A carta de Claudionior Araújo expõe a falência do PSDB de Alagoas: hoje, um coadjuvante nanico

06/11/2020 10:27 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
Image

Desde o processo eleitoral de 2018 que afirmo que os tucanos alagoanos se tornaram os coveiros do PSDB de Alagoas, em especial o prefeito Rui Palmeira (ex-PSDB e agora sem partido) e o senador Rodrigo Cunha (PSDB). O primeiro deixou correr solta uma articulação que faria oposição ao governador Renan Filho (MDB) nas eleições estaduais passadas, em que o próprio Palmeira disputaria o Executivo. Porém, não só desistiu da candidatura como abriu mão de liderar o processo. Hoje, Rui Palmeira é aliado de Renan Filho. 

O erro de Palmeira não foi desistir da candidatura, o que era compreensível e até uma decisão pessoal diante da continuidade de seu mandato na Prefeitura. Há as razões pessoais e políticas. Natural do processo. O erro foi não ser um articulador no grupo para consolidar aquela “oposição” existente. 

Com isso, o atual secretário Maurício Quintella Lessa (PL) deixou a base da administração municipal e foi para o grupo dos Calheiros e o Progressistas assumiu o protagonismo de uma suposta oposição, apresentando Fernando Collor de Mello (PROS) como candidato ao governo. Collor desistiu por ausência de apoio e o ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Lula (atual candidato a vereador pelo Podemos) foi o candidato tampão.

O atabalhoamento daquela oposição fez Renan Filho e o senador Renan Calheiros (MDB) passearem nas eleições. Ali, o PSDB – que já havia comandado o governo do Estado e tinha, na época, as duas maiores prefeituras de Alagoas (Maceió e Arapiraca) – iniciou sua trajetória rumo ao naniquismo no cenário alagoano. O partido que era influente atualmente se resume a um papel coadjuvante na eleição de Maceió e na de outras cidades do interior, incluindo Arapiraca. 

Afinal, Rodrigo Cunha (o segundo coveiro-mor da legenda) assumiu a presidência estadual pela expressiva vitória na disputa pelo Senado Federal. Todavia, Cunha – que vive a se afastar dos caciques, preocupado com sua imagem ligada ao bom-mocismo, e que tanto fala em renovação nos quadros da política – mostrou ter, na prática, um perfil centralizador. Na briga entre ele e Rui Palmeira, o prefeito de Maceió deixou a legenda. Sendo a maior liderança no partido, o senador do PSDB impôs à agremiação o seu próprio projeto político, que incluía a aliança com o deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB), na disputa pela capital alagoana. 

Rodrigo Cunha aposta todas as suas fichas em JHC – segundo informações de bastidores – pensando em 2022. Portanto, pouco importava ao senador o tamanho que o partido teria nas eleições municipais da capital alagoana. O mesmo parece que tem ocorrido em Arapiraca, por conta de uma aproximação entre o tucano e o deputado federal Serverino Pessoa (Republicanos). Severino Pessoa é aquele que – quando deputado estadual – entrava mudo e saia calado da Casa de Tavares Bastos. 

O jeito tucano de Cunha se chocou com a deputada federal Tereza Nelma (PSDB), que tenta eleger sua filha – Teca Nelma (PSDB) – para uma das cadeiras da Câmara Municipal de Maceió. Eis aí o maior nome do PSDB disputando eleição na capital alagoana: Teca Nelma. Tereza Nelma fez o escarcéu acusando Rodrigo Cunha de machismo e todo aquele blá, blá, blá das pautas identitárias, quando na realidade se trata de disputar por poder, projetos políticos e apenas isso. Afinal, independente dessa briga, o PSDB continua sendo o PSDB: a outra lâmina da tesoura de um espectro político puramente esquerdista. A diferença é que agora, ao menos em Alagoas, essa lâmina é nanica. 

Assim será também no país inteiro. Se há uma característica bem visível no PSDB é a seguinte: o partido esconde o que possa fazer de bom para deixar a mostras o que tem de pior. Afinal, nacionalmente, o PSDB é a oposição que toda a esquerda deseja. Fica tudo em casa. Localmente, é uma tartaruga manca sem pressa de atravessar quilômetros de um deserto de ideias. 

A carta de Claudionor Araújo – que na maior parte do tempo na legenda foi um homem de bastidor – expõe isso tudo, ainda que ele não queira. No documento enviado à Executiva Nacional e tornado público pelo próprio Araújo, ele diz que o partido já não é mais o mesmo. Araújo cita Rodrigo Cunha; o recado é óbvio. O senador é o comandante dos tucanos no Estado.

Araújo diz que as decisões de agora são monocráticas e autoritárias. Bem, desconfio que as decisões no tucanato sempre foram centralizadas. Antes, em Teotonio Vilela Filho, o ex-governador de Alagoas. Todavia, é fato que as decisões de Cunha, que tem o seu próprio projeto político, como já dito, incomodaram a velha-guarda do tucanato. Claudionior Araújo cita as destituições nos diretórios municipais, como ocorreu em Maceió, na disputa com Nelma, por exemplo. 

“O discurso da nova política, do novo ciclo, da renovação, ao menos aqui em Alagoas, é uma falácia: impera a desprezível prática do coronelismo mais antigo”, diz Claudionor Araújo, que se classifica como um “estranho no ninho”. É assim que um quadro histórico do PSDB, apesar de nos bastidores, deixa a legenda. Nessa briga, difícil saber quem tem razão. Afinal, política é poder. Porém, é possível observar que o PSDB vai se implodindo. Resta saber o que nascerá das ruínas...

O fato é que Cunha não é o único culpado. A exemplo do PSDB nacional, em Alagoas, o tucanato também não soube se renovar e trabalhar o xadrez político para sucessões quando estava no comando do poder. Basta lembrar que Teotonio Vilela Filho, ao deixar o Palácio República dos Palmares, apostou todas as fichas em Eduardo Tavares, que renunciou a candidatura, e acabou tendo que buscar um ex-vereador de Palmeira dos Índios, Júlio Cézar, para ser o tampão. Hoje, Júlio Cézar é prefeito daquela cidade pelo PSB, não sendo mais um quadro da legenda. Então, até o próprio Vilela já jogou algumas pás de terra no velório da sigla. 

Os tucanos e ex-tucanos já podem ser protagonistas da série The Walking Dead. Ninguém notará a diferença entre alguns deles e alguns figurantes na tela. 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..