Redução da tarifa de ônibus: empresas falam da necessidade de equilíbrio do sistema

25/01/2021 11:45 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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A redução do valor da tarifa de ônibus em Maceió, assinada por decreto pelo prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB), é um benefício para a população. Isso é indiscutível. Para o trabalhador assalariado, essa é uma economia sentida ao final de cada semana, mês e ano.

Se os estudos do Executivo perceberam o espaço para isso e a ação é tomada de maneira pensada, calculando o impacto imediato e em um futuro um pouco mais distante, de forma a não desequilibrar de vez o sistema, preservar os cofres públicos (em caso de subsídios milionários), e assegurar empregos, JHC merece aplausos.

Afinal, para além da redução imediata pelo decreto, é preciso ter uma perspectiva em relação aos próximos anos, tornando o sistema viável e possibilitando – no médio e longo prazo – os investimentos necessários a um transporte público de qualidade.

Como o Executivo atual criou uma Comissão para estudar o assunto, quero crer que haja uma base sólida para a decisão de JHC. Logo, seria interessante, o detalhamento de tudo que baseou a decisão do prefeito.

A questão – portanto - é a transparência em relação a esses estudos, feitos por uma Comissão instituída pelo Executivo municipal, para que a população tenha a exata noção do que está ocorrendo. Pois, caso – ao contrário do que se espera – se tenha adotado as velhas práticas estatistas de congelamento de preços, redução na marra, ferindo a lógica de mercado, a boa nova de agora pode, em um curto espaço de tempo, representar problemas graves para o sistema, acarretando em perda de qualidade do serviço, demissões, dentre outros problemas.

É uma realidade (queira alguns ou não), que as empresas de ônibus não são entidades filantrópicas. Logo, trabalham com base na ideia de lucro.

Quando esse lucro é atingido em função do excesso de gratuidades, valores que não sustentam o sistema etc, os problemas chegam. E aí, caros leitores, não sei se a viabilidade – ainda mais diante da pandemia do novo coronavírus que acarretou perdas para muitos setores e trabalhadores – é possível diante do valor estipulado por decreto. Se for, ótimo. De fato, é algo necessário ao trabalhador. Quanto mais barata a tarifa, melhor.

É por essa razão que se faz necessário – pois embates com empresários podem surgir – que a Prefeitura seja extremamente transparente em relação aos critérios que utilizou para chegar ao valor de R$ 3,35, que começou a ser praticado nessa segunda-feira.

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano já colocou a necessidade de uma ajuda monetária do Executivo municipal para o equilíbrio econômico do sistema. A pergunta ao prefeito JHC é: já existe algo nesse sentido? Haverá isso? Quanto isso custará – caso haja – aos cofres públicos? O próprio Executivo municipal destacou que tem problemas sérios com as contas públicas. A atual gestão já falou até em rombo milionário deixado pela administração passada. Se há uma conversa com o setor empresarial, em nome do zelo com a coisa pública, ela precisa ser o mais transparente possível.

Vale salientar que o prefeito JHC falou em reduzir a passagem em 30% no primeiro dia de governo. Porém, diferente do prometido no calor das emoções de uma campanha política, foi necessária a criação de uma comissão, cinco dias depois de JHC assumir o cargo. O que demonstrou responsabilidade do gestor para com o assunto. Importante passo.

Não se trata de ser contra a redução da tarifa. Volto a frisar: a redução é boa! A questão é saber se essa política vai ter o efeito esperado ou trará problemas no futuro. As empresas – por exemplo – destacam que “necessitam de retribuição monetária urgente para manutenção do equilíbrio econômico financeiro, de forma a manter o serviço que é essencial, funcionando na cidade de Maceió de forma regular, confortável e segura”.

Quem vai dizer se isso é real ou não são os números. Que a Prefeitura mostre os estudos feitos pela Comissão. Pois, do outro lado se alega que as empresas “sofrem devido à falta de aportes público e financeiro para alinhar os custos necessários com a receita percebida, o que já ocorre nos últimos três anos, devido a retração dos passageiros e também o crescimento do transporte que atua forma clandestina e desleal”. Ainda segue: “com o fim do programa do Governo Federal de Auxílio Emergencial, a situação passa ser mais crítica, pois as empresas estão com dificuldades de honrar seus compromissos como pagamentos de folhas salariais, insumos, itens essenciais para manter o sistema funcionando”.

O medo aqui é que sobre para o trabalhador dessas empresas mais uma vez. Sempre a corda arrebenta do lado mais fraco.

Na manhã de hoje, por exemplo, o CadaMinuto já traz – em função da situação do sistema em Maceió – a informação de que haverá uma série de paralisações e atrasos nas saídas dos ônibus das garagens de ônibus em Maceió. Não tem relação direta com o assunto de agora, mas pode ser uma realidade agravada.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviários (Sinttro), Sandro Régis, as empresas estão adotando algumas medidas internas que vem retirando alguns benefícios conquistados pelos trabalhadores. O que é ruim hoje pode se agravar.

A população precisa sim de um sistema de transporte mais barato, mais eficiente e equilibrado. Chegar a esse denominador comum é o grande desafio.

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