Sobre 2022: Ausência de lideranças e projetos, fisiologismos e mero xadrez político

20/04/2021 09:03 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Caso não surjam novidades no cenário político alagoano (o que deve ocorrer pela ausência de perspectivas de novas lideranças), as disputas eleitorais vindouras, apesar de acirradas, não trará novidades ao Estado de Alagoas: de um lado o calheirismo, do outro uma oposição fisiológica e desengonçada que, a exemplo do que fez o personagem Victor Frankestein, reúne um pouco de cada corpo para tentar formar um inteiro disforme. O calheirismo tem forma, tão fisiológico quanto os opositores, mas tem forma. 

Em Alagoas, portanto, continua sendo possível qualquer aliança, até mesmo daqueles que se colocam como rivais, mas que – a depender das circunstâncias e das possibilidades reais de vitórias eleitorais – se unem pelo poder, como ocorreu com o ex-prefeito Rui Palmeira (sem partido) e o governador Renan Calheiros (MDB). Eles foram derrotados na eleição passada, mas a ideia da união ˜improvável” era ganhar…

A peça mais importante do tabuleiro desse xadrez político – nesse momento – é o governador do Estado, Renan Filho. 

Isso não se dá por conta da avaliação do seu governo, muito menos em função de qualquer projeto etc. É assim por ser Renan Filho quem vai alterar ou consolidar cenários quando anunciar, de forma cabal, sua decisão: será candidato ao Senado Federal ou permanecerá no governo.

Renan Filho é – conforme as pesquisas recentes – um forte candidato ao Senado. Porém, se der esse passo, terá que renunciar, no próximo ano, à cadeira mais importante do Palácio República dos Palmares. 

Diante disso, surge uma eleição indireta para ocupar o posto do governador. Ela será comandada pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (Solidariedade), que tem força o suficiente para construir o nome a ocupar o posto numa decisão alinhada com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas).

Ora, ter a máquina pública nas mãos, ainda mais em Alagoas, é um passo importante, pois é um catalisador de prefeitos e lideranças para se ganhar capilaridade no interior do Estado. 

Afinal, muitos dos fisiologistas a postos trabalham mesmo é com a noção de reduto eleitoral e de direcionamento dos votos. Uma triste realidade onde o peso da máquina faz toda a diferença. 

Caso o grupo que assuma o Palácio República dos Palmares construa uma chapa que feche aliança com o senador Fernando Collor de Mello (PROS), por melhor avaliado que esteja Renan Filho, isso dificulda o seu caminho ao Senado Federal em uma eleição polarizada. 

O personagem Collor pode convencer muitos, mas ainda assim é só um personagem focando em 2022. A depender do resultado da eleição vindoura, o personagem se remodela, como ocorreu na reeleição de Collor ao Senado Federal, quando foi aliado de Renan Filho e rival circunstancial do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).

Fernando Collor de Mello sempre será o homem do “bloco do eu sozinho”. Porém, sabe ler o cenário de forma tal para apostar toda as suas fichas em um caminho. Collor é opositor de quem precisa ser. É aliado de quem lhe garanta chances. Os nomes do momento pouco importam, que o digam Lula e Dilma lá atrás…

Por isso, agora, Collor – ao mesmo tempo que refaz a sua imagem nas redes sociais – se aproxima do governo federal, do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), e de Arthur Lira e de quem mais for o oposto de Renan Filho. 

A posição de Collor é a de estar no grupo oposto ao de Renan Filho e assim se fortalecer para o embate. 

O governador, do outro lado, tenta agrupar seus aliados desde agora. Da bancada federal, a maioria dos deputados são seus parceiros atualmente. Mas, quem garante que, sem a máquina pública, assim eles permaneçam? Vale salientar que Renan Filho ainda tem que construir seu sucessor. Será um de seus secretários em evidência: Alexandre Ayres (Saúde) ou Rafael Brito (Desenvolvimento Econômico)? Buscará fora, como no caso da cogitação do nome do presidente da Associação dos Municípios Alagoanos, Hugo Wanderley (MDB)? 

Se Renan Filho decide não disputar o Senado Federal (o que pode ser improvável para alguns), o governador ganha força para fazer seu sucessor e terá a máquina pública trabalhando para isso. Eis que isso muda o cenário da oposição, inclusive podendo esfarelá-la. 

Um exemplo: o deputado estadual Marcelo Victor pode pender para o grupo governista em nome da vitória, conduzindo alguns de seus liderados – na Casa de Tavares Bastos – para o mesmo caminho. O presidente da Assembeia Legislativa só tem um lado: aquele que pavimentar, de forma mais palpável, a vitória.

Em todo caso, o que falta hoje em Alagoas são nomes que tenham a legitimidade e a representatividade natural para disputarem o governo do Estado. Quase todos os postulantes são construídos em laboratório a partir da vontade de alguns caciques, que não representam qualquer visão ideológica, qualquer visão política. Serão apenas identificados como peças do fisiologismo ou técnicos que desempenharam um papel X na administração. Digo: se vende a imagem como técnicos…

É assim com quase todos os nomes. Por exemplo, o discurso do tecnicismo pode servir para justificar um secretário de Estado candidato, mas ainda assim batizado por um cacique. Do outro lado, um nome que será tirado da cartola política a ser construído artificialmente. Não há líderes para essa disputa, não há conteúdo, não há projeto. Os nomes “sorteados” ganharão um banho de marketing. 

Havia lideranças em seu nascedouro para essa disputa? Sim. Alfredo Gaspar de Mendonça – atual secretário de Segurança Pública de Alagas – era um desses nomes, mas diante da última disputa pelo Execuivo municipal perdeu mais que ganhou. Agora, em seu horizonte, apenas uma disputa proporcional. 

Outro nome seria o do senador Rodrigo Cunha (PSDB), que surpreendeu em sua vitória para o Senado Federal. Todavia, Cunha escolheu o pior traço do tucanato: as posições ensaboadas diante das bolas divididas. Subiu no muro.

Não nego que o prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB), é uma liderança nesse cenário. O jovem parlamentar fez um bom mandato de deputado estadual que o credenciou à Câmara dos Deputados. Foi inteligente nas posições assumidas, soube dialogar com seu público, entrou em uma primeira disputa pelo Executivo municipal de onde saiu maior e garantiu a reeleição para a Câmara, com a força que o impulsionou ao local onde agora se encontra. 

JHC tem méritos políticos, sem sombra de dúvidas; assim como Renan Filho, que soube ter identidade própria e se dissociar do pai, o senador Renan Calheiros (MDB). Ambos possuem marcas próprias. Concordar ou não com eles e com suas práticas, é outra história…

Porém, se JHC pensar em 2022 vai arriscar muito para quem ainda tem caminho pela frente. 

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