Ao que tudo indica, os que menos decidem na eleição da Câmara Municipal são os vereadores eleitos

28/12/2020 11:46 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Ao que tudo indica, quem menos consegue conduzir o processo da eleição da futura Mesa Diretora da Câmara Municipal de Maceió são os vereadores. São tantas as influências externas que nenhuma candidatura – além da do vereador reeleito Galba Neto (MDB), que possui o apoio do prefeito eleito João Henrique Caldas, o JHC (PSB) – consegue se manter.

E olhe que – de acordo com fontes – o nome de Galba Netto sequer é uma unanimidade entre os pares que o escolheram para presidente. Acontece que ele tem um padrinho forte.

Além do dedo de JHC no processo, há também – conforme informações de bastidores – a influência direta do deputado federal Arthur Lira (PP), de deputados estaduais, dentre eles Davi Maia (Democratas), e por aí vai. As idas e vindas já geraram a desistência da candidatura do atual presidente da Casa, Kelmann Vieira (Podemos) e da emedebista Olívia Tenório.

O que isso deixa claro? Nenhum dos grupos possui um projeto para a Casa de Mário Guimarães, mas a aglutinação dos nomes – sejam daqueles que apoiam a candidatura de Galba Neto, ou dos que buscam um postulante de oposição ao emedebista – se faz por uma miscelânea de interesses individuais que serão atendidos por quem tem mais poder em mãos. No caso em tela, a resposta é óbvia: quem possui maior poder de barganha para com os edis é o prefeito eleito JHC.

Então, para os grupos que se formam nessa eleição parece valer o dito por George Orwell em A Fazenda dos Animais (ou A Revolução dos Bichos): todos iguais, mas uns mais iguais que os outros. Se alguém nutriu expectativas de novidades nesse processo, eis que se deparou com a desnutrição provocada pelo deserto de ideias que só atende ao chamado das velhas práticas da política alagoana. O pior é o que o que não deveria ser visto com naturalidade se torna a normalidade e a constância independente das peças que sejam mudadas no Legislativo.

Há até quem queira fazer a diferença, mas não encontra correlação de forças.

JHC querer fazer bancada forte e ter como aliado o presidente da Casa é natural. A questão é o que JHC colocará na mesa de negociações para fazer prevalecer o seu candidato. Além disso, o que os demais agentes políticos externos ao parlamento mirim podem oferecer, já que também entra em cena a configuração para o ano de 2022. Se JHC abrir demais as portas do Executivo já inicia o seu mandato contrariando muito do que foi o seu discurso de campanha. Afinal, a nova política envolvia justamente negar o jogo do “toma lá dá cá”. E aí, não sejamos hipócritas: essa moeda é a melhor entendida por muitos dos edis.

Afinal, foi essa relação – com base na troca de cargos – que gerou o loteamento da Saúde, como se observa nas indicações atuais para as unidades da pasta. Quase todos os vereadores por Maceió adoram ter um posto de Saúde para chamar de seu. Além disso, foi também essa relação que transformou o discurso dos poderes independentes e harmônicos em pura balela, pois facilmente o eleito para o Executivo conquistava a maioria na Casa de Mário Guimarães e praticamente conduzia o parlamento à subserviência histórica.

A atual Câmara Municipal de Maceió é composta por novatos que poderiam – caso quisessem – dar um gás novo à Casa e conquistar uma maior autonomia justamente no processo de eleição de seu presidente, para – dessa forma – darem melhor identidade aos seus mandatos. Mas, eles querem isso? Vale ressaltar que a busca por essa autonomia não significa fazer oposição ao prefeito eleito, mas sim discutir pautas dentro do mérito que essas possuem, inclusive estabelecendo as pontes com o Executivo em matérias importantes.

É legítimo que JHC busque construir bancada ampla, que queira influir na eleição da Mesa Diretora, mas dentro dos limites da separação de poderes e não – como parece ser, com base nas informações que estão sendo divulgadas – sendo um rolo compressor em conjunto com seu bloco político.

A saída do vereador eleito João Catunda do “grupo dos 12”  (agora grupo dos 11, mas ninguém sabe até quando 11) para então apoiar Galba Netto (MDB) não se trata apenas de um mero pedido do prefeito. Aqui é de se indagar a Catunda: quais foram os argumentos usados por JHC? Houve também – como se coloca nos bastidores – a influência direta do deputado federal Arthur Lira. Recentemente, o jornalista Bernardino Souto Maior trouxe a informação de que Catunda pode surgir, por interesse de Lira, como futuro presidente da Casa de Mário Guimarães. Confere?

Olívia Tenório não ter conseguido sustentar seu nome na disputa também é um sintoma. O grupo de oposição a Galba Netto, em um movimento claro, tentou buscar o nome de Samyr Malta (PTC) como um candidato que trouxesse votos do outro lado. Porém, a resposta foi justamente a mudança na posição de João Catunda. Foi uma contrarresposta construída pelos políticos que não são vereadores.

E assim, a futura presidência da Câmara vai sendo decidida por peças que não foram eleitas para o Legislativo municipal, mas que sabem conduzir as mentes dos edis por saberem de seus interesses individuais. A tal independência do Legislativo é só uma peça no expositor do supermercado político. Ela serve para discurso, mas nunca tem efetividade prática. O parlamento mirim tem tudo para iniciar com uma legislatura que não trará novidade alguma. Tudo como antes no quartel.

O detalhe é que quanto mais fácil alguém se dobra, mais mostra que recebeu mais do que aquilo que realmente vale e já despreza – na largada – o compromisso assumido com seus próprios eleitores, caso esses tenham escolhido seus vereadores de forma livre e consciente...mas esse é outro papo, pois todo mundo sabe como se procedem algumas eleições tradicionais…

Todavia, nada disso é exclusividade da Câmara Municipal de Maceió. Parece ser um “vale a pena ver de novo” de todos os parlamentos, inclusive no processo que pode levar Lira à presidência do Congresso Nacional, o que muda é a escala e os interesses. Quase todos iguais, mas uns mais iguais e poderosos que os outros com base naquilo que tem a oferecer...

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