Arthur Lira enxerga em situação de Luciano Barbosa favorecimento aos Progressistas em 2022

15/10/2020 11:29 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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As eleições de 2020 é um laboratório para o pleito de 2022. Isso é inegável. Hoje, como o xadrez político se encontra, a disputa pelo Palácio República dos Palmares – ocupado pelo governador Renan Filho (MDB) – se faz em dois grupos: o primeiro é liderado pelo senador Renan Calheiros (MDB) e tentará construir o sucessor de Renan Filho, com esse podendo ser candidato ao Senado Federal. O segundo grupo é liderado pelo deputado federal Arthur Lira (Progressistas).

O Progressistas já teve um embate com Renan Filho na primeira eleição do emedebista ao governo, quando o ex-senador Benedito de Lira (Progressistas) foi derrotado. Na reeleição de Renan Filho, a disputa se fez presente, mas não era direta: Arthur Lira e Benedito de Lira foram os articuladores de uma chapa opositora que tinha o senador Fernando Collor de Mello (PROS), como candidato ao governo.

Collor desistiu da disputa e foi substituído pelo ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna (Podemos). A reeleição foi um “passeio” para Renan Filho. Além disso, Renan Calheiros saiu vitorioso e o ex-senador Benedito de Lira perdeu a eleição. Hoje, Benedito de Lira tenta ser prefeito da Barra de São Miguel.

Na disputa vindoura, o grupo de Arthur Lira tenta se estruturar para disputar o governo estadual. Nos bastidores, se cogita inclusive uma candidatura do próprio Lira ao Executivo. Em entrevista recente à jornalista, Vanessa Alencar, o parlamentar – que é um dos líderes do Centrão em Brasília (DF) – nega.

Porém, nessa mesma entrevista, Arthur Lira não esconde – ainda que isso apareça nas entrelinhas – a satisfação de observar de camarote a briga entre o senador Renan Calheiros (MDB) e o vice-governador Luciano Barbosa (MDB), que se lançou candidato à Prefeitura Municipal de Arapiraca. Para o Progressistas, nesse momento, pouco importa se Barbosa vai se eleger ou não, se conseguirá manter a candidatura ou não.

 

O fato relevante é a fratura no MDB, pois Luciano Barbosa – quer ganhe, quer perca a eleição em Arapiraca ou não consiga sustentar a candidatura – será escanteado pelo partido (quiça, expulso).

 

Diante disso, os dois cenários futuros possíveis são: 1) eleito prefeito, abre a vacância. Renan Filho sendo candidato ao Senado Federal, o governo ficará nas mãos do deputado estadual Marcelo Victor (Solidariedade), que é próximo a Arthur Lira. Então mesmo em eleição indireta, esse grupo – pela forma como Marcelo Victor domina a Assembleia Legislativa – terá o Palácio República dos Palmares nas mãos; 2) caso Barbosa não seja eleito, se Renan Filho sai para disputar a eleição, ele estará no comando do Palácio e rompido com os Calheiros. Consequentemente, pode ser uma peça política no grupo dos Progressistas.

 

O grupo de Lira pode – em duas possibilidades – disputar o governo estadual com a máquina nas mãos.

 

Arthur Lira sabe disso. Tanto que diz, na entrevista à jornalista, que “o efeito” da candidatura de Luciano Barbosa “e a possível vacância do cargo de vice-governador interessa mais a um grupo e menos a outro, porque se o governador se afastar para disputar o cargo de senador, por exemplo, em 2022, é a Assembleia Legislativa que terá que eleger um vice-governador tampão”.

 

O deputado federal sabe que o parlamento estadual elegerá quem Marcelo Victor quiser. O presidente da Casa de Tavares Bastos comanda muito bem os seus aliados dentro da Assembleia Legislativa. A outra possibilidade é a aproximação entre Lira e Barbosa. Arthur Lira nega que essa já tenha se iniciado: “nunca tive uma conversa política, nem por telefone, com Luciano”.

 

Porém, raposa política que é, Arthur Lira já opina pela viabilidade da candidatura de Luciano Barbosa, afirmando que esse é “elegível”. Ele até compara a situação do MDB de Arapiraca com a vivenciada pelo Progressistas naquele município. O partido tem candidato - o deputado estadual Tarcizo Freire – mas apoia a candidata Fabiana Pessoa (Republicanos). Lira diz que, diferente do MDB, não vai interferir no diretório municipal.

 

“Eu não sou influenciador em Arapiraca, embora tenha sido o deputado que mais colocou recursos em Arapiraca em toda sua história, sem ter sido nunca o deputado federal mais votado em Arapiraca”, frisa em entrevista. É o famoso tapa com luva de pelica.

 

A base para a eleição de 2022 será disputada agora, com PP e MDB lutando por prefeituras municipais. Inclusive, um dos grupos políticos importantes nesse momento é o da família Pereira – liderado pelo prefeito Joãozinho Pereira e pela deputada estadual Jó Pereira – que tem ligações fortes tanto com o PP de Arthur Lira quanto com o MDB do senador Renan Calheiros, como ocorre em São Miguel dos Campos, quando o candidato Fernando Pereira leva para seu palanque os Calheiros, os Liras e até o senador Rodrigo Cunha (PSDB).

 

Os Pereiras devem também se fortalecer para 2022 e assim se credenciarem para ter candidato ao governo estadual e/ou ao Senado Federal. Porém, como não há “candidatura de si mesmo”, esses espaços serão negociados. O Progressistas, assim como o MDB, tem candidatos em praticamente todos os municípios, seja pelos próprios partido ou por siglas aliadas. Os Pereiras podem fazer diferença.


Arthur Lira tenta – na entrevista – retirar o caráter pessoal da disputa entre MDB e Progressistas. Mas, há mais de personalismo do que de diferença de projetos entre os grupos. É briga por poder. Então, quando o deputado federal diz que “Alagoas é do povo...”, é sempre bom dá um desconto. Desde que o mundo é mundo, o poder político em Alagoas é disputado pelos feudos (os passados e os modernos). Não é diferente agora e, do jeito que a coisa ainda, não será diferente em 2022.


A diferença entre o lirismo e o calheirismo tende a ser só o sobrenome.


Sobre a candidatura ao governo estadual – como dito anteriormente – Arthur Lira nega a pretensão, mas não fecha a porta: “ (…) não desejo e nem faz parte da minha vontade disputar uma eleição majoritária de governo em Alagoas, mas é lógico que às vezes você não é dono da sua vontade. Minha programação é seguir como está, cumprir meu papel em Brasília, agora, muitas vezes essas questões extrapolam, né? Vamos ver, futuro é futuro”.


Tem razão Arthur Lira: futuro é futuro. Porém, tão enxadrista quanto o rival Renan Calheiros, Arthur Lira sabe muito bem que o futuro da turma começa a ser construído agora. Aliás, começou desde antes… e uma disputa entre biografias cheias de pontos semelhantes.

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