A declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil “está quebrado”, dada nesta terça-feira (5), tem repercutido mundialmente e destoa das apresentações de sua equipe econômica. Para o economista Rômulo Sales, ouvido pelo CadaMinuto, a declaração do presidente foi “extremamente infeliz”.
"Chefe, o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia", disse o presidente a apoiadores.
Rômulo disse que a afirmação do mandatário da nação, sobre o “Brasil estar quebrado”, pode estar certa dependendo da perspectiva. O economista listou os fatos ligados ao governo Bolsonaro que, para ele, apontam um “país quebrado”.
“Se for o Brasil dos assalariados, que desde que ele assumiu a presidência, não tem aumento real do salário mínimo; se for para os 14 milhões de brasileiros que estão desempregados; se for para aqueles que ficarão muito em breve sem auxílio emergencial; para aqueles que esperam mais agilidade no combate à covid; para a população que mais sofre com os aumentos constantes do combustível e planos de saúde; que foram penalizados com a disparada do preço do arroz; que tiveram suas economias domésticas prejudicadas em função da desvalorização do Real pode ser sim que o presidente esteja certo”, enfatiza o economista.
Rômulo Sales ressalta que Bolsonaro teria sido mais coerente se tivesse afirmado que uma parte do Brasil está quebrada e desassistida por culpa única e exclusiva do governo federal. O economista afirma que há um grupo seleto de pessoas que expandiram suas fortunas e que continuam sem ser tributadas, e que para essas o presidente “pode estar errado”.
Em relação a declaração de “não posso fazer nada”, também dita pelo presidente, Sales diz que um dos grandes exemplos de entrave da recuperação econômica do país é PEC 241, que determina que o gasto máximo que o governo pode ter é equivalente ao Orçamento do ano anterior, corrigido apenas pela inflação.
Incluída na Constituição em dezembro de 2016, durante o governo Michel Temer (MDB), o teto está em vigor desde 2017 e deve durar 20 anos. Atualmente durante a pandemia do novo coronavírus, membros do governo defendem a flexibilização para permitir o aumento de gastos públicos na recuperação da crise causada pelo vírus.
“A PEC que limita os gastos por 20 anos é um dos grandes entraves de recuperação econômica, por exemplo. A queda da Selic para 2% ao ano, importante para estimular a economia, mas não é suficiente”, explica Sales.
O economista conclui dizendo que as falas do presidente parecem revelar sua falta de confiança e frustração nas próprias declarações dadas por ele ao assumir a Presidência.
“Para um governo que assumiu com bravatas de que reformas e privatizações seriam suficientes para salvar a economia em 1 ano, a frustração parece estar se desvelando nas falas do presidente”, disse.
Nesta quarta-feira (6), um dia pós afirmar que o país estava quebrado, Bolsonaro ironizou que “O Brasil está bem, uma maravilha”. O presidente voltou a apontar a imprensa como a culpada pela repercussão negativa de suas declarações.
“Confusão, você viu? Eu falando que o Brasil estava quebrado. Não, o Brasil está bem, uma maravilha. A imprensa sem vergonha, essa imprensa sem vergonha faz uma onda terrível aí. Para a imprensa, bom estava Lula, Dilma, gastando R$ 3 bilhões por ano para eles”, disse Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada.
*Estagiária, sob supervisão da editoria