Ao romper um costumeiro “silêncio fisiológico”, Marcelo Victor dá uma entrevista com contradições sobre o “futuro político”

13/07/2021 14:07 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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No xadrez político das eleições de 2022, que já começa a ser jogado agora em Alagoas, o nome do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Vitor (Solidariedade) é um dos pontos definidores de futuras jogadas.

O parlamentar – que comanda o parlamento estadual com forte influência sobre muitos dos colegas de Casa – trabalha seus passos para o ano vindouro com posições dúbias típicas de quem busca estar do lado que julgará vencedor. Diz que seu projeto pessoal é ser candidato a deputado estadual mais uma vez. Porém, fala de correntezas imprevisíveis sobre o futuro político. Diz que o governador fala aos quatro cantos que é candidato, mas afirma nunca ter ouvido nada de Renan Filho. E assim caminham as contradições...

Sendo assim, Marcelo Vitor não descarta nada, mesmo afirmando uma posição teoricamente fixa, pois seu foco é permanecer no poder. Ele pode marchar ao lado do deputado federal e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), pode ser um aliado do atual governador Renan Filho (MDB) e – dentro dessas possibilidades – assumir como “governador tampão” caso Renan Filho parta para disputar o Senado Federal.

Por essa razão, Marcelo Vitor, que cultiva um “silêncio fisiológico” em sua carreira política, só abre a boca de forma estratégica. Quem acompanha o “passo a passo” do parlamentar, sabe que ele não é muito afeito a entrevistas. Prefere atuar nos bastidores e quanto mais longe dos holofotes, melhor.

Se rompeu o silêncio, em uma entrevista concedida ao jornalista Arnaldo Ferreira, na Gazeta de Alagoas, esse passo também foi estratégico. Afinal, é possível disputar uma das cadeiras do parlamento de maneira silenciosa e fisiológica, mas para voos mais altos é preciso se comunicar de outra forma.

A própria entrevista – portanto – pode ter sido um primeiro passo diante da possibilidade do Executivo cair em seu colo e ele ser um candidato à reeleição.

Logo, o presidente da Assembleia Legislativa adotou a postura de falar o que julga necessário para o momento, com a cautela própria dos mais experientes “animais políticos”, dando recados para a própria fauna na qual se encontra.

Ao afirmar que é candidato à reeleição, Marcelo Vitor o faz de forma a não descartar qualquer hipótese que possa se construir dentro do que classificou como “correnteza política”. Em outras palavras, mesmo trabalhando para uma reeleição, o presidente da Casa de Tavares Bastos se posiciona no xadrez com um olhar atento. Razão pela qual – inclusive – fala em “união das forças políticas” caso assuma o governo por meio de uma eleição indireta.

Nas entrelinhas, a possibilidade dele ser um pivô de um grande acordo que aglutine forças, que no momento parecem distante, em um mesmo palanque.

O jornalista Arnaldo Ferreira – que soube tocar nos pontos que precisavam ser tocados ao entrevistar Marcelo Vitor – fez um excelente trabalho jornalístico, sobretudo por conseguir trazer declarações de um personagem político que prefere como regra o silêncio. Todavia, é perceptível que Marcelo Vitor encaixa em cada pergunta certeira uma resposta sagaz.

Ao ser indagado sobre a possibilidade de assumir o governo, o presidente da Assembleia destaca que “Renan Filho anuncia aos quatros cantos que vai sair no momento certo para disputar as eleições do próximo ano”. Bem, os movimentos do governador são de bastidores e não de holofotes. Quem já entrevistou o chefe do Executivo estadual sabe que ele foge uma posição definidora quanto a uma futura candidatura. Nesse caso, ou Marcelo Victor revelou um bastidor sem pudores ou lançou a candidatura de Renan Filho como uma certeza e foi o primeiro a fazer isso.

O presidente da Assembleia não dá ponto sem nó. Percebam isso!

Marcelo Vitor segue: “Quem está preparado para governar e atender plenamente os três milhões e 300 mil habitantes? Quem? Quem tem capacidade para resolver todos os problemas que Alagoas tem historicamente? A solução está numa união de forças”. A suposta humildade do deputado estadual pode ser um convite a uma aglutinação de forças políticas? Quem sabe…

O fato é que na mesma entrevista em que Marcelo Vitor diz ser candidato à reeleição a deputado estadual, ele é questionado sobre a possibilidade de assumir um “mandato tampão” e partir para disputar o Executivo na sequência. Sobre isso, segundo o jornalista Arnaldo Ferreira, ele faz um silêncio reflexivo antes de mandar a resposta: “Veja, a política correnteza própria. Tem uma rota própria. Eu não sou candidato a governador e nem existe vaga para ser assumida. O governador Renan Filho foi eleito pelo povo para concluir seu mandato em dezembro de 2022. Vejo tudo isso como especulação”.

Percebam, claro leitor, que a segunda resposta guarda contradição com a primeira. Na primeira, Marcelo Victor mostra a certeza de que Renan Filho é candidato ao Senado. Na segunda, ele diz que não há vaga a ser assumida. Assim como entender que a política tem uma “correnteza própria” é saber que, diante das possibilidades abertas por esse rio comprimido pelas margens das especulações, abrir brechas, eis que o cenário pode mudar.

Outros pontos também são contraditórios nas falas de Marcelo Vitor, aquele que “não trabalha com especulações”, segundo ele mesmo. Indagado por Ferreira se aceitaria o desafio de disputar o Executivo caso ele surgisse, Marcelo Victor destaca: “Não existe desafio que o político não aceite. Não se trata disso. Trata-se de uma discussão democrática que não pode ultrapassar as instâncias. Se escolhe candidato a governador nas instâncias”.

Ou seja: Marcelo Vitor se firma como candidato à reeleição porque ninguém é candidato de si mesmo quando assunto é majoritária. Sabendo disso, fala em união de grupo, se coloca com humildade, descarta especulações, ao mesmo tempo em que se posiciona no xadrez como possibilidade de ser um aglutinador de forças. E assim, com isso acontecendo, pode assumir um discurso próprio dos espertos políticos: ser candidato ao governo não por conta de um projeto pessoal, afinal disputaria a reeleição, mas sim porque foi chamado pelas circunstâncias, instâncias e correntezas...

A quebra do silêncio fisiológico de Marcelo Vitor pontua algo no cenário das discussões políticas: “o projeto político pessoal do deputado Marcelo Vitor para 2022 é ser candidato a deputado estadual”, mas há por aí as “correntezas”. Esse é o mesmo Marcelo Vitor que diz que o governador Renan Filho “anuncia aos quatros cantos que vai sair no momento certo para disputar as eleições do próximo ano”, mas que – mesmo diante de um chefe do Executivo tão falador – não pode afirmar que é candidato na majoritária porque “o governador nunca me disse que pretendia deixar o governo”. Mais uma contradição proposital ou não.

Ah, mas Marcelo Vitor diz que “a boca que fala o que não ouve não constrói”.

No mais, é de se parabenizar Arnaldo Ferreira, pois com perguntas precisas que cobram do entrevistado o detalhamento do que ele pensa, conseguiu extrair de Marcelo Vitor muitas respostas que merecem análises interessantes...

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