A briga pelo poder em Maceió: todos os candidatos carregam suas contradições na atual disputa

22/10/2020 11:17 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Há algo nos atuais grupos políticos que disputam a Prefeitura de Maceió que é interessante de ser analisado: todos eles, entre separações e uniões, estiveram juntos em algum momento da recente história política do município e de Alagoas. Se, na atualidade, se vendem como diferentes, a sensação que fica – para quem tem memória – é de que são todos os grupos cheios de contradições e com algumas ligações entre si (unas mais frágeis, outras mais fortes).

Porém, isso alimenta uma sensação já descrita pelo romancista e ensaísta George Orwell: todos iguais, mas uns mais iguais que os outros. As eventuais alianças parecem muito mais obedecerem às conjunturas da luta pelo poder que necessariamente a projetos para a capital alagoana.

Entre os primeiros colocados nas pesquisas eleitorais, ninguém escapa disso ao se observar alguns acordos firmados. É o caso, por exemplo, o do próprio ex-chefe do Ministério Público e candidato à majoritária, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Mendonça já era cotado – nas eleições passadas – para ser candidato ao Senado Federal dentro de uma via que pregaria pela “independência”. Na época, não conseguiu viabilizar sua candidatura.

Agora, o nome de Alfredo Gaspar de Mendonça acabou por unir dois grupos políticos que “até ontem” eram rivais: o do prefeito Rui Palmeira (sem partido) e o do governador Renan Filho (MDB). O vice de Alfredo Gaspar, o líder do Podemos, Tácio Melo, já deu declarações duríssimas contra o atual governador e contra o senador Renan Calheiros (MDB). Mas, tudo isso parece ter ficado no passado. Assim, em uma contradição explícita, o candidato que se desenharia como “antissistema” acabou sendo o apoiado pelas duas máquinas públicas.

Inclusive, há declarações do próprio Alfredo Gaspar criticando a política hereditária em Alagoas: a que vai passando de pai para filho. Hoje, seus principais aliados – ainda que tenham marcas próprias em suas administrações (e possuem) – são frutos dessa política.

Na chapa encabeçada pelo deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB), não é diferente: o parlamentar já foi aliado de Rui Palmeira, na primeira gestão do prefeito, e rompeu porque decidiu disputar a Prefeitura de Maceió, quando foi derrotado ainda no primeiro turno. De lá para cá, constrói seu próprio grupo (pelo menos tenta) distante do Palácio República dos Palmares e do Executivo municipal. Todavia, tem como vice na chapa o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT).

É impossível não perceber que Lessa foi um vice “empurrado” por uma conjuntura nacional, na união entre PSB e PDT que visa a eleições presidenciais de 2022, formando uma base de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que apoie a candidatura – em futuro vindouro – de Ciro Gomes (PDT) para a presidência. Essa aliança se repete em várias outras cidades do país. Em Alagoas, JHC foge desse discurso e – acertadamente, do ponto de vista da estratégia política – tenta não polarizar a eleição com os conceitos de “direita” e “esquerda” e até já afirmou que terá uma boa relação com o governo federal.

Porém, Lessa – independente dessa conjuntura – já passeou pelos outros grupos políticos da disputa. Ronaldo Lessa foi aliado de Rui Palmeira e ocupou espaços na gestão municipal. Deixou o grupo por conta da matemática eleitoral para viabilizar sua eleição à Câmara dos Deputados. Não conseguiu se reeleger. Ocupou o cargo, por pouco tempo, de secretário de Agricultura na administração de Renan Filho e, logo depois, rompeu e anunciou sua própria candidatura a prefeito de Maceió. Por um entendimento de cima para baixo, acabou firmando a aliança com JHC.

Os grupos que disputam o poder hoje possuem pontos, na linha do tempo, onde se encontram.

No grupo de Davi Davino Filho (Progressistas), há o mesmo. Exemplo: o candidato do Progressistas recebe o apoio do Democratas, que é liderado por José Thomaz Nonô, que é secretário de Saúde da gestão de Rui Palmeira, que apoia Alfredo Gaspar. Em 2019, segundo a imprensa, o próprio Davi Davino manteve diálogos com o MDB. O cenário era o seguinte: ainda não se sabia de qual lado estaria Alfredo Gaspar, e no Progressistas, o candidato poderia ser o atual vice-prefeito Marcelo Palmeira, que hoje é candidato a vereador pelo PSC, já que o seu antigo partido foi para outra aliança que não a sua.

