No segundo turno de Maceió, a palavra “mudança” não faz muito sentido…

23/11/2020 10:37 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
Image

A palavra “mudança” tem sido vulgarizada nesse pleito eleitoral. Se há um vocábulo que nenhum dos dois grupos políticos que chegaram ao segundo turno podem usar é esse: mudança. O motivo para isso é bastante simples: todos possuem ligações com o que há de mais velho e tradicional na política alagoana, incluindo os seus fisiologismos. É certo que cada eleição tem seu contexto e cada contexto força a uma narrativa, mas usar o termo mudança, novidade ou qualquer outro semelhante é só narrativa mesmo.

Afinal, esmiuçando os grupos o que mais se vê é quem pula de lado conforme as circunstâncias, vide o que acontece com Ronaldo Lessa, que passeou por quase todas as alianças possíveis nas disputas eleitorais.

O fato é que quando se coloca um frio olhar racional sobre as forças políticas que formam os blocos de João Henrique Caldas, o JHC (PSB), e de Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB), o que se tem são políticos que sempre transitaram pelos mais diversos governos e ambientes de Alagoas, inclusive se cruzando em determinados momentos da recente história política. As semelhanças com as quais o eleitor se depara justifica o acirramento, bem como uma possível abstenção alta que pode definir o segundo turno.

É válido lembrar que no primeiro turno, o número de eleitos que se abstiveram do processo é maior do que a votação obtida por Alfredo Gaspar, que venceu essa etapa inicial. Consequentemente, também é maior do que a de JHC. Some-se a isso o número de brancos e nulos – que não entra na conta dos válidos – e verás parcela do eleitorado que simplesmente rejeitou essas opções postas. O pleito eleitoral de Alagoas não traz novidades.

Agora, se olharmos apenas para os candidatos, a análise pode ser outra. Alfredo Gaspar nunca havia sido “testado” em uma eleição. Logo, tinha consigo a imagem de um “outsider” com méritos, como o bom comando da pasta da Segurança Pública no governo de Renan Filho (MDB). De fato, Gaspar – ainda que não pudesse ter sido secretário – conseguiu bons dados em um momento crucial, em que o combate à criminalidade era uma necessidade.

O trabalho dele teve reconhecimento por significativa parte da sociedade. Alfredo Gaspar já demonstrava – nas discussões pré-eleitorais de 2018 – vontade de partir para a política e tinha capital para tanto. Se teria votos ou não, aí foi uma incógnita que já não pode ser resolvida, mas tinha apelo popular para incomodar os caciques. O contexto aqui é outro e colocou Alfredo Gaspar ao lado dos caciques que, anteriormente, se incomodavam com o seu nome.

Alfredo Gaspar perdeu muito do discurso ao se aliar as duas máquinas públicas. Pois o que trazia de novidade foi ofuscado pela continuidade das gestões que o apoiam. O desafio para Alfredo Gaspar passou a ser frisar a sua autonomia, principalmente para uma parcela de público que o apoiou, mas que rejeita Renan Filho, o senador Renan Calheiros e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (sem partido).

Apesar de Renan Filho e Rui terem boa avaliação – conforme as recentes pesquisas de opinião – possuem rejeição também. É natural. Alfredo Gaspar passou a ter o ônus e o bônus disso. Teve o desafio de não perder a identidade da mudança, mas falar dos apoios recebidos justificando os atos desses governos. Daí o slogan: o que está bom será mantido, mas o que não está, mudará. Assim, resgatar um tipo de eleitor e também conquistar o outro. Buscar a melhor soma entre perdas e ganhos.

No bloco de Alfredo Gaspar, há os fisiológicos, mas há também os que possuem posturas um tanto quanto progressistas, como as defendidas por Maurício Quintella Lessa (secretário estadual de Infraestrutura) e isso trouxe dúvidas para um eleitor de direita e centro-direita que caminhava – anteriormente – mais ao lado de Alfredo Gaspar que do lado de JHC. Pela votação obtida por Josan Leite (Patriotas) no primeiro turno, eis que pode ser um eleitor a fazer diferença. JHC sabe disso e, por essa razão, assinou uma carta de compromisso com o movimento Pró-Vida, que tem o perfil mais à direita e com a presença de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. A briga é por votos.

