades maristas’, que é distribuída a todos os estudantes e está disponível para consulta”, informou.

O Colégio Santíssimo Senhor, na parte alta de Maceió, disse que não registrou nenhuma denúncia de bullying, mas afirmou que está atento aos relatos de “brincadeiras” que surgiram. 

De acordo com a psicóloga do Colégio Santíssimo Senhor, Ana Paula Sarmento, alunos e colaboradores da escola são orientados sobre o tema.

Ana Paula Sarmento, psicóloga do Colégio Santíssimo Senhor. Foto: Cortesia

“Dependendo do caso, essa orientação é feita em toda sala. Repassamos para família, para que ela acompanhe junto com a escola. Novas condutas podem ser tomadas caso a situação permaneça”, afirma a psicóloga. 

O colégio tem o projeto de educação socioemocional que permite um contato maior do aluno com a psicologia. Ana Paula explica que o tema é tratado abertamente com eles. 

“Como na maioria das vezes a vítima de bullying ou de situações de desrespeito nunca procura ajuda, estimulamos os alunos a cuidarem uns dos outros, fazendo com que os próprios colegas informem ao setor de psicologia ou coordenação que alguém na sala passa por algumas dessas situações. É importante informar o que realmente caracteriza bullying, diferenciando de uma briga ou desentendimentos que podem ser resolvidos e superados”, comentou.

Escola tem papel importante

No colégio Contato, a  psicóloga especialista em Psicólogo Escolar e Educacional, Layla Borges explicou que é papel da escola reconhecer que é, por vezes, o palco para o desenvolvimento dos estudantes, especialmente na adolescência, e que é necessário um vínculo de confiança com professores e equipe pedagógica para que os alunos se sintam seguros para falar sobre suas queixas.

Psicóloga Layla Borges: Foto - Cortesia

“Os anos de 2020 e 2021, intensificaram este contexto, pois estudantes foram distanciados fisicamente e suas imagens expostas a um contexto virtual intenso nas redes sociais e aulas remotas”, pontua Layla. 

Conforme a psicóloga, é importante que a escola esteja advertida de que as alterações vivenciadas no corpo durante a adolescência podem ocasionar impasses para cada sujeito e, consequentemente, nos relacionamentos sociais que vivenciam.

Ela explica que ações educativas, especialmente as que possibilitem que os alunos exercitem o respeito e o hábito de falar sobre suas dificuldades nos relacionamentos sociais, são essenciais. 

“O tema “Bullying”, compreendido como uma prática sistemática ou repetitiva de humilhação ou intimidação, é discutido em redações, debates em sala de aula e em trabalhos. Estas ações educativas são um primeiro passo e possibilitam que os estudantes reconheçam situações em que o respeito à diversidade está sendo violado e procurem ajuda. Assim, é necessário escutar e reconhecer que cada caso precisa de uma condução que respeite as particularidades da história de cada um”, concluiu a especialista.

*Estagiárias sob a supervisão da editoria

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