O Ministério da Verdade: a lição de 1984 aos nossos dias…

11/01/2021 12:42 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar

Uma das minhas distopias favoritas é a obra 1984 do escritor George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair). Desde que li a primeira edição da obra, pela editoria Globo, vi ali uma construção profética sobre o mundo que nos cerca diante da necessidade de governos, conglomerados e grupos ideológicos se fazerem “as vozes da verdade”.

Isso me fez adquirir quase todas as edições publicadas no Brasil e passar a colecionar a obra.

Um ponto que sempre me chamou a atenção nesse livro é o fictício Ministério da Verdade: uma imensa estrutura organizada para direcionar discursos, revisar a história e sufocar qualquer tipo de voz, opinião ou visão de mundo que destoe daquilo que é oficial, ditado por governos ou pelos que possuem em suas mãos o poder. Dessa forma, por meio da criação de um conceito de crime de pensamento, excluir – ou “cancelar” (termo moderno) – os indesejados do debate público e colocá-los como sendo a escória, o mal ou tudo aquilo que deve ser evitado.

Assim, sem o confronto de opiniões, sem as análises que levam em conta todos os lados, cria-se um discurso hegemônico que desinforma e, nesse sentido, tudo o que foge a esse discurso passa a ser visto como extremismo. Logo, não merece existir. É o controle de tudo por meio da posse da linguagem e dos meios de comunicação, promovendo uma profunda revolução cultural que leva em conta até mesmo a destruição do próprio idioma. George Orwell chama de “novafala” ou – em algumas traduções - “novilíngua”. Para quem tiver mais de dois neurônios perceberá, de forma clara e inquestionável, que Orwell já se referia ao politicamente correto.

Em nosso mundo, nunca houve tantas ferramentas capazes de direcionar um discurso hegemônico na tentativa de se criar um Ministério da Verdade. As redes sociais – em especial o twitter e o facebook – caminham nesse sentido.

Com a desculpa de serem “entes privados”, acabam por excluir do debate público todos aqueles que fogem às suas agendas políticas ou ideológicas. As redes sociais passam a contribuir com essa hegemonia cultural do politicamente correto.

É a censura prévia com todo o tipo de desculpas que podem ser unificadas e classificadas em um genérico termo: “discurso de ódio”, que só é invocado quando se trata de um “inimigo” da turma da “inteligência orgânica”.

Dessa forma, se os excessos e atos de violência são cometidos pelos amiguinhos da turma do politicamente correto, isso passa. É possível até desejar morte de presidentes, defender o aborto e atos de violência contra aqueles que são considerados “inimigos”. Porém, se são vozes mais conservadoras e distantes do politicamente correto, aí qualquer frase que possa vira alvo merece o ataque imediato, a exclusão e o cancelamento.

Não importa o que é dito, mas sim quem diz. George Orwell não poderia ter sido mais profético. A cultura do cancelamento dos tribunais dos “justiceiros sociais” obedece a uma lógica revolucionária e ideológica que se camufla na tentativa de fingir um “monopólio das virtudes”.

Por isso, caros leitores, mais uma vez falo de George Orwell nessa coluna. Quem pesquisar, verá aqui outros textos sobre esse autor. Atualmente, Orwell se torna imprescindível. Estamos em tempos em que os donos do poder querem construir uma democracia de um lado só, pois eles – os grupos de justiceiros sociais – se acham o bem supremo. Estamos em 1984.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..