Alfredo Gaspar – dentro desse eleitorado – conseguiu o apoio do Movimento Brasil (MBR) nos últimos dias. Uma verdade seja dita: pelo histórico pessoal, Alfredo Gaspar tem mais proximidade com os ideais desses grupos do que JHC, que se encontra em um partido socialista: o PSB. O candidato do PSB também tem como vice um esquerdista: Ronaldo Lessa (PDT). Fora isso, há o apoio – ainda que escondido – do ex-deputado federal João Caldas, que se envolveu em escândalos nacionais.

Esquerda e Direita são termos que não entram tanto em uma eleição municipal, pois ela foca mais na zeladoria de uma cidade. No entanto, em um país polarizado, tal discussão pode sim fazer diferença.

JHC investe mais – por ser a oposição às máquinas públicas – na palavra mudança. Todavia, esse discurso também tem peso para ele. Não é uma mudança tão grande assim. Ao lado do deputado federal que quer ser prefeito está, por exemplo, Ronaldo Lessa que trouxe a esquerda alagoana ao poder quando foi prefeito e governador do Estado. Lessa – em momentos bem recentes – esteve ao lado de Renan Filho, sendo homem de confiança dos Calheiros na organização da chapa que o elegeu deputado federal.

Além disso, disputou o governo do Estado com o apoio de Renan Calheiros e de Renan Filho, quando esse se elegeu deputado federal. Além de Lessa, houve a presença de Kátia Born e de outros nomes. Na busca pelo eleitor de direita, JHC também enfrenta contradições. Evita assumir que seu palanque faz parte de um projeto nacional que tem o apoio declarado de Ciro Gomes, que falou na semana passada da importância de elegê-lo em Maceió. JHC tenta demonstra a boa relação com o governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido). Ele evita a polarização para transitar em todo o eleitorado. Do ponto de vista político, é uma estratégia.

JHC também angariou apoio de dois bolsonaristas: mantém o deputado estadual Cabo Bebeto (PTC) ao seu lado e trouxe um dos líderes do PSL, Flávio Moreno, que foi candidato a vereador se apoiando na imagem do presidente da República.

O fato é que, para os dois lados, cada voto é importante. Então, se evita a polêmica de se posicionar claramente em um espectro político, misturando alhos e bugalhos nas duas chapas. A exceção, pela primeira vez no pleito, foi Alfredo Gaspar ter atacado a “esquerda radical” no debate da TV Pajuçara. O resultado disso? Talvez as pesquisas possam medir. JHC não foi para esse debate apresentando a desculpa esfarrapada de que o evento seria uma “arapuca”. O resultado disso? Talvez as pesquisas possam medir.

Diante desse resumo, caro eleitor (a), o que vemos é o seguinte: do ponto de vista pessoal, candidatos que possuem méritos e defeitos. Alfredo Gaspar carrega méritos da pasta de Segurança Pública, do destaque nacional que teve no grupo de enfrentamento ao crime organizado, dentre outros. JHC – por exemplo – teve uma boa atuação na Assembleia Legislativa, quando bateu forte na Casa de Tavares Bastos ao revelar uma “caixa-preta” de supostos desvios de recursos.

Para o eleitor de direita, não é uma escolha fácil. Para o eleitor de esquerda, também não. Pois se for honesto com o que acredita e defende, verá que em ambos os lados há o que rejeita. Para o eleitor que não leva em consideração esses espectros, nos dois grupos há o que mereça críticas e cobranças. Os mais apaixonados – de um lado e do outro – evidentemente não verão isso, verão apenas as suas paixões. O fato é que a eleição é acirrada tanto pelas características positivas dos dois lados quanto pelas negativas. Maceió chegou ao segundo turno sem novidades...

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..