JHC terá imensos desafios pela frente: uma cidade sem capacidade de investimentos

30/11/2020 09:39 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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O prefeito eleito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB), terá imensos desafios pela frente na condução dos destinos da capital alagoana pelos próximos quatro anos. Independente do que pense como projeto para o Executivo municipal, Maceió terá uma realidade agravada pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A queda na receita aliada a uma já baixa capacidade de investimentos torna o município ainda mais dependente do governo federal. 

Isso por si só requer pensar em Reforma Administrativa, na questão previdenciária e na lista de prioridades em relação às obras a serem feitas para que se garantam recursos aos serviços públicos que necessitam de melhoria na oferta. Eis a equação do próximo prefeito. 

Construir pontes, nesse caso, é fundamental para criar uma boa interlocução com os demais poderes, desarmando palanques – no caso do governo estadual, que é comandado por Renan Filho (MDB) – e tendo a articulação com a União apresentando bons projetos, que só sairão do papel por meio de parceria, gostemos ou não dos governos eleitos. 

Evidentemente, esses pontos não dependem apenas do prefeito eleito, pois é necessário que Renan Filho também desarme esse palanque, em função da maneira como se envolveu diretamente na campanha de Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). 

O processo eleitoral acirrado provocou ranhuras e modifica o cenário para a disputa de 2022, mas é preciso que, do ponto de vista da administração, esses grupos políticos saibam separar as coisas e tudo seja discutido em seu tempo, para que a população não seja a maior penalizada, sobretudo os mais vulneráveis. A mensagem de reconhecimento de derrota por parte de Alfredo Gaspar de Mendonça – ainda no dia de ontem – aponta nesse sentido: o da pacificação do ambiente para dar início a uma transição que envolve grupos políticos rivais. 

Mas esse é só o ponto inicial. 

A realidade que se impõe vai cobrar de JHC a capacidade de criar em Maceió um bom ambiente de negócios para geração de emprego e renda, e estímulo ao empreendedorismo e ao pequeno e médio negócio. Afinal, a capital alagoana está em um Estado que tem uma das maiores taxas de desocupação do país: 20%. 

O prefeito – pela competência da esfera administrativa e dentro do pacto federativo que temos – pode pouco, mas ainda assim pode promover a desburocratização, a desregulação de setores de menor risco, saber lidar com o mercado informal que cresceu sem perseguições, mas entendendo a necessidade da população que nele se encontra. É preciso o chefe do Executivo municipal ser parceiro das novas tecnologias que estimulam o empreendedorismo, como ocorre no setor de transportes e serviços. Além disso, rever o Plano Diretor da cidade, diante de problemas que impactam em vários campos: da habitação à economia.

Fortalecer o segundo setor é prioritário, atrair novos players ao mercado também. Além disso, fazer mais com menos. Nesse sentido, nasce a necessidade de uma profunda reforma administrativa que reduza significativamente o custeio com as “atividades-meio” para melhorar a prestação de serviços à população e manter a máquina sem elevar impostos, tornando possível criar atrativos para que a capital alagoana se torne competitiva aos olhos do Brasil e o do mundo. 

JHC deve ainda evitar promessas mirabolantes e ilusórias que não dependem apenas da vontade da administração municipal. Por conta dessas promessas, Rui Palmeira – por exemplo – deixará a administração sem cumprir o De Frente Pra Lagoa, que seria o início da revitalização da orla lagunar. Os recursos a serem garantidos eram federais. JHC tem, em casa, um exemplo disso: o engajamento do ex-deputado federal João Caldas, pai do prefeito eleito, na vinda do utópico estaleiro de Alagoas. Um projeto que foi um futuro que não veio e depois descobrimos bem as razões de não ter vindo...

Um desafio maior ainda de JHC é lidar com uma Prefeitura que não terá o aval da União para empréstimos em função da atual situação financeira, como já detalhou a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismos (Fecomércio/AL), ao descrever essa realidade. A tarefa do novo prefeito é – portanto – hercúlea. 

Vale ressaltar que, paralelamente a tudo isso, cai no colo de JHC a questão dos bairros que estão enfrentando graves problemas por conta das atividades de mineração da Braskem. É preciso um projeto para aquelas áreas da cidade, é preciso foco nas pessoas que lá se encontravam ou ainda se encontram, mas, acima de tudo, é preciso de um diagnóstico mais preciso sobre o que realmente acontece nessas regiões, inclusive com as possíveis projeções de futuro. Os diagnósticos até aqui, apesar de reconhecerem o problema e atestarem as relocações, não vislumbram ainda um projeto de futuro para reinserir essas áreas – da forma possível – dentro da cidade. Trata-se de uma das maiores tragédias urbanas enfrentadas no Brasil. 

São tantos os problemas nas mãos de JHC que seu primeiro discurso, depois de eleito, falando em concursos públicos e auditorias passam longe das prioridades. Não significa dizer que não são pontos importantes. Todavia, concursos dependerão da capacidade do município e não simplesmente do desejo do prefeito eleito. Eis aí algo que os números concretos podem atropelar a promessa de JHC, ainda mais diante das incertezas para 2021. E as auditorias devem ser obrigação de uma equipe de transição que busque a total verdade sobre o que vai ser administrado em breve. É o dever de casa, digamos assim. 

Em debates, ao falar da administração, JHC se comprometeu com a desburocratização. Então, que possa tirar da cabeça a ideia de criar um órgão específico para o caso de obras paralisadas etc. Atribua essas questões às pastas correspondentes, sem criar novas estruturas. O momento exige fazer mais com menos, enxugar a máquina e buscar nomeações que, apesar de políticas (critérios legítimos), sejam também técnicas. E aí, caro leitor, não se engane: o prefeito terá que ter coragem de colocar de escanteio alguns aliados que só visam o espaço político e que rompem fácil com que não estende a mão, vide história política do vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), que já passeou pelos grupos de todos os adversários políticos de JHC. É aquela velha esquerda mofada e de pensamento retrógrado capaz de ainda ostentar quadros do Che Guevara para fingir ideais românticos. Ela chega à Prefeitura com JHC. 

Por fim, JHC deve sim comemorar sua vitória que é legítima. Natural a euforia do momento após uma campanha vitoriosa. O trabalho – entretanto – começa agora. E mesmo já tendo eu criticado as duas campanhas, os aliados de um estamento camaleônico que ambas trazem e ter afirmado que não vejo o “novo” o a “verdadeira mudança” em lugar algum do que foi o segundo turno, desejo sorte ao futuro prefeito e que ele possa contribuir com a cidade nos próximos quatro anos e que, em 2024, tenhamos um município melhor, mesmo diante dos desafios aqui listado. Diga-se de passagem: não são todos. 

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