Além da pandemia do novo coronavírus causar milhares de mortes e impactos sociais, também provocou novos desafios para quem engravidou durante o isolamento social. Para as gestantes que encaram as mais diversas preocupações durante esse período, não será possível realizar chá de bebê, receber visitas na maternidade ou ir para várias lojas e comprar o enxoval.

A pandemia já dura mais de um ano e continua avançando pelo mundo. O Brasil registrou, até esta terça-feira (20), 378.003 mil vítimas fatais da Covid-19. Em Alagoas tem 4.014 óbitos já registrados em decorrência da doença.

Ao Cada Minuto, quatro mulheres que estão grávidas relataram como está sendo lidar com a gestação diante do atual cenário de pandemia de Covid-19 vivido no Brasil.

 

“Meu medo é minha maior dificuldade nessa gravidez”

Para a estudante de Ensino Superior, Maria Isabela, o maior medo enfrentado durante a gestação é ser infectada com o vírus, mas também que a criança recém-nascida apresente problemas de saúde após o parto.

“O pior é o medo é de ser infectada pela Covid, vendo os casos de bebês que não nascem bem ou que a mãe vem a óbito por complicações após o parto. Isso são questões que a gente fica muito preocupado, o meu medo é minha maior dificuldade nessa gravidez”, explica.

Foto: Arquivo pessoal

“Minha família também está tendo que lidar com a quarentena de uma forma muito mais correta, porque se eles pegarem as chances de eu pegar é muito grande também. O pai do meu filho trabalha, e a gente passou duas semanas sem se ver porque minha sogra estava com suspeita de Covid, e esse foi o cuidado que tivemos. Não posso correr o risco, a gente sabe que Covid é um vírus que mata todo mundo, acreditava-se que era só os idosos, mas não é assim”, relata.

Isabela conta ainda como está sendo sua nova rotina com a gestação durante o período de pandemia. “Minhas saídas estão completamente restritas a ir a médica, apenas obstetra, não tenho feito nada de diferente disso. Os cuidados são maiores do que nunca, não só eu mas também minha família"

“É uma coisa que você não para de pensar e a todo momento tem que estar refletindo sobre isso, o que muda muito a forma de encarar a minha gestação. Embora seja um momento muito feliz e muito complexo, é um momento que a gente passa com medo, não só pela minha vida, mas a vida do meu filho”, completa.

 

“A dificuldade é realmente a parte emocional”

Já para a professora de arquitetura e funcionária pública, Mariana Lôbo, o emocional fica abalado sem o contato físico com familiares e amigos. Para ela, uma forma alternativa é usar os meios de tecnologia para se comunicar.

“A dificuldade é realmente a parte emocional, nós ficamos restritos e com o tempo isso vai se acumulando. Não conseguimos dividir com meus familiares, não tem chá de bebe, não tem chá de fralda, não tem esses eventos que marcam. De certa forma, a gente curte de uma maneira diferente, com vídeo chamada, compartilhando foto, é um pouco diferente”, diz a arquiteta.

Mariana conta que se sente mais segura desde que começou a trabalhar de forma remota, a pedido da médica.

“Eu estou em home office a pedido da médica, isso de certa forma pesa bastante, ficar em isolamento com menos contato social, até com a própria família. O que me dá um certo alívio é saber que, de certa forma, eu tenho um privilégio de trabalhar em casa e ficar um pouco mais protegida, sem precisar me expor. Não é uma segurança 100% , mas é um alívio saber que estou podendo me resguardar nesse momento”, relata.

Foto: Arquivo pessoal

A professora diz que além de se contaminar com o vírus, a incerteza sobre a chegada da  vacina para gestantes é outra preocupação no momento. “Um medo que não é só das grávidas, mas todo mundo tem, é o medo de se contaminar com o vírus e também aquela incerteza se grávidas podem ou não ser vacinadas”.

Ela diz ainda as diferenças da primeira gestação e a segunda, que precisa de cuidados redobrados.

“Essa é minha segunda gravidez, então não posso levar meu marido e nem meu filho para ver a ultrassom, então acho que isso também fica um pouco estranho não ter essa presença, porque nas clínicas não pode ter acompanhantes”.

“A nossa família já estava em isolamento por conta do trabalho remoto, eu deixei de fazer as compras de casa, então quem está fazendo as compras do mês é meu marido, antes a gente flexibilizava um pouco mais e agora a gente deu uma reforçada para não ter nenhum susto”, relata.