Em entrevista, em janeiro desse ano, à Gazetaweb, Davi Davino Filho disse que estava com porta aberta para o diálogo com Rui Palmeira. Afinal, o Progressistas era parte da gestão do prefeito de Maceió, que tinha como um dos principais aliados o ex-senador Benedito de Lira (Progressistas), que lidera – ao lado do deputado federal Arthur Lira (Progressistas) – o partido do candidato Davi Davino Filho.

Nem Cícero Almeida – candidato pelo Democracia Cristã – escapa disso. Logo, pode ser cobrado por suas próprias declarações recentes que contém sinais de contradição. Almeida é campeão de passagens por partidos políticos. Já esteve no Progressistas, no MDB, no PDT, no PRTB, dentre outros. Agora, no Democracia Cristã tem como aliado principal o deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB), que foi quem indicou sua vice.

Em recente declaração, numa sabatina promovida pelas Organizações Arnon de Mello, Almeida chegou a dizer que, na época em que foi prefeito, só teve o apoio do ex-senador Benedito de Lira. Todavia, Almeida já fez elogios públicos ao senador Renan Calheiros (MDB), chegando – nas eleições passadas – a ser candidato pelo MDB com o apoio do senador e do governador Renan Filho. Em 2014, falou da fidelidade a Calheiros e ao senador Fernando Collor de Mello (PROS).

O PT e o PCdoB – que também possuem candidatos; Ricardo Barbosa e Cícero Filho respectivamente – ocupam espaços dentro da administração de Renan Filho. O PCdoB até tem relações estreitas, no passado, com o senador Fernando Collor de Mello e já lançou candidato ao Senado Federal ao lado de Renan Calheiros, na disputa pelas duas vagas. Sempre foi pública a influência do MDB de Calheiros dentro do PT de Alagoas, inclusive quando – no tapetão – conseguiu excluir o ex-petista José Pinto de Luna da disputa pelo Senado, facilitando ali o seu caminho. Na época, Luna aparecia com uma forte densidade eleitoral por conta de ter comandado a Operação Taturana que atingiu em cheio a Assembleia Legislativa.

Corintho Campelo (PMN) também tem um histórico de ligações políticas com o PDT de Ronaldo Lessa, que hoje é vice de JHC. Ele saiu do partido porque não conseguiu consolidar sua candidatura à Prefeitura Municipal de Maceió por lá.

A candidata do PSOL, Valéria Correia, era reitora da Universidade Federal de Alagoas. Portanto, um nome novo na disputa eleitoral. Todavia, seu partido é daquela base que defendia as atrocidades do PT, que sempre teve as ligações políticas em nome das ideologias do socialismo e de seu projeto de manutenção de poder, que fazia do PSOL, PCdoB e outros apenas partidos satélites. Com o declínio do PT, as esquerdas agora tentam busca outra sigla que puxe o protagonismo.

Josan Leite – candidato hoje pelo Patriotas e que tenta colocar a sua imagem ao presidente Jair Bolsonaro – já foi do PSL quando esse sofria a transformação prometida pelo “Livres”. Nas eleições municipais passadas, dentro desse contexto, seu partido indicou o vice de JHC: o médico Henrique Arruda. Em 2018, quando o Livres saiu do PSL, Josan Leite permaneceu. Diga-se de passagem: ele sempre teve um perfil de direita. Nisso, não há contradição. Leite então foi candidato ao governo em uma chapa-puro sangue. Agora, como já dito, ele disputa a Prefeitura pelo Patriotas.

Evidentemente, muitas dessas contradições fazem parte de conjunturas de épocas, mas não deixam de ser pontos que geram indagações na cabeça do eleitor ao ponto de se indagar sobre qual é realmente a diferença entre eles. Lógico, os candidatos não são iguais e os espectros políticos fazem sim diferença. Uns estão mais à esquerda e outros estão mais para liberais ou até mesmo conservadores. Todavia, é impossível não perceber o que aconteceu no verão passado…

E aí, é natural uma parcela dos eleitores olhar para a disposição das candidaturas e pensar: parece mais do mesmo. É porque parece mesmo!

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