O que esperar da presidência de Arthur Lira? Eis a grande pergunta…

02/02/2021 11:52 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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A vitória do deputado federal alagoano Arthur Lira (PP), na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, é também uma vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Isso é um fato óbvio. O chefe do Executivo ganha mais espaço nas duas casas do Congresso Nacional, o que lhe possibilita maior contraposição ao Supremo Tribunal Federal (STF), que – no jogo político – tem se comportado como Legislativo e Executivo, dentro de um ativismo jurídico peculiar.

Para Bolsonaro é importantíssimo esses espaços. O presidente demonstra ter uma resiliência altíssima. Afinal, diante das críticas sofridas diariamente, dos pedidos de impeachment que ecoam em parcela significativa da mídia, que possui uma visão alinhada às esquerdas, dos próprios erros e dos erros que lhe são atribuídos, o presidente segue como o favorito para a disputa presidencial de 2022.

Melhorar a relação com as casas legislativas, o fortalece ainda mais na disputa.

Jair Bolsonaro ganha aliados para equilibrar o jogo. Claro, isso tem um preço. Se há algo que Arthur Lira saberá fazer é apresentar a conta.

Não entrarei no mérito das articulações, pois o que há de criticável agora é o que há desde sempre no tal presidencialismo brasileiro em nome da suposta governabilidade. Acontece que muitos dos críticos de plantão são os mesmos que silenciavam no passado quando os “operadores petistas” compravam deputados no varejo e no atacado, por meio de mensalão e petrolão.

Todavia, há sim o que criticar e questionar na aproximação de Bolsonaro ao Centrão, ao bloco mais fisiológico daquela Casa. Afinal, a principal promessa do presidente era uma nova forma de fazer política. O que acontece é que Jair Bolsonaro se deparou com a realidade que trouxe mais dificuldades do que aquelas já previstas no embate com a esquerda.

Há muitos críticos honestos que possuem parcela de razão ao cobrarem de Bolsonaro a coerência, mas é inegável que há muita indignação fingida. Em determinados setores da mídia e da intelectualidade orgânica, não importa o que Bolsonaro faça. Se é ele que faz, é errado. Não importa o que é dito, mas quem diz.

Dito isso, óbvio que Arthur Lira deve apresentar uma fatura em futuro próximo. É próprio da natureza do Centrão que se move – como mostra a recente história política do país – por cargos, benesses e influências. É ficar de olho nas movimentações de ocupações de espaços políticos em Brasília, dentro do governo federal, principalmente.

Em todo caso, o que esperar de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados? Bem, em primeiro lugar significa o “fim da Era Rodrigo Maia”. O ex-presidente trabalhou em oposição às pautas do governo federal, deixou caducar medidas provisórias e trocou as mais diversas farpas com Bolsonaro e ministros do Executivo.

Com Arthur Lira, melhora o ambiente para o Executivo. Dessa forma, é o momento de encaminhar matérias, como as reformas estruturais, dissipar tempestades. Quanto mais ágil o governo federal agir, melhor será o ambiente. Lira também assumiu um compromisso com uma profunda reforma eleitoral já de olho nas eleições de 2022. A eleição municipal serviu de laboratório para se avaliar situações como as “novas coligações”.

O discurso de Lira – entretanto – foi prometendo “neutralidade” na Câmara dos Deputados, prometendo mais voz ao plenário do que à Mesa Diretora. Nesse ponto, é válido esperar a prática. Afinal, a neutralidade prometida por Lira é difícil, diante das articulações que o levaram à posição na qual se encontra.

Arthur Lira se firma como um articulador, tem influência em muitos deputados federais do Centrão. Isso fará diferença em votações importantes. Dentro desse bloco, há negociações entre o governo federal e partidos, como o Podemos. Então, Arthur Lira sendo um aliado do governo federal, terá um papel único dentro do Legislativo, seja como presidente (já que pauta a Casa) ou como liderança (a influência que possui entre muitos colegas).

Vale salientar que a posição de Lira em Brasília também o fortalece para as eleições estaduais. Dentro do grupo político no qual se encontra o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (Solidariedade), Arthur Lira é o principal nome de oposição ao atual governador Renan Filho (MDB).

Caso Renan Filho deixe o Palácio República dos Palmares – no próximo ano – para ser candidato ao Senado Federal, é Marcelo Victor quem se torna o principal articulador para eleger indiretamente o “governador tampão”. Obviamente que será o próprio Marcelo Victor ou um nome de seu grupo. Nesse contexto, a construção de uma chapa que vai se opor a Renan Filho.

Essa é a razão pela qual – por exemplo – o senador Fernando Collor de Mello (PROS) também se aproxima do presidente Jair Bolsonaro e do deputado federal Arthur Lira. A lógica de Collor é conseguir ser o candidato ao Senado Federal com o apoio do presidente, mas dentro do grupo político de Lira. Em Alagoas e em Brasília, há muito poder nas mãos do Progressista...

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