Com exceção da vacina da Johnson & Jonhson, todos os atuais imunizantes contra a Covid-19 são administrados em duas doses que têm intervalos que variam de duas semanas a três meses. Apesar da primeira dose ser importante, ela não garante a imunização. Foi nesse intervalo que a psicóloga Roseanne Albuquerque, de 50 anos, se contaminou. Ela contou ao Cada Minuto os dias que viveu de angústia e medo, e fez um apelo para que as pessoas redobrem os cuidados.
A psicóloga Roseanne Albuquerque, que mora em Maceió, não esqueceu o dia 21 de março: dia em que ela se vacinou contra a covid-19. O que ela não imaginava é que ela se contaminaria nos próximos dias. No sábado, dia 27, ela começou a apresentar sintomas.
“Eu trabalho no interior de Pernambuco e precisei viajar um dia depois da vacinação para trabalhar. No sábado, apresentei o primeiro sintoma: coriza", contou.
Roseanne achava que se tratava de um resfriado, mas os sintomas foram evoluindo rapidamente. “Sou diabética e hipertensa, acredito que isso contribuiu também. No domingo eu já estava com dor de garganta, dor no corpo, febre e coriza”. Segundo ela, a forma que a covid-19 ia evoluindo a deixava assustada. Mesmo com todos os sintomas da doença, ela procurou o hospital da cidade e e fez o teste.
Ao longo dos dias, Roseanne teve febre alta, falta de ar, fadiga, dor no corpo, tosse, insônia, entre outros sintomas. “Até que fiz um raio-x e deu que estava com pneumonia. Tomei vários remédios: o antibiótico foi mudado duas vezes porque a doença estava forte”.
Os 14 dias não foram fáceis. Longe da família, Roseanne sentia que a cada dia piorava, mas lutava contra a doença. Foi através do Whastapp que ela conseguiu passar informações sobre o estado de saúde para a família e amigos.
“O médico chegou a falar que eu ia ficar internada, mas com a saturação boa não precisei. Por outro lado, cheguei a ficar no oxigênio porque não respirava bem e fui levada ao hospital pela ambulância. Fiquei com muito medo e angustiada. Além disso, eu estava sozinha e se eu fosse para o hospital, não teria ninguém por perto”, contou.

Mas para Roseanne, o que a fortaleceu foi falar com a família todos os dias e as orações recebidas. “Isso me fortaleceu, mas vivi dias difíceis. Pus toda minha confiança em Deus”, comentou.
Segundo ela, a covid é traiçoeira e desestabiliza o emocional e o físico. “Sei que sou um milagre por ter vencido. Em muitos momentos me vi desesperada e com muitas dificuldades, como andar, falar, respirar. Eu não conseguia sequer lembrar de algumas coisas porque minha cabeça ficava confusa”, enfatizou.
Roseanne venceu a covid-19, mas teve síndrome pós-covid. “Fui em vários médicos e fiz muitos exames. Minha glicose estava alta, tive problemas nos olhos e fico cansada se faço esforço, mas estou feliz porque estou viva”. Agora, a psicóloga espera para tomar a segunda dose da vacina e faz um apelo para que as pessoas redobrem os cuidados.
“Algumas pessoas tomam a primeira dose e acham que estão imunizadas. Não é assim. Não sei como fui contaminada, mas sei que precisamos redobrar nossa atenção e cuidado. Não deixar de usar máscara, álcool em gel e evitar aglomeração. Peço que as pessoas que tomaram a primeira dose e não tomaram a segunda, tomem. A vacina salva vidas”, afirmou.
Primeira dose não imuniza
O infectologista Fernando Maia explicou que quem tomou uma dose da vacina não está imunizado. “A vacina só faz efeito completo no mínimo 14 dias após a segunda dose quando a imunidade se completa, mas enquanto isso a pessoa não está imunizada”, disse.
O médico também reforçou que é importante lembrar que a vacina evita formas graves, evita mortes, mas não evita adoecimento.
“Então mesmo quem tomou a vacina corretamente ou até mesmo quem já teve a doença precisa continuar com os mesmos cuidados de lavar as mãos, usar máscara e manter distanciamento social”, disse.
Fernando Maia também explicou que mesmo após a vacina ainda pode haver contaminação e a pessoa contaminada pode transmitir a doença.
Sobre quem foi contaminado após a primeira dose da doença, Fernando Maia disse que o recomendado é que nesse caso, a pessoa espere pelo menos 30 dias do término da doença para a pessoa ficar plenamente recuperada e poder tomar a segunda dose, mesmo que atrase um pouco.
"Têm estudos mostrando que quem teve a doença e tomou a vacina depois tem uma resposta vacinal melhor do que quem não teve a doença, então acaba sendo "uma vantagem", mas deve tomar a vacina mesmo quem já teve a doença, basta ter o cuidado de esperar 30 dias do quadro clínico para poder tomar”, comentou.