Collor: entre o senador e o personagem, um só foco: 2022

12/02/2021 10:35 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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O senador alagoano Fernando Collor de Mello (PROS) tem sido o personagem das redes sociais, principalmente do Instagram, quando abre suas “caixinhas de perguntas”. O tal do “novo” Collor é uma estratégia tão visível que muitos de seus seguidores lançam desafios para saber se é realmente o ex-presidente da República que responde as mensagens. E assim, para o agrado dos internautas, Collor segue publicando as fotos mais inusitadas e as respostas inesperadas.

Não importa se ali é Collor ou não. Independente disso, é um personagem.

Fernando Collor até aderiu ao famoso estilo do “ri de si mesmo” entre ironias e anedotas, como quando responde sobre o Fiat Elba, confisco de poupança e até mesmo as situações polêmicas da época em que foi presidente do país. O senador, inclusive, usa trechos de antigas entrevistas que tiveram repercussões por conta dos seus rompantes. O fato é que o senador, que antes tinha o ar imperial, agora tenta se aproximar da pós-modernidade. Na realidade, como uma biruta de aeroporto, o senador alagoano se estende ao sabor dos ventos que sopram rumo ao ano de 2022.

A estratégia, ao que tudo indica, tem dois pontos: 1) renovar a própria imagem e conquistar um novo eleitorado, envolvendo o engajamento e os mais jovens, pois percebeu que é preciso trazer um novo público e para isso é necessário um outro perfil. Seja ideia do próprio Collor ou de seu marketing político, há resultados sendo alcançados. Se isso vai reverter em votos ou não, aí é com a história; 2) como a política não ocorre apenas nas redes e depende dos acordos, Fernando Collor de Mello também se movimenta nos bastidores.

Collor – em relação às alianças políticas – sempre foi contraditório e uma esfinge, quando se olha os caminhos que ele traçou ao longo da história. Em sua primeira eleição ao Senado Federal, no pequeno PRTB, Fernando Collor surgiu como uma surpresa, depois de manter uma silenciosa pré-campanha sem afirmar necessariamente para o que seria candidato. Assim, entrou na campanha para o Senado na data limite e disputou contra o ex-governador e atualmente vice-prefeito, Ronaldo Lessa (PDT).

Lessa era o favorito antes de Collor entrar naquele pleito.

Lessa tinha o apoio do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e do senador Renan Calheiros (MDB).

O senador do PROS tinha apenas a si mesmo e uma chapa de candidatos que não se sustentavam com exceção do apoio do já falecido ex-deputado estadual Cícero Ferro. Fernando Collor tinha uma estratégia mambembe, uma campanha tosca, que contou com o fator “novidade” e com a arrogância de Lessa, o ex-governador bem avaliado que já se achava eleito. Assim, o ex-presidente da República chegou ao Senado Federal pela primeira vez.

No Senado, Fernando Collor colecionou alguns discursos bem ao seu estilo, com palavras mais rebuscadas e dentro de um universo encastelado. Na estratégia de reeleição, Collor deu três passos: 1) se aproximou mais da imprensa, em uma estratégia que na época foi comandada pelo competente jornalista Joaldo Cavalcante; 2) mirou em seu potencial rival e se tornou opositor ferrenho de Teotonio Vilela Filho, que acabou nem concorrendo ao Senado; e – por fim – 3) forçou uma aliança com o senador Renan Calheiros (MDB) e acabou sendo o candidato com o apoio do governador Renan Filho (MDB), que hoje é seu rival político.

Nesse contexto, Collor foi até defendido pelo PCdoB e por muitos “vermelhinhos”.

Vale salientar que, no meio desse caminho, Collor disputou o governo do Estado forçando a barra para fazer parecer que ele era o candidato do ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu o impeachment com o voto do próprio Collor. O senador alagoano perdeu essa disputa, mas era o mais ferrenho defensor dos governos petistas.

Collor ainda tentou disputar o governo contra Renan Filho, em 2018, mas acabou largando a candidatura por ausência de apoio do próprio bloco. Afinal, o senador tem muito o estilo do “bloco do eu sozinho”.

Agora, Fernando Collor de Mello se apoia em um novo personagem, mais uma estratégia como foi a vitoriosa de sua reeleição, em uma disputa com uma única vaga. Nesse sentido, ele precisa sim renovar seu público e estar bem posicionado no xadrez. Então, as opções – além do instagram e das outras redes sociais do senador – está a aproximação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tentar ser o candidato do governo federal em Alagoas. Isso garantiria sua presença no bloco político comandado pelo deputado federal Arthur Lira (Progressistas), que não deve ser o candidato ao governo, mas deve dar as cartas nesse bloco.

Caso consiga, Fernando Collor de Mello será o candidato ao Senado em um grupo forte. Caso Renan Filho dispute também o Senado Federal e enfrente Collor, o fará fora do Executivo. A máquina pública, muito provavelmente, será ocupada pelo bloco de Arthur Lira por meio de uma eleição indireta, já que o aliado de Lira – o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (Solidariedade) – é que terá mais força para conduzir o processo de escolha do governador tampão.

Quem olha para as redes sociais e observa um Collor espontâneo, cheio de graça e ironia, não ache que o senador que se renovou o fez por acaso. Tudo tem método. E Collor continua sendo o mesmo, apenas agora aposta em um novo personagem que fez de si. Esse Collor é bem virtual mesmo

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