Luciano Barbosa paga o preço previsível por ter desafiado o MDB

10/11/2020 10:23 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
Image

Longe das questões jurídicas, pois para essas é preciso mais conhecimento para se analisar o caso, é possível cravar, sem medo de errar, que o vice-governador Luciano Barbosa (ex-MDB) pagou o preço previsível por desafiar o clã que comanda o seu partido: o senador Renan Calheiro (MDB) e o governador Renan Filho (MDB). 

Todavia, longe de uma vítima das circunstâncias, Luciano Barbosa sempre soube – e não adianta fingir que não! – o que era a “cozinha” de seu partido. É lá, distante dos holofotes midiáticos, que o tabuleiro do xadrez político é temperado. Na política alagoana, o senador Renan Calheiros sempre foi um polvo de múltiplos tentáculos. Luciano Barbosa quis ficar fora do radar ao achar que poderia pilotar um supersônico. Resultado? Teve o teco-teco abatido.

O MDB, em Alagoas, sempre foi a vontade dos Calheiros, armando o tabuleiro propício com o objetivo de manutenção de poder de forma bem pragmática. Não é por acaso aquele discurso e “dilmês” em que Renan Calheiros dizia que o novo Renan estava conversando com o velho Renan. Bem, o novo e o velho Renan são paralelas que se cruzam no vértice do fisiologismo. 

Assim, a sigla se orgulha de seus prefeitos, de ter chegado ao Palácio República dos Palmares e de arquitetar, já agora, o cenário para 2022, quando o governador Renan Filho pretende disputar o Senado Federal.

Todavia, nessa construção havia uma pedra no meio do caminho. Essa pedra se chamava Luciano Barbosa, o vice-governador. Barbosa articulou – dentro da esfera municipal da legenda – sua candidatura à Prefeitura de Arapiraca, inclusive com o convencimento e aceitação do deputado estadual Ricardo Nezinho (MDB). 

Quando o senador Renan Calheiros – em entrevista recente – diz que foi pego de surpresa pelo desejo indomável de Luciano Barbosa querendo ser prefeito da segunda mais importante cidade do Estado de Alagoas, o senador emedebista mente. Todos os paralelepípedos de Arapiraca sabiam que Barbosa estava na disputa. A imprensa já havia tratado do assunto milhares de vezes. É ingenuidade acreditar que a condição de Barbosa escapasse aos olhos atentos do enxadrista-mor da política alagoana. 

O fato é que Luciano Barbosa encontrou as brechas no MDB e bancou. A “democracia calheirista” não perdoaria o que fugiu ao seu controle. Por maioria dos votos – dentro da instancia partidária – Luciano Barbosa foi expulso da legenda. E quem se oporia a Renan Calheiros correndo o risco de ser um novo Luciano Barbosa? O ex-deputado Ronaldo Medeiros e outros emedebistas? Não! Não são loucos. Afinal, há momentos em que Renan Calheiros faz inveja a uma personagem de Marlon Brando em um filme aí...

Porém, Luciano Barbosa fica longe de ser uma vítima das circunstâncias. Sempre soube do local onde fez sua trajetória política. Sempre soube das regras, sempre soube como os projetos são traçados e se submeteu a tudo isso quando era conveniente. Natural que o grupo lhe cobrasse a fidelidade, ainda mais estando ele na posição que se encontrava. Não é qualquer um que os Calheiros permitiriam chegar aonde chegou. Não mesmo! 

Quem trata de justiça ou injustiça nos fatos que se desdobraram é a Justiça Eleitoral. Não eu. Daí, nem comentar tecnicamente a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Particularmente, e falando apenas de política, até acho que o vice-governador levou uma rasteira em função dos interesses de 2022. Afinal, seria muito perigoso para o grupo político capitaneado pelo MDB permitir a chegada de seus rivais ao Palácio República dos Palmares no momento em que Renan Filho se lança candidato ao Senado. Porém, Luciano Barbosa leva a rasteira depois de ter hipotecado as próprias pernas. 

Todavia, voltando à condição de vice, Barbosa poderá – caso Renan Filho saia do governo para disputar o Senado – ser o Cavalo de Tróia da oposição ao MDB que, diga-se de passagem, sendo hoje liderada pelo deputado federal Arthur Lira (PP) acaba por se assemelhar à situação posta. Difícil saber qual dos dois grupos ganhará mais terreno nos próximos anos, mas é fácil fazer a previsão de quem mais vai perder: Alagoas!

Agora, sabe o que é interessante nesse caso? Se o candidato a prefeito de Maceió, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) for bom aluno, ele aprenderá as regras da escolinha na qual se matriculou por meio desse episódio. Entenderá Alfredo Gaspar que da turma do fundão até a primeira fila dos coleguinhas, se for hora da aula, é Renan Calheiros que tem a palmatória e, se for hora do recreio, é Renan Calheiros que tem o campo e a bola. Agora desafie...

Não significa dizer que eu não ache que Alfredo Gaspar vá buscar a sua independência. Eu acho que sim. Alfredo Gaspar não deixaria o Ministério Público Estadual se não ambicionasse (no bom sentido) ter sua própria marca na política. É óbvio que sim. Ele vai buscar se impor e administrar do seu jeito, caso seja eleito prefeito. O que estou afirmando é que, diante desses temperamentos, Alfredo Gaspar, caso almeje voos maiores em futuros próximos, vai ter que enfrentar as crises desse casamento, para usar uma metáfora bolsonariana...

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..