A decepção de Cláudia Raia e o camaleão que muda de Collor

03/03/2021 18:29 - Filipe Valões
Por redação

Em uma entrevista veiculada na rádio Cultura FM de São Paulo (02/03), a atriz Claudia Raia trouxe à tona um período praticamente desconhecido pelas gerações atuais. Ao ser questionada sobre seu apoio ao então candidato à presidência Fernando Collor de Mello, na virada das décadas de 1980 e 1990, Raia reafirmou sua decepção, revolta e repúdio por ter acreditado no projeto do primeiro presidente escolhido pelo voto direto após a ditadura militar, assim como a maioria da classe artística da época. Claudia Raia representa bem mais do que os artistas, afinal, Collor recebeu apoio da esmagadora maioria dos eleitores em 1989.
 

Mas, como entender essa figura controversa que é Fernando Collor?
 

Na história recente de nossa República, poucos nomes políticos alcançaram tanta evidência ou geraram tamanha relação de amor e rejeição com o eleitorado do que o ex-presidente e atual senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello. Desde seus primeiros passos na política como prefeito de Maceió, passando pelo destaque obtido como “caçador de marajás” enquanto governador de Alagoas, além de sua ascensão e queda na presidência da República no começo dos anos 1990, Collor conquistou eleitores que também eram admiradores e, na mesma medida, opositores e rejeição.

Passada a turbulência dos anos em que sofreu o impeachment e amargou a perda dos direitos políticos, ressurgiu surpreendendo a todo o país com a vitória na campanha para o senado em 2006, derrotando Ronaldo Lessa, sendo reeleito para o cargo de senador desde então. Fernando Collor adquiriu assim um status virtualmente paradoxal. Já esteve no céu e no inferno da política, foi adorado e aclamado por quase todas as camadas da sociedade, para logo a seguir acumular um nível de rejeição que atravessa gerações.

E, mesmo assim, está há quase 15 anos no poder novamente, mantendo entre a população uma parcela de eleitores que o consideram injustiçado por ter sido retirado da presidência em 1992, além de ter se reinventado ainda em um cenário contemporâneo: nas redes sociais conseguiu a façanha de alcançar engajamento e visibilidade com elementos inesperados para sua própria imagem, o humor e até mesmo o deboche. 

Compreendendo e explicando Collor, o político

Collor esteve ao lado de Lula, Dilma, Temer e agora Bolsonaro

Uns apontam seu carisma junto à população mais humilde como fator principal, com uma retórica forte, de linguagem acessível, apelando para um tipo de populismo “das antigas”, agindo diretamente no aspecto sentimental do eleitorado. Outros, ainda, atribuem ao legado político da família a sua desenvoltura no ambiente hostil e predatório no qual atua desde o final dos anos 1970. Talvez, a explicação seja uma soma desses dois fatores e, ao mesmo tempo, um aspecto mais pessoal do próprio senador…

Rico, abastado, nascido e criado em berço de ouro, Collor ainda assim consegue falar com o povo de uma forma que gera empatia, proximidade, até mesmo carinho. Declara determinada postura política, mas, seja nos últimos anos da ditadura, seja na redemocratização, nunca se opôs a nada nem ninguém realmente, nem estabeleceu compromisso absoluto com quem quer que seja, além de si mesmo. Em sua fase pós-impeachment, esteve ao lado de Lula, de Dilma, de Michel Temer e, agora, de Jair Bolsonaro, embora já tenha feito críticas, até mesmo se opondo a cada um deles quando lhe foi conveniente.

Fernando Collor de Mello é um camaleão. E se um camaleão muda de cor, podemos dizer que Fernando muda de Collor, para sobreviver politicamente, atingindo seus objetivos, mantendo sua base de poder, se reerguendo após cair, sempre ao lado do time que está ganhando.

E, em sua mais recente mudança, adaptou-se aos tempos das redes sociais. Enquanto a maioria dos políticos está engajada em combates virtuais, na polarização que divide o país, Fernando escolheu ficar à parte, usando o imediatismo, a informalidade e o nonsense que cativa a grande massa dos internautas, para tornar-se um “tiozão resenheiro”, gerando assim compartilhamentos, comentários e visibilidade. E é esse Collor que as novas gerações estão conhecendo agora. Uma geração que pode ser decisiva nas próximas eleições para o senado. 

Mais uma prova de que a maior habilidade de Fernando Collor de Mello é saber mudar suas cores para sobreviver na política. E, em 2022, saberemos se as suas velhas (e as novas) habilidades lhe trarão a tão sonhada reeleição por mais 8 anos no Senado.

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