 

“Mistura de felicidade e insegurança”

A servidora pública, Jéssica Barros, conta que quando descobriu que estava grávida tinha esperança que a pandemia já estava chegando ao fim.

“Antes da pandemia começar, eu e meu marido, cogitamos ter um bebê, porém veio a pandemia e resolvemos esperar, pois além de todos os riscos ambos trabalham em estabelecimento de saúde. No final do ano passado descobrimos que estávamos esperando nosso primogênito, foi uma mistura de felicidade e insegurança, acreditávamos que a pandemia estava chegando ao seu fim, ou pelo menos, já estava controlada, sempre fomos bastante esperançosos, porém no início deste ano o aumento dos casos nos deixou inseguros e preocupados”, diz.

Ela explica que durante esse período de isolamento, tenta diariamente se adaptar e praticar atividades em casa.

“Com a gestação tivemos que aumentar o isolamento e distanciamento, que já seguíamos. Meu marido, juntamente com minha família, assumiu grande parte dos afazeres fora de casa, como feiras de supermercado, e quando não é possível, acabamos no delivery de alguns estabelecimentos, me limitei ainda mais a saídas quando realmente necessárias, como médicos e exames. Passei a me adaptar para trazer o meu cotidiano para dentro de casa, com atividade online de exercícios físicos e estudos. Tentei me manter ativa e na maior parte das vezes serena”, conta.

Jéssica conta ainda sobre seus cuidados nessa fase de gestação e a necessidade de tomar os devidos cuidados.

“A gestação não é fácil, já é uma condição que precisa de muita atenção e cuidado, é uma fase nova e diferente de todas que uma mulher pode passar, os hormônios aumentam drasticamente, e só o que você quer é estar com quem você ama, para compartilhar cada momento do crescimento do serzinho que você está gerando.”

“O medo surge, pois agora além de se preocupar com seus familiares que são grupo de risco, você também é grupo de risco e além disso, seus cuidados interferem diretamente na vida de seu filho, mas quando você tem uma rede de apoio a gestação na pandemia fica um pouco mais leve, apesar de todo o caos que se encontra lá fora. Não é fácil estar grávida na pandemia, a insegurança é grande nessa fase, mas a certeza que tudo vai melhorar é maior”, finaliza.

 

Parto: “risco de gravidez no hospital”

A vestibulanda de medicina, Rosa Luna, relata como foi dar à luz em meio a pandemia e os cuidados no hospital durante o parto e ao chegar em casa com a criança.

“Eu tinha planejado que o bebe nascesse com 38, mas faltando dois dias para 38 semanas as dores apertaram mais e ele estava laçado, então a gente fez o parto para não correr risco. No hospital ficamos eu e meu esposo por conta do risco de transmissão, era todo mundo de máscara, a gente de máscara o tempo todo, mesmo dentro do quarto, só eu e ele a gente ficava de máscara por conta desse medo. Para vir para casa também foi todo cuidado, chegou do hospital já foi logo para o banheiro tomar banho. Nós não recebemos visitas na nossa casa de ninguém para proteger o bebe, apesar dele já estar com três meses, mas a gente não teve essa rede de apoio externa por conta da pandemia”, relata.

Rosa conta que por causa da pandemia e do medo de se contaminar, faltou ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que aconteceu durante sua gestação.

“O Enem foi prorrogado, quando as provas aconteceram eu já estava no finalzinho da gravidez, entre 37 semanas e justamente o bebe nasceu em 19 de janeiro, entre os dois dias de provas do Enem. Eu não fui fazer a prova devido ao medo, mesmo o MEC divulgando que ia ter todo aquele cuidado, eu não me senti confiante de fazer a prova por conta de risco de contaminação”, explica.

Sobre os cuidados durante esse período ela relata que não teve contato externo com outras pessoas e tudo que entrava em casa era preciso ser higienizado primeiro.  

“Meu esposo começou a ir fazer feira às seis e meia da manhã pela opção de não ter muita gente no supermercado, tudo que chegava em casa de feira a gente higieniza para entrar aqui em casa, a gente colocou o nome até de área vermelha.”

“Quanto a saída para médicos, para me proteger e de tabela para proteger todas as gestantes que ela atende, a minha obstetra não permitiu a entrada do pai ou acompanhante, só entrava a gestante no quarto. Em certo ponto achei boa essa opção dela para ter essa proteção maior para os pacientes, porque o medo de ser transmitido era muito  grande”, finaliza.

*Estagiária sob a supervisão